Texto Base: Atos 9:15-22; Gálatas 1:11-18
“Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus) e o irmão Sóstenes” (1Co.1:1).
V.P.: “Deus chama pessoas para realizar grandes feitos no reino divino”.
Atos 9:
15.Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel.
16.E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome.
17.E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.
18.E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.
19.E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco.
20.E logo, nas sinagogas, pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus.
21.Todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?
22.Saulo, porém, se esforçava muito mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo.
Gálatas 1:
11.Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens,
12.porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.
13.Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava.
14.E, na minha nação, excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
15.Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça,
16.revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue,
17.nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia e voltei outra vez a Damasco.
18.Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da vocação de Paulo para ser apóstolo aos gentios. A palavra apóstolo significa “alguém enviado com uma comissão”. A referida palavra significa “um mensageiro especial, com um status especial, desfrutando uma autoridade e um comissionamento que procedem de um organismo mais elevado que ele próprio”. No uso neotestamentário, o termo “apóstolo” traz o sentido de alguém que falava com toda a autoridade daquele que o envia; sua importância fica claramente condicionada pela posição de quem o envia. O apostolado de Paulo levava o carimbo da origem divina. Ele não se autodenominou apóstolo nem foi constituído apóstolo pela Igreja; ele recebeu seu apostolado do próprio Senhor Jesus e teve plena consciência de que sua autoridade não emanava dele mesmo, mas daquele que o constituiu como tal (Gl.1:1). Jesus Cristo o vocacionou para levar o evangelho aos gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (Atos 9:15).
I. O PONTO DE PARTIDA PARA A VOCAÇÃO DE PAULO
1. Chamada e presciência divina
“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gálatas 1:1).
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça” (Gálatas 1:15).
A chamada de Paulo foi estabelecida segundo a presciência de Deus. Atos 9:15 atesta a presciência divina na chamada de Paulo, quando o próprio Senhor Jesus diz a Ananias: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel”. Paulo não recebeu seu apostolado de Ananias, quando este impôs as mãos sobre ele, nem foi nomeado como tal pelos apóstolos de Jerusalém (Gl.1:15-17). Ele destaca que seu chamado não veio dos homens, mas de Deus; não veio da terra, mas do Céu (Gl.1:1b). Como Deus conheceu Jeremias antes que fosse formado no ventre da sua mãe e o consagrou e o constituiu profeta antes de sair da madre (Jr.1:5), assim também Deus escolheu Paulo antes de seu nascimento (Gl.1:15). Deus separou Paulo para um propósito especial: que ele fosse o instrumento a levar o evangelho aos gentios (Atos 9:15; 22:15; 26:16-18). O chamado de Paulo, portanto, foi feito antes que ele pudesse pensar por si mesmo, e isto deve comprovar que o evangelho que ele pregava não era invenção dele, não vinha de seu próprio intelecto.
2. Um ministério na plenitude do Espírito Santo
A prova que Deus deu a Ananias de que Paulo agora era um irmão convertido a Cristo, e não mais um perseguidor, era que ele seria batizado no Espírito Santo. Ananias impôs as mãos sobre ele, e ele recebeu a plenitude do Espírito Santo (Atos 9:17), que é o revestimento e derramamento de poder do Alto (Atos 1:8) para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço para Deus. O crente batizado no Espírito Santo goza do privilégio de uma comunhão mais profunda com Deus, de uma vida de oração mais poderosa, de mais capacidade para entender a Palavra de Deus e suportar as provações e as tentações com mais facilidade.
Revestido na plenitude do Espírito Santo, o ministério de Paulo fluiu com grande desenvoltura e progresso. Ele foi o maior missionário, o maior pastor, o maior pregador, o maior teólogo e o maior plantador de igrejas da história do cristianismo. Ele pregou a tempo e fora de tempo; em prisão e em liberdade; com saúde e doente; pregou nos lares, nas sinagogas, no templo, nas ruas, nas praças, na praia, em navios, nos salões governamentais, nas escolas. O pr. Elienai Cabral afirma: “não podemos fazer a obra de Deus sem a atuação do Espírito Santo. Ele é quem confirma a Palavra de Deus”.
