Texto Base: Atos 9.1-9
“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At.9:3,4).
V.P.: “A verdadeira conversão a Cristo leva em conta o arrependimento, a fé em Jesus e uma completa transformação no pensamento, vontade e ação do homem”.
Atos 9:
1.E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo-sacerdote,
2.e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens, quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.
3.E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.
4.E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
5.E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.
6.E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.
7.E os varões, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém.
8.E Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
9.E esteve três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da “Conversão de Saulo de Tarso”. Indubitavelmente, a conversão desse judeu-fariseu zeloso pela Lei mosaica, foi a mais importante da história do Cristianismo; talvez nenhum feito seja mais marcante na história da Igreja depois do Pentecostes. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo, como Saulo de Tarso após a sua impressionante conversão a Cristo. Lucas ficou tão impressionado com a importância da conversão de Saulo que a relata três vezes em Atos (Atos 9,22,26).
Ao se encontrar com Jesus Cristo no caminho para Damasco, Saulo teve a sua vida completamente regenerada - a sua faculdade intelectual foi regenerada, pois seu encontro com o Senhor trouxe-lhe luz à mente; sua faculdade emocional foi afetada, pois ao longo da vida do apóstolo, vemos sua profunda tristeza em perseguir seus irmãos em Cristo; e, finalmente, a faculdade de sua vontade foi tocada. Depois de sua conversão, Saulo tornou-se um dos mais célebres defensores da doutrina de Cristo. Ele desejava desgastar-se pela causa do Evangelho. Assim, nada mais teria sentido para Paulo, senão o de pregar o Cristo Ressuscitado que tanto ele perseguiu. Somente a graça soberana de Deus pode fazer isso! Que neste trimestre, milhares de cerviz duras e bloqueadas pelo pecado sejam alcançadas pela graça maravilhosa de Jesus.
I. A CONVERSÃO DE SAULO: UM ATO DA GRAÇA DE DEUS
1. A conversão de Saulo e sua experiência sobrenatural
“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (Atos 9:3-5).
A conversão de Saulo é uma evidência insofismável da graça soberana de Cristo. Ele era como um touro forte e bravo, difícil de ser derrubado; porém, Jesus tinha um chamado especial para ele – fazê-lo o mais proeminente apóstolo dos gentios. Mas, para isso, era necessário que a sua cerviz dura e cegueira espiritual fossem debeladas, e os olhos da alma fossem abertos para enxergar a Verdade e o verdadeiro Caminho.
Saulo era um perseguidor implacável; estava determinado banir da terra os cristãos e, por conseguinte, o Cristianismo. Não aceitava que um Nazareno, crucificado como um criminoso, pudesse ser o Messias prometido por Deus. Então, munido de cartas do sumo sacerdote, Saulo ruma para Damasco, respirando ameaças e morte, com o objetivo de prender homens e mulheres cristãos, e levá-los manietados a Jerusalém (Atos 9:1,2). Mas, foi surpreendido por uma impactante experiência sobrenatural pela qual nunca havia passado (Atos 9:3) - “E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu”.
Surpreendido pelo resplendor do céu, mais forte que a luz do sol do meio-dia, o perseguidor da Igreja caiu por terra e ficou cego (Atos 9:4) – “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Ele, então, retruca: “Quem é tu, Senhor? E obtém a resposta: “Eu sou Jesus, o Nazareno a quem tu persegues” (Atos 9:5).
Que paradoxo impressionante Paulo estava vivenciando naquele momento histórico! Para ele, Jesus de Nazaré estava morto e sepultado na Judeia. Uma vez que o líder da seita havia sido eliminado, seria preciso apenas acabar com seus seguidores, e a terra estaria livre dos cristãos. E agora, por meio de uma revelação arrasadora, Saulo descobriu que Jesus não está morto, mas que foi ressuscitado dentre os mortos e glorificado à direita do Deus Pai, no Céu. A visão do Salvador glorificado mudou inteiramente o rumo da sua vida. Naquele instante, Saulo também se deu conta de que ao perseguir os seguidores de Jesus estava perseguindo o próprio Senhor. A dor infligida aos membros do Corpo era sentida pela Cabeça do Corpo no Céu.
