SISTEMA DE RÁDIO

  Sempre insista, nunca desista. A vitória é nosso em nome de Jesus!  

JÓ E A REALIDADE DE SATANÁS

 


Texto Base: Jó 1:6-12; 2:4,5
“E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles” (Jó 1:6).

Jó 1:

6.E vindo um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.

7.Então, o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela.

8.E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal.

9.Então, respondeu Satanás ao SENHOR e disse: Porventura, teme Jó a Deus debalde?

10.Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra.

11Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face!

12.E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.

Jó 2:

4.Então, Satanás respondeu ao SENHOR e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.

5.Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de ti na tua face!

INTRODUÇÃO

Trataremos nesta Aula de “Jó e a realidade de Satanás”; abordaremos algumas questões relativas à existência e à realidade de Satanás a partir do contexto de Jó. É bom ressaltar que Satanás não é um mito, ou uma figura de ficção; ele é um ser real, um anjo caído, poderoso, que se rebelou contra Deus, e cuja missão principal é acusar os santos diante do Senhor. O Livro de Jó revela com clareza a realidade de Satanás. Ele tem agido de forma deletéria no mundo, mas ele não é maior que Deus, nem muito menos exerce ação autônoma; suas ações estão submetidas à soberania de Deus. No começo do relato da história de Jó, quando os anjos (tanto os caídos quanto os santos anjos) compareceram perante Deus, perguntou o Senhor a Satanás: “Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela” (Jó 1:7). À medida que acompanhamos o desenrolar do diálogo entre Deus e Satanás, descobrimos que, apesar de o diabo ter poder para investir contra a vida de seres humanos, isso não quer dizer, necessariamente, que ele possa fazê-lo quando bem entender. Satanás precisa da permissão de Deus para provocar calamidades na vida de um ser humano.

I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS

A Bíblia diz que Satanás é o maioral dos demônios (Mt.12:24; 25:41). No princípio, Deus criou o querubim ungido, perfeito em sabedoria e formosura, o qual era o selo da simetria (Ez.28:12-15). Ele se rebelou contra Deus e foi expulso do céu (Is.14:12-15). Com sua queda, saíram com ele os anjos que aderiram à rebelião, e uma parte deles continua em prisão (2Pd.2:4; Jd.6). Apesar da pura realidade bíblica sobre os demônios não se deve fazer apologia dos seus hábitos. Há segmentos chamados evangélicos que falam mais no Diabo do que anunciam Jesus; pregam mais sobre exorcismo do que arrependimento; vivem caçando demônios, neurotizados pelo chamado movimento de batalha espiritual. Isso não deve acontecer numa Igreja genuinamente cristã.

1. Um ser espiritual

Satanás é uma criatura espiritual e invisível aos seres humanos, e encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão “os filhos de Deus” (Jó 1:6). Ele é um ser sobrenatural e, como os humanos, possui natureza racional. Ele é "o maligno" (Mt.13:19), que se opõe a Deus e à sua criação. Sendo ele nosso inimigo, quer nos derrubar(1Pd.5:8, João 8:44). Sendo ele o pai da mentira, lança dúvidas a respeito da Palavra de Deus. A Bíblia diz que devemos resisti-lo e assim ele fugirá de nós (Tg.4:7).

2. Um ser criado

Satanás não é auto-existente, ele é uma criatura como os seres humanos são. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem; suas ações são limitadas por Deus. Ele pode fazer coisas extraordinárias dentro do orbe da malignidade, porém, dentro do espectro de tolerância dada por Deus (Jó 1:12; 2:7). Apesar de ser maligno, nem sempre foi assim; por isso, ele é considerado um anjo caído. A Bíblia fala acerca dos anjos que pecaram contra o Criador e não guardaram a sua dignidade (2Pd.2:4; Jd.6; Jó 4:18-21) – “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo” (2Pd.2:4).

Deus criou o querubim ungido, um anjo perfeito em sabedoria e formosura (Ez.28:12-15). Ele havia sido estabelecido para glorificar a Deus e “chefiar” essa glorificação. Mas o querubim ungido quis situar-se acima do trono do Altíssimo, quis ser glorificado e não glorificar a seu Deus e Criador, o que representava um desvio, uma distorção do fim instituído pelo Senhor e, por isso, pecou. Por causa de sua rebelião, foi expulso do Céu (Is.14:12-15), e saíram com ele milhares de anjos que aderiram à rebelião, e uma parte deles continua em prisão (2Pd.2:4; Jd.6).