3. Deus mudou o nome de Saulo para Paulo?
Não! Muitas pessoas pensam que Saulo virou Paulo, mas isto é um pensamento errôneo. Deus não trocou o nome de Saulo para Paulo. É verdade que na Bíblia há registros de ocasiões em que Deus mudou o nome de uma pessoa, mas esse não foi o caso de Saulo. Há uma ideia popular de que na ocasião de sua conversão a Cristo no caminho de Damasco, Saulo virou Paulo, ou seja, o perseguidor Saulo teve seu nome mudado para Paulo, tornando-se um grande pregador do Evangelho. No entanto, em nenhuma parte do texto bíblico que narra a conversão de Saulo há a informação de que seu nome foi mudado de Saulo para Paulo. Inclusive, mesmo após ter sido convertido, Saulo continuou sendo designado no texto bíblico pelo seu nome, Saulo (Atos 9—13:7). No livro de Atos dos Apóstolos, por exemplo, há uma referência direta a Saulo já como um homem repleto do Espírito Santo. E essa referência é interessante porque ela explica que Saulo também se chamava Paulo (Atos 13:9). Isso quer dizer que Paulo era um cognome de Saulo.
Saulo era um judeu legitimo nascido na cidade de Tarso da Cilícia. Ele pertencia à tribo de Benjamim, foi circuncidado no oitavo dia de vida e educado na Lei como um fariseu (Fp.3:5; Atos 22:3). Então por ocasião de seu nascimento, ele recebeu o nome judaico Saul - igual ao nome do primeiro rei de Israel que, inclusive, também pertencia à tribo de Benjamim. O nome Saul significa “pedido” ou “desejado”. Assim, o nome Saulo nada mais é do que a tradução grega do nome hebraico Saul. No entanto, Saulo também tinha cidadania romana herdada de seu pai (Atos 22:8); então como cidadão romano, Saulo tinha outro nome. É assim que podemos explicar o nome Paulo, que no grego aparece como Paulos, mas vem do latim Paulus, que significa “pequeno”. Portanto, Paulo provavelmente era o cognome romano de Saulo.
II. UMA VOCAÇÃO EFETIVDA PELO CRISTO RESSURRETO
1. Saulo viu o esplendor glorioso de Cristo ressurreto (Atos 9:3-6)
O texto sagrado narra que, quando Saulo e seus companheiros de viagem aproximavam-se de Damasco, subitamente, uma luz intensa do Céu brilhou ao seu redor e fez Saulo cair por terra. Ele “ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Quando Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?”, a voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Aqui, o texto mostra que, realmente, houve uma gloriosa manifestação de Jesus. Pelo menos quatro coisas aconteceram a Paulo (Adaptado do livro “Paulo”, de Hernandes Dias Lopes):
a) Paulo viu uma luz (Atos 22:6,11). Subitamente, uma grande luz do céu brilhou ao seu redor (Atos 9:3). Aquilo não foi uma miragem, um êxtase, uma visão subjetiva. Não. Foi uma grande luz do céu tão forte que lhe abriu os olhos da alma e tirou-lhe a visão física. Ele ficou cego por causa do fulgor daquela luz (Atos 22:11). Não foi apenas uma luz que apareceu a Paulo, mas o próprio Jesus (Atos 9:17). Aquela luz era a glória do próprio Filho de Deus ressurreto.
b) Paulo caiu por terra (Atos 22:7). Considerado como um touro furioso, selvagem e indomável, estava agora subjugado. Aquele que prendia estava preso. Aquele que encerrava em prisão estava dominado. Aquele que se achava detentor de todo o poder para perseguir estava prostrado ao chão, impotente. O Senhor quebrou todas as suas resistências.
c) Paulo ouviu uma voz (Atos 22:7). O mesmo Jesus que Paulo perseguiu com fúria, agora fala com voz poderosa aos seus ouvidos: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrar contra os aguilhões” (Atos 26:14). A voz do Senhor é poderosa; ela despede chamas de fogo; faz tremer o deserto; é irresistível. Paulo então perguntou: “quem és tu, Senhor?”. Ao que Jesus respondeu: “Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues” (Atos 22:8). O mesmo Paulo que perseguia a Jesus (Atos 26:9), agora chama Jesus de Senhor. Ele se curva. Ele se prostra. O touro selvagem foi subjugado. Não há salvação sem que o pecador se renda aos pés do Senhor Jesus.
d) Paulo reconheceu que precisava ser guiado pelo Senhor (Atos 22:10). A autossuficiência de Paulo acabou no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “que farei, Senhor?” (Atos 22:10). Agora quer ser guiado. Agora está pronto a obedecer. Ele que esperava entrar em Damasco na plenitude de seu orgulho e bravura, como um autossuficiente adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. O Senhor ressurreto aparecera a ele. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristo o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em Damasco.