2. A iniciativa de Jesus para transformar a mente de Saulo
Saulo era um carrasco, um homem truculento, selvagem, bárbaro, um fundamentalista religioso em seu zelo ensandecido. Somente a incidência da graça soberana de Deus para salvar um homem com uma natureza selvagem dessa estirpe. Mas, o Senhor o queria em sua equipe de apóstolo; para isso, Cristo teria que tomar a iniciativa para transformar a sua mente cauterizada. Saulo estava caçando os cristãos para prendê-los, e Cristo estava caçando Saulo para salvá-lo (Atos 9:1-6).
Saulo era uma fera selvagem, um perseguidor implacável, um assassino insensível. Portanto, dada a dureza do coração de Saulo, o Senhor tomou a iniciativa de sacudir a sua estrutura física, psicológica e espiritual, agindo pessoalmente na sua direção. A conversão de Paulo no caminho de Damasco foi o clímax repentino de um longo processo em que o “Caçador dos céus” tinha estado em seu encalço; curvou-se, então, a dura cerviz autossuficiente; o touro estava domado. Até aquele momento Saulo fazia o que ele mesmo queria, o que considerava certo e o que sua vontade determinava; mas, desse momento em diante, passou a fazer apenas o que Cristo determinou que ele fizesse.
3. A graça salvadora se manifestou a Saulo
Como já disse, a causa da conversão de Saulo foi a graça salvadora de Deus. Paulo mesmo afirma, na Epístola aos Efésios 2:8: “Pela graça sois salvos por meio da fé, isto não vem de vós, é dom de Deus”. Na epístola a Tito, também afirma: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt.2:11). Portanto, Saulo não foi salvo por seus méritos; seus predicados religiosos, nos quais confiava (circuncidado, fariseu, hebreu de hebreus, da tribo de Benjamin) não serviam como pré-requisitos para sua salvação; mais tarde, ele considerou esses predicados como esterco (Fp.3:8). A Bíblia diz que a nossa justiça aos olhos de Deus não passa de trapo de imundícia (Is.64:6).
Portanto, a graça é a causa meritória da nossa salvação. Sem que o homem mereça coisa alguma, Deus providenciou um meio pelo qual o homem pudesse retornar a conviver com Ele. Ele enviou seu Filho para que morresse em nosso lugar e satisfizesse a justiça divina. A todos quantos creem na Obra do Filho, Deus permite que venha novamente a ter comunhão com Ele, ainda que imerecidamente. É este favor imerecido que consiste na Maravilhosa Graça de Deus. Portanto, o ponto de partida da experiência de salvação de todos os homens é a graça de Deus. Essa graça é o favor imerecido de Deus em que sua justiça é satisfeita na morte expiatória de Jesus. Consideremos, por exemplo, um homem que foi condenado a morrer na cadeira elétrica por ter matado um policial; assim que ele morre é “liberto” desse crime; a pena foi paga, e o caso foi encerrado. Nós também estávamos condenados à morte eterna, mas fomos libertos quando morremos; morremos com Cristo na cruz do Calvário. Além de nossa pena ter sido paga, o domínio opressor do pecado sobre nossa vida foi rompido. Não somos mais escravos impotentes do pecado. Disse o apóstolo Paulo: “Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm.6:7).
O outro lado da morte com Cristo é que também com ele viveremos, como diz o texto sagrado: “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” (Rm.6:8). Morremos para o pecado, vivemos para a justiça. O pecado não exerce mais domínio sobre nós; agora participamos da vida ressurreta de Cristo, com reflexos por toda a eternidade. Nossa certeza baseia-se no fato de que o Cristo ressurreto jamais voltará a morrer. A morte já não tem domínio sobre ele. A morte dominou-o por três dias e noites, mas esse domínio cessou de uma vez por todas. Cristo nunca mais morrerá. Virá o Dia que todos nós ressuscitaremos, e nunca mais, também, morreremos.