3. Um ser dotado de personalidade

Além de ser uma criatura espiritual, Satanás é dotado de personalidade; ele é uma pessoa, que tem consciência, entendimento e vontade.

·         Ele é dotado de consciência. No episódio da criação, é dito que os anjos cantavam e rejubilavam, ou seja, demonstraram ter noção do que estava a acontecer e louvavam a Deus. Isto só é possível para seres que têm consciência de si mesmos e consciência de quem é Deus a ponto de reconhecerem Sua soberania e Sua dignidade para ser adorado. No Livro de Jó vemos Satanás, de forma consciente, assumindo atributos de um ser pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1:9-11). Essa mesma característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt.4:1-11; Lc.4:1-13).

·         Ele é dotado de entendimento. Satanás sabe quem ele é, o que faz e o que está acontecendo. No livro de Jó, além de expressar-se verbalmente, Satanás demonstrou possuir entendimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se comportam as pessoas. Ele conhecia a vida de Jó; isso faz dele um ser perspicaz. Ele usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó.

·         Ele é dotado de vontade. Assim como os homens, os anjos foram criados com o livre-arbítrio, ou seja, com o poder de escolher entre servir a Deus ou não. Tanto é assim que o “querubim ungido” escolheu o mal, quis ocupar o lugar de Deus e, por isso, pecou, tendo sido achado iniquidade nele, a ponto de ter perdido toda a glória que possuía nesse lugar de proeminência diante do Senhor (Is.14:12-16; Ez.28:12-19). Isto só foi possível porque os anjos são dotados de livre-arbítrio. Entretanto, para os anjos, este livre-arbítrio só pode ser exercido uma única vez, visto que os anjos estão na dimensão celestial, onde não existe o tempo e, portanto, o arrependimento se torna impossível. Tendo feito a sua escolha, quando do pecado do “querubim ungido”, os seres angelicais a fizeram para sempre e, por isso, podemos, hoje, falar em “santos anjos” (Mt.25:31; Mc.8:38; Lc.9:26; At.10:22; Ap.14:10) ou “anjos de Deus” (Jó 4:18; Sl.91:11; Sl.148:2; Mt.4:6; 13:41; 16:27; 18:10; 24:31; Mc.13:27; Lc.4:10; Hb.1:7; Ap.3:5), como também em “anjos do diabo” (Mt.25:41; Ap.12:7,9), também chamados de “anjos que não guardaram o seu principado” (Jd.6).

II. O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS

Satanás, originalmente um anjo de Deus, tornou-se corrupto pelo seu orgulho; ele tem sido mau desde sua rebelião contra Deus (1João 3:8). Satanás considera Deus como inimigo. Ele tenta atrapalhar a obra de Deus na vida das pessoas, mas está limitado pelo poder de Deus, e faz apenas o que lhe é permitido (Lc.22:31,32; 1Tm.1:19,20; 2Tm.2:23-26). Satanás é chamado de inimigo porque busca ativamente por pessoas a quem possa tentar (1Pd.5:8,9), e porque o seu desejo é que as pessoas odeiem a Deus. Ele faz isso através da mentira e da decepção (Gn.3:1-6). Jó, um homem correto e inocente, que fora grandemente abençoado, era o alvo exato para Satanás.

Qualquer pessoa comprometida com Deus deve esperar os ataques do inimigo. Satanás, que odeia a Deus, também odeia as pessoas. Ele causa dor e sofrimento; ele acusa as pessoas; ele é o grande tentador.

Todavia, o poder de Satanás é limitado e o seu agir está sob a autorização de Deus. Ele só age se Deus permitir. Satanás teve que pedir permissão a Deus para tirar a riqueza, os filhos e a saúde de Jó. Satanás estava limitado ao que Deus permitia. Ele é limitado quanto ao tempo, ao poder e à área de atuação. Ele só pode ir até onde Deus lhe permitir que ele faça. Deus assim lhe ordenou:

“Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face! E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” (Jó 1:11,12).