2. Uma vocação inevitável para o apostolado entre os gentios
O Senhor tinha planos maravilhosos para Saulo. Disse Jesus a Ananias: “este é par mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9:15,16). Portanto, sua vocação ao apostolado seria inevitável. E ele não resistiu ao chamado do Senhor para tão nobre encargo – “Senhor, que queres que faça” (Atos 9:6). Paulo tornou-se embaixador de Cristo e pregador destemido do evangelho, logo após sua conversão (Atos 9:20-22).
Saulo seria, acima de tudo, o apóstolo aos gentios, uma comissão que o colocaria diante de reis. Não obstante, pregaria também aos seus compatriotas segundo a carne, os quais o perseguiria intensamente e impiedosamente. Ele foi severamente perseguido em Damasco, apedrejado em Listra, preso e açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica e Bereia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto, enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém, acusado em Cesareia e enviado a Roma para ser julgado pelo imperador; lá, foi decapitado pela guilhotina romana.
3. A vocação mudou o rumo da vida de Saulo
A visão gloriosa de Cristo Ressurreto no caminho para Damasco mudou definitivamente o rumo da vida de Saulo, e não somente dele, também de milhões de pessoas ao longo do tempo. Agora, em vez de perseguir os cristãos, promove a fé evangélica. Em vez de tapar a boca dos cristãos, abre a boca para testemunhar do nome de Jesus Cristo.
Jesus Cristo chamou Saulo e o transformou no apóstolo que seria o maior responsável pela expansão da Igreja no mundo gentílico. Ele plantou igrejas na região da Galácia, nas províncias da Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Não apenas plantou igrejas, mas pastoreou-as com intenso zelo, com profundo amor e com forte senso de responsabilidade. Pesava sobre ele a preocupação com todas as igrejas (2Co.11:28).
Nas palavras de Hernandes Dias Lopes, “como perseguidor e exterminador de cristãos, Saulo pedia cartas para prender, amarrar e matar os crentes (Atos 9:2,14); mas, depois da visão gloriosa de Cristo, depois de convertido, ele escreveu Cartas para abençoar. Paulo foi o maior escritor do Novo Testamento. Ele escreveu treze Epístolas; suas Epístolas são mais conhecidas do que qualquer obra jamais escrita na história da humanidade; suas Epístolas têm sido alimento diário para milhões de crentes em todos os tempos. Essas Epístolas são luzeiros que brilham, são pão que alimentam, são água que dessedenta, são verdades inspiradas pelo Espírito Santo que ensinam, exortam e levam pessoas a Cristo todos os dias”. Só o Espírito Santo faz obra tão extraordinária como esta feita na vida de Paulo. Ele continua operando!
III. VOCAÇÃO DE PAULO E O APRENDIZADO NO DESERTO
O deserto está sempre presente no relato bíblico, seja como um espaço geográfico ou como uma figura de linguagem. Ele tem muitas características: solidão, aridez, desconforto, esterilidade. Todas as vezes em que nos deparamos com tais realidades é porque estamos, com toda certeza, atravessando um deserto – que pode ser uma doença terminal, um problema familiar insolúvel, um luto traumático, um divórcio ameaçador, um problema financeiro que nos tira do sério, etc.
Não importa, seja real ou não, físico ou psicológico, o fato é que desertos têm sempre a mesma fisionomia: são secos, solitários e terrivelmente deprimentes; são capazes de gerar em nós a pior das sensações: a solidão. Existem pessoas que se culpam ao chegar lá, achando que Deus as desprezou ou que não está satisfeito com elas. Elas ainda não compreenderam o sentido ou o propósito do deserto em suas vidas.
Na Bíblia e em toda a história, homens e mulheres passaram por este lugar como uma maneira de serem capacitados por Deus, para cumprirem seu propósito. Portanto, o deserto não significa rejeição, mas preparo divino.