II. SAULO E A DOUTRINA BÍBLICA DA CONVERSÃO
1. A conversão começa no arrependimento
No Novo Testamento, “arrependimento” traz a ideia de tristeza pelos próprios pecados, acompanhada de um desejo enorme de corrigir o rumo, corrigir o caráter e a conduta moral. Deus restaura o pecador que verdadeiramente se arrepende e muda de atitude. O verdadeiro arrependimento resulta em mudança de vida; foi o que aconteceu com Saulo de Tarso após se encontrar com Cristo no caminho de Damasco. O verdadeiro arrependimento implica na mudança de atitude e conduta daquele que pecou. A orientação amorosa do Senhor Jesus é: “vai-te e não peques mais” (João 8:11).
O apóstolo Paulo afirmou no Areópago perante uma plateia de intelectuais: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (Atos 17:30). Pregou o apóstolo Pedro no dia do Pentecostes: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19). Jesus disse “que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc.15:10).
A confissão dos pecados é o maior sinal do arrependimento. Qual é a garantia de que a confissão é importante para Deus? A própria Palavra de Deus; ela garante que a confissão é premiada com a misericórdia - “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv.28:13).
Deus sabe que estamos sujeitos às leis deste mundo, mas exige que pautemos uma vida dentro dos padrões estabelecidos por Ele; e quando nos afastamos desse padrão, Ele espera que admitamos nossa falha e retornemos para Ele por meio da confissão. Todos nós conhecemos o texto áureo da confissão: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João 1:9).
2. A conversão de Saulo promoveu uma transformação pessoal
Tendo como base Atos 9:10-20 podemos perceber três verdades que evidenciam a transformação pessoal de Saulo após sua conversão. São elas (Adaptado do Livro “Paulo”, de Hernandes Dias Lopes):
a) Saulo reconheceu que Jesus é o Senhor (Atos 22:8). Aquele a quem Saulo resistira e perseguira é de fato o Senhor; verdadeiramente, ele ressuscitou dentre os mortos; verdadeiramente, ele é o Messias, o Filho de Deus. Aquela luz brilhou na alma de Saulo, iluminou seu coração, tirou as escamas dos seus olhos espirituais (2Co.3:16). O choque da experiência sobrenatural do “resplendor de luz” sobre os seus olhos, transformou a mente de Saulo, levando-o a reconhecer o Cristo que, outrora tanto rejeitava, e que agora o fazia um fiel seguidor e servidor (1Co.15:8-10).
b) Saulo reconheceu que é pecador (Atos 22:8). Paulo tomou conhecimento de que seu zelo religioso não agradava a Deus. Na verdade, estava perseguindo o próprio Filho de Deus (Atos 9:5). Ele reconheceu que era o maior de todos os pecadores. Ele reconheceu que estava perdido e precisava da salvação.
c) Saulo reconheceu que precisava ser guiado pelo Senhor (Atos 22:10). A autossuficiência de Saulo acabou no caminho de Damasco. Ele perguntou: “...que farei, Senhor?...” (Atos 22:10). Agora queria ser guiado! Agora estava pronto a obedecer. Ele que esperava entrar em Damasco na plenitude de seu orgulho e bravura, como um autoconfiante adversário de Cristo, agora estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem fazia severa oposição. O Senhor o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em Damasco.
3. A conversão faz parte da doutrina bíblica da Salvação
A salvação, ao contrário do que muitos pensam, não é um ato único, um instante isolado, mas envolve todo um processo, ou seja, uma sequência de atos, com origem em Deus. Tanto a salvação é um processo, que o próprio Jesus nos ensina que é preciso “perseverar até o fim” para que seja salvo (Mt.24:13), isto é, é preciso uma continuidade, uma constância até o instante final da nossa permanência nesta dimensão terrena, onde fomos postos pelo Senhor, por Sua misericórdia, para termos a chance e oportunidade de sermos salvos. Um dos atos do processo da salvação é a Conversão.
