SISTEMA DE RÁDIO

  Sempre insista, nunca desista. A vitória é nosso em nome de Jesus!  

PAULO, O PLANTADOR DE IGREJAS

 

Texto Base: 1 Coríntios 3:6-9; Atos 13:1-3; 16:1-5,9,10

 

 “Eu plantei: Apolo regou; mas Deus deu o crescimento” (1Co.3:6).

V.P.: “A experiência com Cristo é o mais poderoso fator motivacional para plantar igrejas”.

 

1Coríntios 3:

6.Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.

7.Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.

8.Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho.

9.Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.

Atos 13:

1.Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.

2.E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.

3.Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.

Atos 16:

1.E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego,

2.do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio.

3.Paulo quis que este fosse com ele e, tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.

4.E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém

5.de sorte que as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia cresciam em número.

9.E Paulo teve, de noite, uma visão em que se apresentava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos!

10.E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do tema: “Paulo, o plantador de Igrejas”. Após sua conversão, ter sido batizado nas águas e recebido a plenitude do Espírito Santo, Paulo foi impulsionado ao exercício da missão para o qual foi designado pelo Senhor Jesus: a obra missionária aos gentios (Atos 9:15; 13:2). Por onde ele passava uma Igreja Local era plantada e Deus dava o crescimento. O Senhor mesmo levantou Paulo como o maior evangelista, o maior missionário, o maior pastor, o maior pregador, o maior teólogo e o maior plantador de igrejas da história do Cristianismo. Ele plantou igrejas na região da Galácia, nas províncias da Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Não apenas plantou igrejas, mas pastoreou-as com intenso zelo, profundo amor e com forte senso de responsabilidade. Pesava sobre ele a preocupação com todas as igrejas (2Co.11:28).

I. PAULO, O DESBRAVADOR SOB UMA GLORIOSA OBRIGAÇÃO

1. Paulo, o desbravador

Indubitavelmente, Paulo foi o mais notável desbravador do evangelho entre os gentios; ele se mostrou sobrenaturalmente habilitado para pregar, manter e defender a verdade quando pregava. Deus mesmo o escolheu para levar o evangelho aos gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (Atos 9:15). Ele pregou a tempo e a fora de tempo; pregou em prisões e em liberdade; pregou com saúde ou doente; pregou nos lares, nas sinagogas, no templo, nas ruas, nas praças, em praias, em navios, em salões dos governos, em prisões e em escolas. Pregou com senso de urgência, com lágrimas e no poder do Espírito Santo. Aonde Paulo chegava, corações eram impactados com o evangelho. Ele pregava usando não apenas palavras de sabedoria, mas com demonstração de poder do Espírito Santo (1Co.2:4; 1Ts.1:5). Ele é considerado pelos estudiosos da Bíblia como o mais notável embaixador de Cristo e pregador do Evangelho. Seu testemunho era cristocêntrico – “Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo. E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm.15:18-20).

A vida e ministério de Paulo constrangem-nos a cumprir a nossa obrigação de pregar o Evangelho. A ordem do Senhor é que devemos ir ao encontro do mundo, ir ao encontro dos pecadores e levar-lhes a mensagem da salvação em Cristo Jesus, utilizando os meios disponíveis. O homem não tem condições de salvar-se a si próprio, além disso, o deus deste século lhe cegou o entendimento para que não tenha condições de ver a luz do evangelho da glória de Cristo (2Co.4:4). Portanto, é tarefa da Igreja ir ao encontro de judeus e de gentios para lhes anunciar as boas-novas da salvação.