-Abraão foi levado ao deserto para oferecer Isaque, seu único filho - o filho da promessa - como sacrifício vivo ao Senhor, e ali aprendeu a confiar ainda mais no Deus que tudo provê.
-Moisés foi ao deserto e presenciou a sarça ardente, acontecimento que prenunciava a permanente presença de Deus entre o povo que seria liberto do Egito.
-O povo hebreu passou 400 anos cativo e, após sua libertação, experimentou 40 anos de peregrinação no deserto, onde recebeu orientações e mandamentos divinos, e desenvolveu princípios que o tornaria um diferencial entre as nações à sua volta.
-No deserto, também, encontramos João Batista, vivendo, anunciando e preparando o caminho para o Messias, que já estava entre o povo da nação de Israel.
-O próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, foi conduzido ao deserto pelo Espírito Santo, para testificar ao mundo que Satanás seria vencido, de uma vez por todas.
-Paulo, logo após a sua chamada, partiu para o deserto, e após reconstruir sua teologia, voltou para Damasco, pronto para pregar aos gentios.
Assim, podemos afirmar que:
-O deserto não é apenas um lugar de provação e tribulação, mas, acima de tudo, é também o local onde Deus espera que sejamos preparados para mostrar ao mundo a excelência de Seu poder e soberania.
-O deserto não é um lugar onde somos deixados abandonados por Deus para que sejamos alvo fácil para a ação de Satanás. O Senhor nos guia no deserto. Ele está conosco no deserto. A segunda geração dos filhos de Israel viveu no deserto e recebeu de Deus esta promessa: “E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos” (Dt.8.2).
1. A ida do apóstolo Paulo para o deserto
O deserto é uma pedagogia de Deus para o Seu povo. Quando o curso de nossa vida toma esse aspecto, Deus quer ensinar-nos algumas lições importantes. Por mais que os desertos sejam produzidos por situações criadas pelo próprio homem e suas próprias decisões, a Bíblia nos ensina que o deserto, com todas as suas dificuldades, sempre é uma escola de Deus.
No deserto, aprendemos a ouvir a voz de Deus; é um lugar em que Deus fala e nós ouvimos; com isso, aprendemos a ser humildes. Por exemplo, em Deuteronômio 8:2 lemos que o Senhor levou Seu povo ao deserto para fazê-lo humilde. Ou seja, o deserto é uma "lixa" de Deus, que remove a espessa e dura camada de orgulho com a qual nos revestimos nos momentos de prosperidade.
Gálatas 1:17,18 mostra que Saulo esteve na Arábia por três anos. Mas por que ele foi para Arábia? Para ficar a sós com Deus. Disse ele: “...não fui imediatamente consultar outras pessoas, nem fui a Jerusalém para me encontrar com os que já eram apóstolos antes de mim, mas fui para as regiões da Arábia...” (Gl.1:16b,17). Ele preferiu viver em um lugar, na região desértica da Arábia, onde habitavam alguns grupos nômades; ali, ele era totalmente desconhecido.
Todos que foram treinados por Deus no deserto foram grandemente usados por Ele; e quanto mais intenso é o treinamento, mais a pessoa pode ser instrumentos do Altíssimo. Por exemplo:
-Moisés, foi treinado por Deus por 40 anos no deserto, por isso pôde libertar Israel da escravidão e guiar esse povo rumo à Terra Prometida.
Elias, foi graduado na escola do deserto, por isso pôde enfrentar, com bravura, a fúria do ímpio rei Acabe e trazer a nação apóstata de volta para a presença do Senhor.
-Paulo, passou três anos no deserto da Arábia, e foi preparado pelo Espírito Santo para ser o maior líder do cristianismo.
2. As lições do deserto
Saulo passou cerca de três anos na Arábia fazendo um seminário intensivo com Jesus (Gl.1:18), e lá colheu lições preciosas que beneficiariam gerações ao longo da história do Cristianismo. Segundo alguns autores, a Arábia ficava cerca de 320 quilômetros ao sul de Damasco e 160 quilômetros a sudeste de Jerusalém. Vale lembrar que a Arábia era um deserto e não uma metrópole próspera. Ali, Paulo teve comunhão com Deus em vez de comunicação com os homens. Tendo em vista que Jesus passou três anos treinando seus apóstolos, agora investe três anos treinando Saulo, como um apóstolo chamado fora do tempo. Nesse período, Saulo releu o Antigo Testamento e descobriu que aquele mesmo Jesus que outrora perseguira era de fato o Messias prometido (Atos 9:22). O ensino detalhado de Saulo em Damasco, provando que Jesus é o Cristo, provavelmente aconteceu depois de sua estada na Arábia.