A Conversão é a mudança de direção na vida de uma pessoa. O homem, quando se arrepende, muda a sua concepção a respeito da vida, modifica seus desejos, seus sentimentos e seus pensamentos; reconhece que Deus deve governar a sua vida e que deve, a partir daquele momento, passar a agradar a Deus. A atuação do Espírito Santo é indispensável para que o homem seja convencido do pecado, da morte e do juízo; e, assim, resolva se arrepender dos seus pecados e mudar a direção da sua vida, que é o que denominamos de "conversão".
Três coisas devem ser destacadas na Conversão de Saulo no caminho de Damasco (Adaptado do Livro “Paulo”, de Hernandes Dias Lopes):
a) Sua atitude de oração (Atos 9:11). A prova que Deus deu a Ananias de que Paulo agora era um irmão, e não um perseguidor, é que ele estava orando. Quem nasce de novo tem desejo de estar em comunhão com Deus. Saulo foi convertido e logo começou a orar!
b) O recebimento do Espírito Santo (Atos 9:17). Uma pessoa ímpia, sem ser convertida a Cristo jamais será batizado no Espírito Santo. Ananias impôs as mãos sobre Saulo, e ele ficou cheio do Espírito Santo. Charles Spurgeon disse que é mais fácil uma pessoa convencer um leão a ser vegetariano do que uma pessoa ser convertida sem a ação do Espírito Santo.
c) O recebimento do batismo (Atos 9:18). O batismo nas águas não salva, mas o salvo, aquele que foi transformado, deve ser batizado, pois é uma ordenança de Cristo. O batismo é um testemunho da salvação. Uma pessoa que crê precisa ser batizada e integrada na Igreja. Ananias chamou Saulo de irmão; agora, ele pertence à família de Deus.
Portanto, a Conversão de Saulo foi uma obra de Deus, uma manifestação externa da regeneração operada pelo Espírito Santo em seu homem interior, que implicou mudança de pensamento, vontade e ação; uma mudança que alterou todo o curso da vida de Saulo (Ef.4.25-30).
“A regeneração envolve a mudança da velha vida de pecado em uma nova vida de obediência a Jesus Cristo (2Co.5:17; Cl.3:10). Aquele que realmente nasceu de novo está liberto da escravidão do pecado [...], e passa a ter desejo e disposição espiritual de obedecer a Deus e de seguir a direção do Espírito (Rm.8:13,14). Vive uma vida de retidão (1João 2:29), ama aos demais crentes (1João 4:7), evita uma vida de pecado (1João 3:9; 5:18) e não ama o mundo (1João 2:15,16)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1576).
III. AS TRÊS FACULDADES INTERIORES TRANSFORMADAS NA CONVERSÃO
Quando falamos das faculdades “interiores” estamos falando das faculdades da alma. A alma é a parte do homem interior que nos distingue dos demais seres; é onde ficam nossos sentimentos, nossa vontade, nosso entendimento e nossa personalidade. É a alma que nos faz diferentes das demais pessoas e onde é feita a escolha para servirmos a Deus ou não. Na alma situam-se as seguintes faculdades: Intelecto, a Vontade e o Sentimento. Controlar estas faculdades é uma tarefa impossível de ser realizada pelo homem natural; porém, para o homem que passou pelo processo do novo nascimento, esta tarefa se torna possível com a preciosa ajuda do Espírito Santo.
