Texto Base: Efésios 3:1-13
31/05/2020
“o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
Efésios 3:
1.Por esta causa, eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios,
2.se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada;
3.como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima, em pouco, vos escrevi,
4.pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo,
5.o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas,
6.a saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho;
7.do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder.
8.A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo
9.e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou;
10.para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,
11.segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor,
12.no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele.
13.Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do “mistério da unidade revelado”, que esteve oculto às gerações antes de Cristo, inclusive ao povo de Deus da Antiga Aliança. Esse mistério dantes guardado no coração de Deus, fora revelado no Novo Testamento. A verdade sublime que compõe o tema da Epístola aos Efésios é o anúncio de que os crentes, tanto judeus como gentios, formam agora uma unidade em Cristo Jesus; são membros lado a lado do mesmo Corpo de Cristo, a Igreja. No presente momento estão assentados em Cristo nos lugares celestiais; no futuro, vão compartilhar da Sua glória como Cabeça de todas as coisas.
I. O MISTÉRIO OCULTO NO ANTIGO TESTAMENTO
Vimos no capítulo 2 de Efésios, a exposição de Paulo acerca do estado de perdição e condenação em que se encontrava o ser humano: escravos da carne, do mundo e do diabo. Ele revelou, ainda, a triste situação dos gentios: separados de Deus e separados de Israel. E, ainda mais, mostrou como ambos, judeus e gentios, foram reconciliados para formar um só povo.
Agora, no capítulo 3, Paulo vai falar sobre o maior mistério de Deus na história. E é por causa desse mistério que ele está preso. O rev. Hernandes Dias Lopes, citando Martyn Lloyd-Jones, diz que o que realmente pôs Paulo na prisão foi ele pregar por toda parte que o evangelho de Jesus Cristo era tanto para judeus como para gentios. Foi isso que, mais que qualquer outra coisa, enfureceu os judeus. Foi esse estilo de mensagem que culminou em sua prisão em Jerusalém e seu subsequente envio a Roma. Os crentes de Éfeso podiam perguntar: por que Paulo está preso em Roma? Por que Deus permitiu essas coisas a um homem de Deus? Paulo explica que está preso pela causa dos gentios; ele está preso por pregar que os gentios foram reconciliados com Deus e reconciliados com os judeus para formar um só corpo em Cristo; este era o grande mistério, que esteve não plenamente claro no Antigo Testamento.
1. O conceito bíblico de mistério
Paulo emprega três vezes a palavra “mistério” no capítulo 3 de Efésios (vv.3,4,9). Esta palavra, no grego (mysterion), tem um sentido diferente daquele entendido na língua portuguesa. As palavras em português e em grego não têm o mesmo sentido. Em português, ela quer dizer algo obscuro, oculto, secreto, enigmático, inexplicável, até mesmo incompreensível. No grego, quer dizer uma verdade que esteve oculta ao conhecimento ou entendimento dos homens, mas que, agora, foi desvendada pela revelação de Deus (Ef.3:3). Paulo chama esse mistério de "o mistério de Cristo" (Ef.3:4). Esta é uma verdade revelada que Paulo não descobriu por pesquisa nem informação do homem, mas por revelação divina (Ef.3:3). Este mistério, dantes não claramente compreendido (Ef.3:5), há mais de dois mil anos é conhecido como a mais impressionante verdade em benefício de toda a humanidade (1Tm2:3,4) – “Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”.
2. O desconhecimento do mistério
“o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
É fato: o mistério - a nova comunidade universal, formada por judeus e gentios, detentora das mesmas promessas, herança e destino - “noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens”. Por isso é inútil procurá-lo no Antigo Testamento. Ali pode haver tipos e sombras dele (Gn.12:3; 22:18; Is.11:10; 49:6; 54:1-3; 60:1-3; Ml.1:11), mas a verdade em si não era conhecida naquele tempo. Isto não era porque Deus quisesse esconder alguma coisa de seu povo, mas porque sua intenção era revelá-lo somente no momento apropriado, de acordo com o decreto de Deus, para que Sua vontade fosse cumprida (Gl.4:4; 1Pd.1:20). Sabia-se, pelo Antigo Testamento, que os gentios receberiam a salvação (Is.49:6), mas nunca havia sido revelado no Antigo Testamento que todos os gentios e judeus se tornariam iguais no corpo de Cristo. Nos refolhos da eternidade (Ef.1:4), Deus planejou que judeus e gentios formariam um único Corpo, a Igreja; no entanto, essa igualdade foi alcançada quando Jesus destruiu a “parede da separação”, e de judeus e gentios criou um só Corpo com Deus (Ef.2:14,15), como estudamos na Aula 07.