Saulo havia sido um fariseu que buscava agradar a Deus pela justiça própria; acreditava ser aceito por Deus por sua religiosidade e suas boas obras. Por causa de seus autoenganos, chegou a perseguir furiosamente a Igreja de Deus para devastá-la. Porém, logo que se converteu, quis ficar a sós com Deus. Ele sabia que precisava aprofundar o seu conhecimento acerca de Jesus Cristo, pois a sua jornada seria de confrontos com dúvidas, oposição e rejeição. Nesse momento não sentiu necessidade de orientação humana, mas da presença e da ajuda de Deus. Ele precisava de um tempo de quietude e solidão para reorganizar sua mente, seus conceitos, seus valores, sua teologia. Antes de falar aos homens, Paulo precisou falar com Deus. Só se levantam diante dos homens aqueles que primeiro se prostram diante de Deus.
3. Mais lições do deserto
No deserto da Arábia, Saulo, como bem diz o pr. Elienai Cabral, “foi despido de toda a filosofia e religiosidade legalista do judaísmo. Lá, ele aprendeu que a simplicidade era a chave que abria a porta do cristianismo, que era preciso dominar suas paixões, substituindo-as pela alegria da salvação em Cristo. Saulo descobre também, na experiência do silencio e da solidão do deserto, que as coisas de Deus são do modo como Ele quer e não como nós queremos. No deserto, Deus ensinou Paulo a ser o líder que Ele precisava para expandir o seu Reino”.
Após sua estada no deserto da Arábia, a sós com Deus, preparando-se para o ministério que Deus lhe vocacionou, Saulo voltou para Damasco, pronto para pregar aos gentios. Logo na primeira viagem missionária, Lucas começa a usar o nome gentio do apóstolo (Paulo) em vez de seu nome judaico (Saulo), uma mudança que indica a propagação florente do evangelho entre os gentios.
CONCLUSÃO
A conversão e a vocação de Paulo é uma das maravilhas do Cristianismo. Sua trajetória, da conversão até o momento em que foi chamado para Antioquia da Síria, onde saiu como missionário, pode ser traçado assim: conversão no caminho de Damasco (Atos 9:1-19a); breve estada em Damasco (Atos 9:19b-22); isolamento na Arábia (Gl.1:17); retorno a Damasco por algum tempo (Atos 9:23); fuga para Jerusalém (Atos 9:23-26; 2Co.11:32,33); encontro com os apóstolos (Atos 9:27,28; Gl.1:18,19); partida para a Síria e Cilícia (Atos 9:30, Gl.1:21).
Paulo tornou-se o maior embaixador de Cristo, o maior pregador do Evangelho; o seu testemunho foi, eminentemente, cristocêntrico; por onde ele passava testemunhava que Jesus é o Filho de Deus e o Messias prometido (Atos 9:20,22). Ele se mostrou sobrenaturalmente habilitado para pregar, manter e defender a verdade quando a pregava; aonde ele pregava, os corações eram impactados com o Evangelho. Não podemos imaginar a Igreja sem Paulo.
Paulo, também, foi o maior escritor de Epístolas às Igrejas - foram 13(treze) epístolas, que fazem parte da maior parte do compêndio doutrinário da Igreja. Divinamente inspiradas pelo Espírito Santo, essas epístolas trazem instruções teológicas indispensáveis à doutrina cristã. Elas instruem os cristãos quanto: a natureza de Deus; o significado do ministério e obra de Cristo; o ministério do Espírito Santo na Igreja; a doutrina da salvação; a doutrina dos acontecimentos que se darão no final dos tempos; o caráter cristão e a aplicação da vontade de Deus na vida prática dos crentes; a ordem no culto; o governo da Igreja; etc. É difícil imaginar o cristianismo sem o apóstolo Paulo. Deus seja louvado pela salvação e chamada desse extraordinário homem.