1. Faculdade intelectual
Este campo da alma está relacionado com a nossa mente. É nele que se situa a nossa capacidade de pensar, de conhecer, de julgar entre o certo e o errado, de tomar decisões. Subjugar a mente para pensar e agir conforme a vontade do Senhor, é uma tarefa impossível de ser realizada pelo homem natural. Salomão afirmou que “a estultícia do homem perverterá o seu caminho...”. A Bíblia, na Linguagem de Hoje, diz: “A falta de juízo é o que faz a pessoa cair na desgraça; no entanto ela põe a culpa em Deus, o Senhor” (Pv.19:3). A pessoa nascida de novo, guiada pelo Espírito de Deus adquire a capacidade de poder pensar da forma que Jesus pensava, visto que Paulo declarou que “... nós temos a mente de Cristo” (1Co.2:16). Quando a pessoa, movida pelo Espírito Santo, consegue sintonizar sua mente com a própria mente de Cristo, como se fosse uma só, então torna-se possível o exercício da administração do Intelecto, podendo viver em paz – “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti...” (Is.26:3).
Na área do Intelecto situa-se a Razão, sendo, portanto, uma faculdade da Alma. Pela Razão o ser humano é capacitado a pensar, a julgar, a distinguir o verdadeiro do falso, a entender e separar o bem do mal. Isto, no entanto, só se torna possível quando o homem vive sob o controle do Espírito de Deus. Vivendo assim, ele pode fazer suas as palavras ditas por Jesus: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (João 5:30). O homem natural, o homem sem o controle do Espírito Santo, às vezes se torna pior que os animais irracionais: age mal, julga mal, prejudica seus semelhantes. É difícil administrar as coisas da alma quem vive sob o poder e influência do pecado, porque “os homens maus não entendem o juízo...” (Pv.28:5).
2. Faculdade das emoções
Esta faculdade da alma é de extrema importância na personalidade humana, pois diz respeito à capacidade de saber administrar e controlar a parte afetiva do nosso ser. O ser humano foi feito dotado de sentimento; é um ser sensível, que sente emoções, paixões e dores, alegria, tristeza, gozo ou prazer. Infelizmente, o pecado deturpou os sentimentos humano, escravizando-os e alternando os seus valores reais. Cristo veio também para reorganizar nossas emoções e canalizá-las na direção correta. Como servos de Deus, submissos ao Espírito Santo, temos o dever de estar atentos para que as nossas emoções sejam controladas e desenvolvidas conforme a vontade de Deus.
Como filhos de Deus, devemos usar nossas emoções para:
-Adorar a Deus. A adoração a Deus é uma das maneiras de usarmos nossas faculdades da alma como Ele quer. Deus tem prazer em nos ver expressando, com sinceridade, reverência e amor, profunda adoração a Ele.
-Crescer espiritualmente. As emoções desempenham um papel básico no nosso crescimento espiritual. E nem sempre é fácil atingir todo o nosso desenvolvimento emocional, pois isto só acontecerá quando formos capazes de ter a mesma atitude de Cristo - ”De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp.2:5). Que sentimento foi este de Cristo que Paulo quis dizer? Humildade integral e Obediência até à morte para o benefício dos outros (Fp.2:5-8). A humildade integral de Cristo deve existir em todos aqueles que se dizem cristãos, os quais foram chamados para viver com sacrifício e renúncia, cuidando dos outros e fazendo-lhes o bem. Exorta o apóstolo Paulo: “E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem” (2Tes.3:13).
-Manifestar o Fruto do Espírito - “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl.5:22). Somos responsáveis pelo “jardim” do nosso ser emocional, precisando arrancar as ervas daninhas - amargura, paixões ilícitas, ira e outros sentimentos que são igualmente condenados pelo Senhor (Gl.5:19-22; Ef.4:31).
3. Faculdade da vontade
Vontade é a faculdade que tem o ser humano de querer, de escolher, de livremente praticar ou deixar de praticar certos atos. Embora Deus seja soberano com relação à Sua vontade, Ele criou o homem com liberdade e deixa um espaço para que ele possa fazer a sua vontade ou a vontade de Deus, que chamamos de "vontade permissiva de Deus". O homem não é um robô, um autômato, que é programado para executar as tarefas que lhe foram confiadas. Muito pelo contrário, Deus fez o homem com o poder de escolher, ou não, cumprir o propósito que Deus tem estabelecido para cada indivíduo.