3. O mistério e os profetas da Antiga Aliança
“pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:4,5).
O povo de Deus da Antiga Aliança, Israel, ocupava um lugar privilegiado perante Deus. Eles consideravam que todas as promessas de Deus eram dirigidas exclusivamente a eles. Afirmar que um gentio tinha direitos iguais aos judeus nas promessas de Deus faria um israelita rir, pois isso não tinha o mínimo de verdade na cosmovisão deles. Os profetas da Antiga Aliança falavam que os gentios receberiam a salvação (Is.49:6; 56:6,7), mas nunca pregaram que gentios e judeus se tornariam iguais numa nova comunidade universal - que o Novo Testamento denomina de Corpo de Cristo -, “coerdeiros e participantes da promessa em Cristo” (Ef.3:6); de forma alguma afirmaram que os gentios seriam membros de um Corpo no qual os judeus não teriam primazia. O apóstolo Paulo dá ênfase a esta verdade quando afirma claramente aos cristãos colossenses que o mistério “estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Cl.1:26).
-Pela Bíblia Sagrada sabemos que a chamada de Israel foi principalmente (mas não exclusivamente) para receber bênçãos temporais (Dt.28; Am.9:13-15); a chamada da igreja - formada de judeus e gentios – é, principalmente, para receber bênçãos espirituais nos lugares celestiais (Ef.1:3).
-Israel foi chamado para ser o povo escolhido de Deus sobre a terra; a Igreja é chamada para ser a Noiva celestial de Cristo (Ap.21:2,9).
-No reino vindouro do nosso Senhor, Israel será a cabeça das nações (Is.60:12); os gentios serão abençoados, porém, só através de Israel (Is.60:3; 61:6; Zc.8:23).
-No Milênio, Israel será abençoado no reino de Cristo (Os.3:5; a Igreja reinará com Cristo sobre o universo inteiro, desfrutando da sua glória (Ef.1:22,23).
Por isso é evidente que a Igreja não é Israel ou o reino; trata-se de uma nova sociedade, um grupo especial e o mais privilegiado corpo de crentes que encontramos nas Escrituras Sagradas.
A Igreja se formou depois da ascensão de Cristo, quando o Espírito Santo foi dado (Atos 2), por ocasião do batismo no Espírito Santo (1Co.12:13); será completada quando Cristo voltar, quando todos os que pertencem a Ele serão levados para o lar celestial (1Ts.4:13-18; 1Co.15:23,51-58).
Esse é o grande mistério que os escritores do Antigo Testamento não imaginava que iria acontecer, e que nós, Igreja do Senhor Jesus Cristo, tem o privilégio de saber e contemplar isso bem de perto.
II. O MISTÉRIO REVELADO NO NOVO TESTAMENTO
O mistério estava oculto ao povo de Deus da Antiga Aliança, mas, agora, revelado, primeiramente aos apóstolos e profetas do Novo Testamento. Que mistério este que Paulo dá tanta ênfase em sua Epístola? “Que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef.3:6).
1. Revelado aos apóstolos e profetas
O “mistério” que esteve oculto no Antigo Testamento foi revelado por Deus aos apóstolos e profetas - “o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
O mistério divino não poderia ser desvendado por meio do raciocínio intelectual; desta feita, o Espírito Santo foi o canal pelo qual estes santos do Novo Testamento receberam a revelação do mistério (Atos 11:4-17,27). Portanto, o mistério foi dado a conhecer por meio da “revelação divina” e não por sabedoria humana (1Co.2:4).
Enfatizo que os “apóstolos e profetas” aqui mencionados são os do Novo Testamento e não os do Antigo Testamento; caso contrário, Efésios 3:5 seria contraditório. A primeira parte diz que o mistério “noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens”. Por isso não era conhecido dos profetas do Antigo Testamento. Sendo assim, como poderia se tornar conhecido nos tempos de Paulo por homens que já tinham morridos há séculos?