1. Dor e sofrimento

Satanás é um anjo poderoso, e ele pode causar dor e sofrimento nas pessoas. Seu desejo é ver as pessoas sofrerem. Sua missão é causar dor. Satanás impôs ao patriarca Jó um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como ele no Antigo Testamento. Ele colocou uma enfermidade terrivelmente dolorosa em Jó. Tumores malignos cobriram todo o seu corpo. O sofrimento de Jó pode ser analisado em dois aspectos principais:

-Primeiro, o sofrimento físico. Ele foi coberto de tumores malignos da planta dos pés ao alto da cabeça (Jó 2:7,8). A sua dor era imensa. Seus amigos ficaram sentados com ele no chão sete dias e sete noites; e nenhum deles lhe dizia nada, pois viram que sua dor era muito grande (Jó 2:13). Ele não conseguia dormir por causa da dor lancinante. Jó declarou: “Não tenho tranquilidade, nem sossego, nem descanso; somente perturbação” (Jó 3:26). Ele não conseguia parar de chorar. Chegou a afirmar: “Pois em lugar de alimento me vêm suspiros, e os meus gemidos se derramam como  água” (Jó 3:24). Ele não tinha nenhum alívio do seu sofrimento. Não tinha descanso nem sossego. Suas noites eram longas e cheias de aflição. Vejamos a sua queixa:

assim me deram meses de  desengano, e destinaram-me noites de aflição. Quando me deito, digo: Quando me levantarei? Mas a noite é longa, e canso de me revolver na cama até o alvorecer” (Jó 7:3,4).

Sua pele ficou cheia de feridas e pus. Disse Jó: “Meu corpo está coberto de vermes e de crostas de sujeira; a minha pele se resseca, e as feridas voltam a se abrir” (Jó 7:5). Suas dores o apavoravam (Jó 9:27,28). Seu corpo apodrecia como uma roupa comida de traça (Jó 13:28), encarquilhado e magérrimo (Jó 16:8). Seus ossos se deslocaram. Sua dor não tinha pausa (Jó 30:17). Sua pele enegreceu e começou a descamar. Seus ossos queimavam de febre (Jó 30:30).

-Segundo, o sofrimento emocional. Ele ficou angustiado e amargurado (Jó 7:11). À noite, seus sonhos e visões só lhe traziam mais terror (Jó 7:14). Ele chegou a ficar cansado de viver (Jó 10:1). Seu rosto afogueou de tanto chorar (Jó 16:16). Ele estava cercado de pessoas que o provocavam (Jó 17:2). Sua desventura foi proclamada em todo o mundo (Jó 17:6). As pessoas cuspiam em seu rosto (Jó 17:6; 30:10). Seus sonhos e esperanças fracassaram (Jó 17:11). Os irmãos e conhecidos fugiram dele na sua dor (Jó 19:13). Os parentes o desampararam (Jó 19:14). As pessoas que receberam sua ajuda no passado o tratavam com desprezo (Jó 19:15). O mau hálito e o mau cheiro que exalavam do seu corpo expulsaram a esposa
e os irmãos de perto dele (Jó 19:17). Até as crianças o desprezavam, e dele zombavam (Jó 19:18). Todos os seus amigos íntimos o abandonaram (Jó 37:2). Sua honra e felicidade foram arrancadas (Jó 30:15). Aconteceu o contrário de tudo de bom que ele desejou (Jó 30:26,27).

Jó era um modelo de confiança e obediência a Deus, mesmo assim Deus permitiu que Satanás o atacasse de forma particular e cruel. Embora Deus nos ame, crer nEle e obedecê-lo não nos isenta de calamidades na vida.

Reveses, tragédias e tristezas atingem tantos os não crentes como os crentes. Contudo, Deus espera que, durante nossas provas e sofrimentos, expressemos nossa fé ao mundo. Como você reage aos problemas? Você pergunta a Deus: “Por que eu?”. Ou diz: “Usa-me, Senhor!”.

Devemos aprender a reconhecer, mas não temer, os ataques de satanás, pois ele não pode exceder os limites estabelecidos por Deus. Embora não possamos controlar os ataques do Diabo, podemos sempre escolher como reagir a eles.

2. Acusar

Satanás não somente causa dores e sofrimentos nas pessoas, ele também faz acusações destruidoras; aliás, acusar faz parte de sua natureza maligna. Antes de causar dores e sofrimentos em Jó, com a devida permissão de Deus, ele fez severas acusações. O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesses. Satanás é um ser rebelde e maligno. Por isso, vê tudo de forma distorcida. Olha para Deus e para os homens projetando sua maldade. Satanás suspeitou de Deus e também de Jó. Levantou dúvidas a respeito de Deus e também de Jó. Lançou suas setas venenosas contra Deus e também contra Jó. Veja o que ele disse a respeito de Jó:

“Então, respondeu Satanás ao Senhor e disse: Porventura, teme Jó a Deus debalde?
Porventura, não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentado na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face!” (Jó 1:9-11).