Devemos sacrificar a nossa vontade e fazer a vontade de Deus. Davi foi chamado homem segundo o coração de Deus, exatamente porque se propôs a executar toda a vontade do Senhor (Atos 13:22). Paulo demonstrou, claramente, que o importante é vivermos para cumprir a vontade de Deus (Atos 21:13,14). Só quem faz a vontade de Deus permanece para sempre (1João 2:17).
Como filhos de Deus, devemos utilizar a nossa Vontade para:
ü Obedecer a Deus. Só obedecemos a Deus quando nossa vontade é submetida à vontade dEle, sendo também essa a melhor forma de agradá-lo - “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1Sm.15:22).
ü Fazer escolhas corretas. Uma vontade bem administrada produzirá decisões corretas, mas, quando mal orientada, levará a decisões erradas. Disse Paulo: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm.7:19). Como administradores da nossa vontade, seremos avaliados pelas decisões que tomarmos. Daniel tomou uma decisão certa, ao não participar das iguarias da mesa do rei de Babilônia (Dn.1:8). Saul tomou uma decisão precipitado, não obedecendo o mandamento de Deus, o que lhe custou a rejeição de Deus para que não reinasse mais sobre o povo de Israel (1Sm.15:9-11).
ü Fazer o bem. Nossas escolhas alegrarão o coração de Deus quando utilizamos nossa vontade, não apenas para termos intenções nobres, mas também para produzir boas obras. Paulo assim recomenda: “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl.6:10). É preciso que as boas intenções sejam transformadas em ações. Assim recomenda Tiago: “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” (Tg.1:22).
CONCLUSÃO
Como foi dito acima, a conversão de Saulo é uma evidência clara da graça soberana de Cristo; é considerada pelos estudiosos como a mais importante da história do Cristianismo, e a causa dessa conversão foi a maravilhosa graça de Deus. Na época de sua conversão, Saulo de Tarso provavelmente estava com trinta e poucos anos de idade. Era considerado pelos rabinos um dos jovens mais promissores do judaísmo e excedia em zelo a todos os seus colegas. Sua conversão estabeleceu uma mudança crítica no Livro de Atos. Até o capítulo 9, o apóstolo Pedro é retratado em primeiro plano enquanto pregava o evangelho aos judeus. Depois da conversão de Saulo de Tarso, este passou ocupar, gradualmente, a posição de maior destaque, e o evangelho foi propagado, cada vez mais, entre os gentios.
Muitos inimigos do Evangelho, ao longo da história do Cristianismo, tentaram, artificialmente, com argumentos pífios, destruir a veracidade incontestável da história da conversão de Saulo de Tarso. Contudo, é inegável o fato de que a conversão de Saulo realmente aconteceu devido a uma intervenção de Jesus Cristo. Não haja dúvida, a causa da conversão de Saulo foi a graça salvadora e soberana de Jesus. É claro que o modo como Saulo foi convertido é ímpar, irrepetível; mas, a graça salvadora de Deus ainda continua libertando pessoas da escravidão do seu orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-as capaz de arrependerem-se e crerem em Cristo como o único e suficiente Senhor e Salvador. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Saulo de Tarso, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.
É bom enfatizar que a conversão de Saulo se deu no momento que Cristo apareceu a ele no caminho de Damasco. Atos 9:3-9 registra este fato claramente. Vejamos: (a) Ele obedeceu às ordens de Cristo (Atos 9:6; 22:10; 26:15-19), comprometeu-se a ser um missionário aos gentios (Atos 26:17-19) e entregou-se à oração (Atos 9:11); (b) ele é chamado “irmão Saulo” por Ananias (Atos 9:17). Ananias percebeu que Saulo tinha verdadeiramente experimentado o novo nascimento, e que se entregou a Cristo para fazer a Sua vontade, e que apenas necessitava ser batizado, receber a restauração da sua vista e ser cheio do Espírito Santo (Atos 9:17,18). Três dias depois da sua conversão, Saulo recebeu a plenitude do Espírito Santo (Atos 9:17).