O sentido óbvio é que essa grande verdade acerca de Cristo e sua Igreja – formada por gentios e judeus - foi dada a conhecer a homens como Paulo, da Nova Aliança, que foram designados pelo Senhor ressurreto a fim de servirem como porta-vozes. Paulo não disse que era o único a quem esse segredo foi revelado; ele era um dos muitos, embora fosse mais adiantado na transmissão dessa verdade aos gentios do seu tempo e, por meio das epístolas, às gerações que se seguiram.
Nas Palavras de William Macdonald, “há muitos cristãos que mantém um ponto de vista muito diferente do exposto acima; dizem que a Igreja já existia no Antigo Testamento, que nessa época a Igreja era Israel, mas que agora a sua verdade tem sido revelada mais amplamente. Dizem que noutros tempos 'o mistério não era conhecido como hoje; era conhecido, mas não tão bem como agora. Temos uma revelação mais ampla, mas ainda somos o Israel de Deus, ou seja, uma continuação do povo de Deus'. A fim de apoiar seu argumento, apontam para Atos 7:38 na versão BJ, onde a nação de Israel é chamada de “assembleia do deserto”, ao passo que nas versões RA, RC, NVI e CF Israel é chamado de “a congregação no deserto”. É verdade que o povo escolhido de Deus é chamado de congregação no deserto; porém, isso não quer dizer que existe alguma ligação entre ele e a Igreja cristã. Afinal de contas, a palavra grega “eklesia” é um termo geral que descreve qualquer assembleia; é utilizada para descrever o povo de Israel em Atos 7:38, mas também é usada em Atos 19:32,41 para se referir a uma multidão de gentios. É pelo contexto que podemos determinar o tipo de assembleia ou congregação de que trata a passagem”.
O que dizer, porém, diante do argumento que diz que Efésios 3:5 se refere à Igreja que existia no Antigo Testamento, mas não plenamente revelada como agora? A resposta se encontra em Colossenses 1:26, que diz claramente que o mistério “estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. Não se trata aqui do grau de revelação, mas sim de sua existência.
2. O mistério oculto revelado
Qual o mistério revelado ou o segredo particularmente aberto, que “não foi dada a conhecer aos homens doutras gerações”, mas “agora foi revelado pelo Espírito Santo aos santos apóstolos e profetas de Deus" (Ef.3:5)? A resposta está em Efésios 3:6: "que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”.
Na Igreja do Senhor Jesus Cristo os crentes gentios são coerdeiros, membros em comum e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Em outras palavras, os gentios convertidos já desfrutam do título e dos privilégios dos judeus convertidos.
Portanto, a Igreja era o grande mistério de Deus guardado no Seu coração amoroso, que foi revelado pelo Espírito Santo (Ef.3:2,3) no Novo Testamento; e o mistério era que Deus, por meio de Cristo, faria com que todos os povos do mundo inteiro fossem unidos num só Corpo, formando a Igreja do Senhor. Assim, judeus e gentios podem agora ser chamados de irmãos em Cristo (Ef.3:6), porquanto “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28).
Observe que o apóstolo Paulo usa três expressões compostas e paralelas que indica aquilo que os crentes gentios agora têm e são, em conjunto com os crentes judeus, a saber:
· “Coerdeiros”. Quanto à herança, coparticipam igualmente com os judeus que são salvos. São herdeiros de Deus, coerdeiros com Cristo Jesus e coerdeiros com todos os redimidos.
· Membros do “mesmo corpo". Antes, separados por uma parede, a parede da inimizade (Ef.2:14); agora, judeus e gentios são membros em comum, unidos como família de Deus e Corpo de Cristo (Ef.2:11-22; 3:6).
· “Participantes da promessa”. São coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. A promessa aqui pode ser o Espírito Santo (Atos 15:8; Gl.3:14), mas também pode abranger tudo o que é prometido no evangelho aos que estão em Cristo Jesus. Os gentios são participantes de tudo isso com os judeus.
Resumindo, podemos dizer que o mistério de Cristo é a união completa entre judeus e gentios por meio da união de ambos com Cristo. É essa dupla união, com Cristo e entre eles, a essência do mistério. Deus revelara esse mistério a Paulo (Ef.3:3), aos santos apóstolos e profetas (Ef.3:5) e aos seus santos (Cl.1:26). Agora, portanto, esse mistério é uma possessão comum da Igreja do Senhor Jesus Cristo.