2. Uma gloriosa obrigação

O apóstolo Paulo foi um desbravador de Cristo sob uma gloriosa obrigação. Paulo afirmou aos crentes da Igreja de Corinto: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co.9:16). Aqui, Paulo afirma que uma compulsão divina pesava sobre ele. Não foi ele quem escolheu essa obrigação para si. Ele foi chamado pelo Senhor, e seria o homem mais miserável do mundo se não tivesse obedecido a missão que Jesus tinha determinado a ele. Isso não significava que o apóstolo não estava disposto a pregar o evangelho, mas que a decisão de pregar não havia partido dele próprio, mas do Senhor (cf. Atos 9:15). Essa é uma gloriosa obrigação que se estende a todos nós, servos de Cristo. Ele nos deu a ordem, e esta ordem é para que se pregue a toda criatura, mesmo aquela que, pela sua conduta, pela sua forma de proceder, é alvo de todo ódio, de toda repugnância, de todo o desprezo da sociedade e do mundo (vide Mc.5:1-20).

3. Plantação de igrejas, uma parceria

Cristo comparou o coração humano a um terreno onde a semente da Palavra é semeada (Mt.13:10,18-23). Portanto, para que igrejas surgem é necessário que a Palavra seja semeada, e quando esta Palavra cair em “boa terra” (Mt.13:8) igrejas surgirão. Todavia, para “plantar” igrejas é de bom alvitre não fazer a obra sozinho, é bom que se tenha cooperador na obra. Na Bíblia há um bom conselho: melhor é serem dois do que um, porque maior é o pagamento pelo seu trabalho” (Ec.4:9).

Em suas viagens missionárias, plantando igrejas, Paulo nunca foi sozinho. Em sua Primeira Viagem Missionária, o Espírito Santo ordenou: “...Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (Atos 13:2). Foi o próprio Espírito Santo quem enviou os missionários ao campo missionário. Certa feita “Jesus chamou os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos” (Mc.6:7). Em outra ocasião, “o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir” (Lc.10:1).

Portanto, é da vontade do Espírito Santo que a missão de pregar o Evangelho, fundar igrejas, seja feita sob a orientação do Espírito Santo, que requer que este glorioso trabalho seja feito em parceria. É importante esclarecer que, conquanto a parceria seja importante, o Espírito Santo é o Agente principal nesta “lavoura”; sem Ele, dificilmente há uma “plantação” profícua.

Em 1Co.3:6, Paulo usa uma imagem da agricultura para mostrar que os servos são, de fato, bastante limitados quanto à sua atuação – “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento”. Paulo podia plantar e Apolo podia regar, mas somente Deus podia dar o crescimento. Hoje, alguns podem pregar a Palavra e todos podem orar por parentes e amigos descrentes, mas a obra da salvação propriamente dita só pode ser realizada pelo Senhor. Ao olhar por esse ângulo, vemos que “o que planta” e “o que rega” na verdade não são tão importantes, pois não têm o poder de produzir vida. Que motivo há, então, para a inveja e a rivalidade entre os obreiros cristãos? Cada um deve realizar as tarefas das quais foi incumbido e alegrar-se quando o Senhor prospera a Sua Obra.

II. ANTIOQUIA, O PONTO DE PARTIDA PARA O CRESCIMENTO DA IGREJA

1. Uma Igreja missionária

A Igreja de Antioquia foi o modelo de igreja para todas as épocas do Cristianismo. Em Antioquia, o ministério era completo: a Igreja estudava a Palavra de Deus (Atos 13:1), buscava a face de Deus em oração (Atos 13:3), cumpria a comissão estabelecida pelo Senhor (Mt.28:19,20) e obedecia a Deus (Atos 13:3). Ela tinha profetas e mestres, ou seja, pregava e ensinava a Palavra de Deus (Atos 13:1), mas quem a dirigia na obra missionária era o Espírito Santo (cf. Atos 13:2). O Espírito Santo é livre e soberano na condução dos destinos da Igreja. A orientação do Espírito Santo é segundo a Palavra de Deus, e não à parte dela. O Espírito Santo se manifesta a uma Igreja centralizada na Palavra de Deus e a uma Igreja que ora e jejua (Atos 13:2,3).

A Igreja de Antioquia era aberta às pessoas de qualquer etnia e status social. Os cinco líderes mencionados em Atos 13:1-4 - Barnabé, Simeão por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém e Saulo -, simbolizavam a diversidade étnica e cultural da Igreja em Antioquia.

ü  Barnabé era um judeu natural da ilha de Chipre.