Segundo Hernandes Dias Lopes, Satanás está aqui insinuando duas coisas:

-Primeiro, que Deus precisa subornar as pessoas com bênçãos para receber delas adoração. Satanás está dizendo que Deus não é honesto. Que Deus precisa comprar o louvor dos homens oferecendo-lhes bênçãos especiais. Satanás se levanta contra o caráter de Deus, acusa-o e questiona suas motivações.

-Segundo, que Jó só serve a Deus por interesse. Satanás está insinuando que Jó também não é honesto. Está afirmando que a devoção de Jó não passava de uma barganha com Deus. Satanás acusou Jó de ser um utilitarista que se aproximava de Deus não por quem é Deus, mas por aquilo que Deus dava a ele. Na verdade, Satanás estava defendendo a tese de que todo mundo serve a Deus por algum interesse egoísta.

3. Tentar

Uma das características principais de Satanás é incitar e tentar as pessoas para o mal. Isto faz parte de sua natureza maligna (cf. 1Cr.21:1) – “Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel”.

Satanás defendia que a fidelidade de Jó a Deus era devido à sua riqueza. Ele queria mostrar que o fundamento da devoção de Jó era as dádivas divinas. Para provar isso ele utilizou do método preferido: a tentação. Ele arregimentou os caldeus e os sabeus para surrupiar todos os bens de Jó, saqueá-los e destruí-los. O relato bíblico é comovente (cf. Jó 1:12-17):

“Sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa do irmão primogênito, que veio um mensageiro a Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles; de repente, deram sobre eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova. Falava este ainda quando veio outro e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os camelos, os levaram e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para trazer-te a nova”.

Como Jó reagiu diante dessa forte tentação de Satanás? O homem mais rico do mundo de sua época foi à falência. O grande empresário rural perdeu tudo e foi à bancarrota. Seu império econômico entrou em colapso.

Conforme o argumento de rev. Hernandes Dias Lopes, as notícias chegaram a Jó como uma avalanche, informando-lhe que seus bens estavam sendo dissipados. As coisas aconteciam com uma celeridade incomum. Não dava tempo sequer para respirar. Jó não conseguia elaborar um plano para estancar essa hemorragia que sangrava sua economia. Não tinha tempo para cercar o fogo nem mesmo para resistir ao ataque fulminante dos caldeus e sabeus.

Jó, o homem mais rico do Oriente, estava quebrado. Sua fortuna, como um castelo de areia, ruiu. Seus rebanhos estavam nas mãos de ladrões impiedosos. Seus campos foram lambidos pelo fogo. Nada sobrou de toda a riqueza que ostentava. Tudo estava perdido!

Diante dessa forte tentação/provação, será que Jó ergueria seus punhos contra Deus? Será que da boca de Jó sairiam torrentes de blasfêmias? Será que a fidelidade de Jó estava fundamentada apenas nas benesses recebidas das mãos divinas? Será que a crença de Jó em Deus era apenas uma barganha, um negócio lucrativo, uma troca de favores?

Qual foi a atitude desse patriarca ao perder todos os seus bens? Muitos indivíduos, quando são atingidos pelos terremotos financeiros, desesperam-se. Outros, insurgem-se contra Deus. Ainda outros, cometem suicídio e dão cabo da própria vida. O que fez Jó? No exato momento que sofreu o golpe, o patriarca prostrou-se não para blasfemar contra Deus, mas para adorá-lo. Longe de atribuir a Deus qualquer culpa ou revoltar-se contra o altíssimo, afirmou:

“Eu sai nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para lá” (Jó 1:21).

Assim, Jó estava dizendo que a razão de sua vida não tinha como fundamento os bens que granjeara nem a riqueza que ostentava. Jó tinha plena consciência de que não havia trazido nada para este mundo nem levaria nada dele. Jó sabia que os bens são dádivas de Deus, que riqueza e glória vêm de Deus, mas que a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui. Jó definitivamente triunfou sobre a acusação de Satanás. O relato bíblico é enfático:

“Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus coisa alguma” (Jó 1:22).

E nós, se estivéssemos diante de uma tentação/provação como esta, como reagiríamos? Pense nisso!