3. A magnitude do mistério
No Antigo Testamento havia claramente a seguinte promessa: que todas as famílias da terra seriam abençoadas por meio da descendência de Abraão; que o Messias receberia as nações como sua herança; que Israel seria dado como uma luz para as nações e que, um dia, as nações fariam uma peregrinação para Jerusalém, e até mesmo correriam para lá como um poderoso rio (Gn.12:1-3; Sl.2:8; Is.2:2-4,42:6,49:6). Jesus também falou da inclusão dos gentios e comissionou seus seguidores para que fossem e fizessem deles seus discípulos.
Todavia, o que nem o Antigo Testamento nem Jesus revelaram declaradamente foi a natureza radical do plano de Deus, a saber, que judeus e gentios seriam incorporados a Cristo e à Igreja dEle, em iguais condições, sem distinções. Até mesmo alguns líderes do início da Igreja demoraram a entender esse mistério onde todos são aceitos em Cristo (cf. Atos 11:4-17). Na verdade, essa união completa de judeus, gentios e Cristo, que Deus revelou aos apóstolos, a Paulo e aos profetas, era radicalmente novo.
Esse mistério foi revelado aos apóstolos e profetas do Novo Testamento, mas o anúncio dessa verdade revelada recai sobre a responsabilidade da Igreja, para que “a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida” (Ef.3:10). A Igreja é a principal agência divina de divulgação desse “mistério” a fim de unir todos os homens em um só povo por meio de Cristo.
III. O MISTÉRIO PRÉ-ESTABELECIDO
Deus conhece todas as coisas; Ele é Onisciente. Ele sabia que o ser humano ia cair, mas a Queda do ser humano não decepcionaria o plano de estabelecer para Si um povo todo especial, a Igreja, formado por pessoas de qualquer lugar do planeta; isto estava na sua mente desde os tempos eternos (Ef.1:4). Portanto, o mistério agora revelado não surgiu após o pecado de Adão e Eva, não; desde a eternidade o Senhor pré-estabeleceu um plano para ser executado na “plenitude dos tempos” (Gl.4:4). Essa verdade nos ensina que por trás de todo o evento da história existe um propósito eterno em andamento. Deus é soberano e controla todas as eras, tempos e circunstâncias.
Esse mistério, isto é, a união completa entre judeus, gentios e Cristo, Deus a revelou a Paulo. Ele considerava-se privilegiado de entender isto e ser chamado para manifestar o evangelho a todos.
1. As riquezas insondáveis de Cristo
“A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef.3:8).
-“Riquezas insondáveis de Cristo”. Aqui, esta expressão é muito preciosa e profunda. Ela refere-se às maravilhas e a providência divina que estão além do entendimento humano (Ef.1:7); ela nos leva a pensar com meditação quão rico é o Cristo que experimentamos e conhecemos.
Que “riquezas” são essas que Paulo teve o privilégio de pregar? A ressurreição da morte do pecado; a libertação da escravidão da carne, do mundo e do diabo; a entronização vitoriosa com Cristo nas regiões celestiais; a reconciliação com Deus; a reconciliação uns com os outros - o fim da hostilidade, a derrubada do muro da inimizade; o ingresso na família de Deus; a herança gloriosa em Cristo no novo céu e na nova terra.
Era este o conteúdo do evangelho que Paulo pregava – “me foi dada esta graça de pregar”. Para ele, compartilhar com os povos essas boas novas, proclamar que essas dádivas foram projetadas desde a eternidade, sendo livremente concedidas aos homens por meio de Cristo (Ef.1:4; 2:16), era algo imensurável (Ef.3:18,19).
Conquanto tivesse o privilégio de ter recebido a revelação do mistério de Deus, agora revelado, ele se considerava “o menor de todos os santos”. Ele achava que a grandeza e alcance dos mistérios de Cristo eram maiores do que ele podia compreender. Paulo sabia quão insondáveis eram essas riquezas espirituais; era algo que superava qualquer conhecimento humano.
Tudo que se refere à gloria de Cristo, sua divindade, sua glória moral, e sua glória meritória na cruz do Calvário tem um valor incalculável. O privilégio de Paulo era pregar, aos gentios, o Cristo como Salvador e declará-los incluídos como participantes das bênçãos de Cristo (cf. Atos 9:15; 22:21; 26:17; Rm.11:13; 15:16-20; Gl.2:7-9).