ü  Simeão era africano, uma vez que a palavra “Níger” significa “de aparência escura” - alguns sugerem que esse Simeão é o mesmo homem de Cirene que levou a cruz de Cristo (Lc.23:26), que agora é um dos principais responsáveis por levar diretamente a história da cruz a todo o mundo.

ü  Lúcio era de Cirene, ou seja, do norte da África.

ü  Manaém tinha conexões com a aristocracia e a corte, pois era irmão de leite de Herodes Antipas, o rei que mandou matar João Batista e escarneceu de Jesus em seu julgamento.

ü  Saulo era judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e também cidadão romano.

Vale destacar que entre os cinco veteranos da Igreja em Antioquia, Saulo, com admirável modéstia, estava contente com a posição mais inferior.

Antioquia era uma Igreja missionária. Dentre os seus mem­bros, saíram os primeiros missionários transculturais do Cristianismo. Dali, a Igreja de Cristo, irradiando-se a partir do Oriente Médio, universalizou-se até chegar a nós. Enquan­to a Igreja de Antioquia e os seus obreiros oravam, jejuavam e serviam ao Senhor, o Espírito Santo ordenou: "Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At.13:2). Vê-se que o Espírito Santo não age à parte da Igreja, mas em sintonia com ela. É a Igreja que jejua e ora; é a Igreja que impõe as mãos e despede, mas é o Espírito Santo quem envia os missionários. Assim, os missionários exercem seu ministério pelo Espírito Santo. Foi o próprio Espírito Santo quem enviou os missionários para o campo de trabalho (Atos 13:3,4).

2. A Primeira Viagem Missionária

A Primeira Vagem Missionária contém o relato do primeiro período de atividade missionária de Paulo e Barnabé. É a viagem que mais tem direito de ser chamada de “viagem missionária”. Ela descreve o primeiro ato planejado de “missão estrangeira” por representantes de uma Igreja específica, e não por indivíduos isolados; e se iniciou por uma decisão deliberada da Igreja, ordenada pelo Espírito Santo, e não tanto por causa da perseguição aos cristãos. Está escrito: “E servido eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13:2,3). Com estas palavras começou o grande movimento missionário da Igreja “até aos confins da terra” (Atos 1:8).

Primeiramente, os dois apóstolos pregaram na Ilha de Chipre (Atos 13:1-12) - “E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre” (Atos 13:4). Este versículo inicia o registro dessa Primeira Viagem Missionária, que se estendeu até Atos 14:26. Veja que os dois apóstolos desceram primeiro a Selêucia, um porto a cerca de vinte e cinco quilômetros de Antioquia; de lá, navegaram para a ilha de Chipre. Depois de chegarem a Salamina, na costa leste de Chipre, visitaram várias sinagogas, onde anunciaram a Palavra de Deus. Saindo de Salamina, atravessaram toda a ilha até Pafos (capital de Salamina – principal cidade comercial). Em Pafos, o apóstolo desmascarou o feiticeiro Elimas, o encantador, e ganhou o procônsul para Cristo.

De Pafos, os missionários rumaram para Perge da Panfília. A Panfília era uma província romana localizada na costa sul da Ásia Menor, cuja população era devota de Diana (Ártemis, para os romanos); Perge era sua capital.

Em Antioquia da Psídia, Paulo e Barnabé dirigiram-se à sinagoga, num sábado. Na ocasião, foi dado a oportunidade para eles falarem. Paulo, que nunca perdia uma oportunidade de pregar o evangelho, levantou-se e dirigiu-se aos presentes na sinagoga. Sua abordagem consistiu em iniciar com a história judaica e conduzir os ouvintes até os acontecimentos associados à vida e ao ministério de Cristo. Em seguida, proclamou com grande ênfase a ressurreição de Cristo, anunciou a remissão dos pecados por intermédio do Salvador e, por fim, advertiu sobre os perigos de rejeitá-lo. O ministério desses dois pregadores dedicados exerceu forte impacto sobre muitos membros daquela comunidade (Atos 13:44). Entretanto, a popularidade dessa “mensagem estranha”, encheu os judeus de inveja “e, blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia” (cf. Atos 13:45). Levantaram perseguição tão intensa que Paulo e Barnabé foram expulsos da região. Os apóstolos, então, seguiram as instruções de Jesus (Lc.9:5,10:11): “sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio” (cf. Atos 13:50,51).