III. O LIVRO DE JÓ E O OCASO DE SATANÁS

1. Queda e ruína de Satanás

Satanás subestimou a fé e fidelidade de Jó a Deus. Apesar do sofrimento impiedoso, das dores infindas, da perda do seu patrimônio, dos seus filhos e de sua saúde física, ele provou de forma eloquente que sua devoção a Deus não estava baseada no que recebia de Deus, mas no caráter do Senhor. Como os três amigos de Daniel na Babilônia, Jó não servia a Deus por aquilo que Ele lhe dava, mas por quem Deus é.

A vitória de Jó foi uma tremenda derrota para Satanás. Ele não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó blasfemasse o nome de Deus. Veja que a partir do capitulo 3 não é mais mencionado o nome do acusador; ele foi derrotado por um homem que se comprometeu no seu coração ser fiel a Deus, a despeito das circunstâncias adversas.

Deus pode nos livrar do mal. Deus pode nos proteger das setas do inimigo. Deus pode nos tirar da fornalha. Deus pode nos arrancar das entranhas do mar. Deus pode nos poupar dos terremotos financeiros, das enfermidades, dos ataques implacáveis dos inimigos; mas, se Ele, em sua sábia providência, quiser nos entregar para sofrermos o golpe da dor, das perdas e da morte, mesmo assim devemos ser fiéis a Ele.

Nesse embate, Jó saiu vitorioso e o nome de Deus foi glorificado. Todavia, essa derrota de Satanás foi parcial, pois ainda continua causando dores, sofrimentos, e perpetrando acusações deletérias e tentando o povo de Deus. Uma coisa é certa, e ele sabe disso, a sua derrocada final já está decretada (Ap.20:1-3,10).

“E vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos”.

“E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”.

Na verdade, o ocaso final de Satanás teve início com a morte, ressurreição e ascensão de Jesus. A partir daí, as acusações do Diabo contra nós caíram por terra, porque quem nos justifica diante de Deus é o próprio Cristo (Rm.5:1; 8:33). No Apocalipse, vemos que Miguel e seus anjos vencem o dragão e seus demônios (Ap.12:7-9). O mérito da vitória, porém, não cabe ao arcanjo, pois este sempre atuou em nome do Senhor (Jd.9). Mais adiante, o Diabo é amarrado por mil anos, para, finalmente, ser lançado no lago de fogo (Ap.20:3,10). Diante das arremetidas do adversário, sejamos valentes e confiantes na pronta intervenção divina, pois temos, nesta luta, uma gloriosa promessa (Rm.16:20).

“E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém!”.

2. Jó e o testemunho de Deus

Satanás tirou tudo de Jó: seus bens, seus filhos, sua saúde e, até mesmo o apoio de sua mulher. O homem mais rico do mundo tornou-se o mais pobre entre os pobres. O homem mais honrado tornou-se o mais desonrado entre os aflitos. O homem mais cercado de respeito e admiração se deteve na cinza, coberto de chagas, sentindo dores atrozes. Apesar de todo esse infortúnio, sob a mais densa tormenta, no epicentro da crise, Jó manteve sua fidelidade a Deus. Mesmo coberto de desventuras, mesmo surrado pelo chicote da dor, mesmo com o choro perene, mesmo perdendo todas as conexões da terra, Jó não perdeu seu amor a Deus nem sua esperança no Redentor. Do mais profundo dos vales, ele gritou: “Eu sei que o meu Redentor vive” (Jó 19:25). Essa fidelidade inexorável de Jó foi correspondida pelo seu Deus, que esteve sempre com os seus olhos fitos nele observando o seu comportamento e testemunho, porque “os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia (Salmos 33:18). O próprio Deus testemunhou que Jó era o homem que Ele sempre disse que era: justo, reto e temente a Deus:

“Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó” (Jó 42:8).

Por sua fidelidade, Deus deu a Jó felicidade plena. O final de Jó foi apoteótico:

 “E, assim, abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas.
Também teve sete filhos e três filhas” (Jó 42:12,13).

“E, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então, morreu Jó, velho e farto de dias” (Jó 42:16,17).

CONCLUSÃO

Apesar das intempéries perpetradas por Satanás contra Jó, ele manteve a integridade básica do seu caráter. Ele preencheu todos os requisitos dos seus dias de um homem exemplar. O próprio Deus testemunhou do seu caráter e, no final, o retribuiu por isso. A nós, povo de Deus da Nova Aliança, há uma promessa inabalável a todos aqueles que resistirem a Satanás em suas investidas e forem fieis a Deus: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap.22:12). A promessa ainda ecoa como um forte exortação: “Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados...Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap.2:10).