Sem dúvida, as riquezas de Cristo são insondáveis! Por mais que O conheçamos, sempre haverá novos aspectos dEle a serem conhecidos e experimentados. Paulo conhecia o Senhor Jesus bem de perto e de forma especial. Podemos dizer que O conhecemos profundamente ou nosso conhecimento dEle é superficial e insuficiente? Portanto, devemos almejar atender ao rogo do profeta Oséias: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer o Senhor"(Os.6:3).
2. O eterno propósito em Cristo
“para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef.3:11).
Em sua presciência, Deus Pai estabeleceu o tempo da revelação do mistério da salvação através de Jesus Cristo. Esse mistério esteve oculto em Deus desde os séculos (Ef.3:9), mas foi manifestado aos seus santos apóstolos e profetas, e a nós também, nestes últimos tempos (1Pd.1:20). O “mistério” em si, sua ocultação, sua eventual revelação e o modo como exibe a sabedoria de Deus são realidades que ocorreram “segundo o eterno propósito que [Ele] fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef.3:11).
Antes que fosse formado o mundo, Deus soube que Satanás haveria de cair e que o homem o seguiria no pecado. Assim, de antemão, Deus preparou uma estratégia para combatê-lo, um plano-mestre. Esse plano se concretizou na encarnação, morte, ressurreição, ascensão e glorificação de Cristo. O programa todo foi centrado em Cristo e se realizou por meio dEle. Agora Deus pode salvar os injustos, tanto judeus como gentios, e fazer deles membros do Corpo de Cristo, confirmando-os à imagem do seu Filho e dando-lhes honra especial durante toda a eternidade como a Noiva do Cordeiro.
Efésios 3:10 declara que “agora” a Igreja se constitui na proclamadora da revelação, o que indica que ela sempre fez parte do plano divino. Portanto, a Igreja não foi uma obra acidental de Deus, ela foi criada antes de todos os tempos, fundada na cruz, inaugurada no Pentecostes e manifestada através dos apóstolos e profetas. Outrossim, essa revelação não ficava restrita aos homens, pois diz o citado texto, que também os anjos (“principados e potestades”) teriam conhecimento dessa revelação através da Igreja.
3. O plano divinamente pré-estabelecido
Nos refolhos da eternidade Deus estabelecera o “mistério revelado”, ou seja, a formação de uma nova humanidade, a união completa de judeus com gentios, por meio de Cristo. Portanto, o pecado de Adão não pegou Deus de surpresa. Deus não ficou “roendo as unhas” com medo de o homem estragar tudo no Éden. Não. Deus planejou a nossa salvação antes mesmo de lançar os fundamentos da terra. Antes que houvesse céu e terra, Deus já havia decidido nos escolher em Cristo para a salvação. Ele nos escolheu antes dos tempos eternos (2Tm.1:9); Ele nos escolheu desde o princípio para a salvação (2Ts.2:13); Ele nos escolheu antes da fundação do mundo (Ef.1:4).
Como resultado da obra de Cristo e da nossa união com Ele, temos agora o indizível privilégio de poder entrar na presença de Deus a qualquer hora e com a confiança de que seremos ouvidos sem sermos censurados (Tg.1:5). Afirma o apóstolo Paulo: “no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele” (Ef.3:12).
-A palavra “ousadia” sugere uma atitude respeitosa, mas sem medo, atitude igual a de uma criança que quer falar com seu pai.
-A palavra “acesso” aponta para o fato de que tanto judeus como gentios têm acesso ao Pai em um Espírito; temos a liberdade de falar com Deus em oração.
-Pela palavra “confiança” compreende-se a certeza que temos de ser sempre bem-vindos, de ser ouvidos e de receber uma sábia e amorosa resposta.
-Temos tudo isso “pela nossa fé nEle”, isto é, nossa fé no Senhor Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Este foi o eterno plano de Deus: criar a Igreja a partir de uma humanidade nova e reconciliada em união com Jesus Cristo (Ef.3:11). Isso estava oculto no passado e, então, se cumpriu na história, na cruz, com resultados para a eternidade. Por causa disso, não ousamos desconsiderar a Igreja na história da humanidade; ela ocupa lugar central na história, a história de Deus formando um povo para Si mesmo para reinar eternamente com Ele. Que assim seja!