Em Icônio, como em outros lugares onde havia uma sinagoga, Paulo e Barnabé tiveram oportunidade de pregar, pois era costume na época dar a palavra a visitantes. O Espírito Santo conferiu tamanho poder à mensagem dos pregadores que um grande número de judeus e prosélitos gentios aceitou o Senhor Jesus. Os judeus que rejeitaram o evangelho se iraram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos. Apesar de saberem que uma tempestade estava se formando, Paulo e Barnabé continuaram a falar ousadamente em nome do Senhor, o qual confirmava a natureza divina da mensagem dando-lhes poder para realizar sinais e prodígios (cf. Atos 14:3). À medida que a tensão crescia a cidade dividiu-se naturalmente em dois grupos - alguns tomaram partido dos judeus e outros dos apóstolos. Por fim, gentios e judeus incrédulos investiram contra os apóstolos. Para escapar do apedrejamento que os esperava, os missionários fugiram para as cidades de Listra e Derbe (Atos 14:6), cidades da Licaônia, no centro da Ásia Menor. Com o mesmo ardor e ousadia, anunciaram o evangelho em toda a região (Atos 14:7).

Em Listra, os missionários encontraram um homem aleijado de nascença que ouviu Paulo falar e demonstrou grande interesse. Assim que ouviu a ordem de Paulo para que ficasse em pé, o paralítico saltou e andou. O milagre foi realizado em público. Ao perceberem o que havia acontecido, as multidões, inclusive o sacerdote de “júpiter”, ficaram tão impressionadas que começaram a adorar Barnabé como se fosse “Júpiter” e Paulo como se fosse “Mercúrio”. Imaginavam que os “deuses” haviam descido à terra para fazer uma visita e assumido a forma dos dois missionários. Os apóstolos, porém, explicaram que não eram deuses, mas homens, como os licaônicos. Dissera que o objetivo deles ali era apenas proclamar as boas-novas para que as pessoas deixassem as coisas vãs e adorassem o Deus vivo (cf. Atos 14:14,15). Após a explanação de Paulo sobre a criação (cf. Atos 14:15b-17), o povo relutante desistiu, por fim, da ideia de oferecer sacrifícios aos servos do Senhor.

Judeus de Antioquia da Pisídia e Icônio alcançaram Paulo e Barnabé em Listra e conseguiram voltar a multidão contra os missionários. A mesma multidão que, pouco antes, quis adorá-los como se fossem deuses apedrejou Paulo e arrastou-o para fora da cidade, dando-o por morto. Contudo, Deus o restaurou miraculosamente. Quando os discípulos o rodearam, ele levantou-se e voltou à cidade com eles. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe (Atos 14:20).

Numa demonstração de resiliência e poder de recuperação extraordinário, depois de anunciarem o evangelho em Derbe, voltaram para Listra, onde Paulo havia sido apedrejado (Atos 14:21-23). Ao completarem seu trabalho em Listra, os missionários voltaram a Icônio e Antioquia da Pisídia, onde já haviam sido organizadas algumas igrejas (Atos 14:24). O objetivo dessa vez era fazer o que chamamos de “discipulado”. Eles procuraram edificar os cristãos na fé santíssima, ensinando-os especialmente acerca da Igreja e da sua importância no plano de Deus.

Depois de orar e jejuar, Paulo e Barnabé encomendaram os cristãos ao Senhor. Podemos imaginar como as congregações se formavam com tanta rapidez, recebiam instruções dos missionários por tão pouco tempo e, ainda assim, continuavam a refletir a luz de Cristo e funcionar como igrejas autônomas. Esse fenômeno deveu-se exclusivamente ao grande poder do Espírito Santo, o poder que se manifestou na vida de homens como Paulo e Barnabé, que exerciam uma influência espiritualmente positiva por onde passavam. Sua autenticidade e exemplo de vida corroboravam o que pregavam em público.

Atravessando a região da Pisídia, viajaram para o sul e chegaram à Panfília. Lá, fizeram mais uma visita a Perge. Em seguida, desceram à cidade portuária de Atália, de onde navegaram para Antioquia, na Síria, encerrando, assim, a Primeira Viagem Missionária (cf. Atos14:24-26). “Quando chegaram a Antioquia, reuniram a Igreja e relataram tudo o que Deus havia feito com eles e como tinha aberto aos gentios a porta da fé. E permaneceram muito tempo com os discípulos” (Atos 14:27,28).

3. A Segunda Viagem Missionária

Depois do Concílio de Jerusalém (Atos 15), Paulo resolveu empreender a sua Segunda Viagem Missionária. Tinha dois objetivos: visitar as igrejas que ele fundara durante a sua primeira viagem e abrir novos campos de trabalho (ler Atos 15:36,41). Barnabé decidira levar João Marcos com eles; porém, Paulo rejeitou a ideia, alegando que João Marcos os havia deixado em meio à viagem anterior, voltando a Jerusalém. Tal contenda causou a divisão entre ambos (Atos 15:39).

Este conflito entre Paulo e Barnabé levanta, inevitavelmente, a pergunta: “Quem estava com a razão, Paulo ou Barnabé?”. Segundo William Macdonald, é provável que os dois tenham errado. Talvez Barnabé tenha se deixado levar por sua afeição natural por Marcos. De acordo com o versículo 39, a desavença entre Paulo e Barnabé foi séria. “Da soberba resulta a contenda” (Pv.13:10). Assim, as duas partes foram culpadas de dar lugar à soberba. Quem dá razão a Paulo chama a atenção para o fato de Barnabé desaparecer da história desse momento em diante. Ademais, “Paulo partiu com Silas encomendado pelos irmãos à graça de Deus” (Atos 15:40). O texto não indica que foi o caso com Barnabé e João Marcos; de qualquer modo, é animador lembrar que Marcos amadureceu e reconquistou a plena confiança de Paulo. Mais tarde, Paulo mudou de ideia a respeito de João Marcos, uma vez que o chamou de cooperador (Fm.23:24), recomenda-o à Igreja de Colossos (Cl.4:10) e roga a Timóteo que o leve a Roma, quando de sua prisão, pois lhe era útil para o ministério (2Tm.4:11).

A providência de Deus é maior do que nossos fracassos, e a graça de Deus maior que os nossos pecados. Por causa dessa desavença, a Segunda Viagem Missionária, agora, tem duas lideranças - Barnabé acompanhado de João Marcos foi novamente a Chipre, enquanto Paulo, levando Silas em sua companhia, saiu a percorrer a Ásia Menor, visitada durante a Primeira Viagem Missionária, e entregando às igrejas cópias da decisão apostólica tomada no Concílio de Jerusalém (Atos 16:4,5). Os obreiros podem errar, mas os propósitos de Deus jamais podem ser frustrados.

Paulo e Silas partiram de Antioquia da Síria, de onde havia uma estrada que ia até Tarso e Ásia Menor. Portanto, nessa Segunda Viagem, o apóstolo dos gentios viajou por terra, atravessou a Cicília, região onde se situava Tarso, sua terra natal (não há registro de que ele tenha realizado trabalhos missionários em Tarso), e seguiu direto para Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, a fim de fortalecer as igrejas (cf. Atos 15:36-16:8). Além dessas, visitou as cidades de Troade, Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto e Éfeso. Outras cidades foram visitadas.

No decurso da viagem, a equipe missionária estava planejando avançar em direção à Ásia, mas o Espírito de Jesus não a permitiu (Atos 16:6,7). Durante a noite, Paulo teve uma visão, na qual um varão macedônio lhe rogava ajuda. Discernindo ser essa a vontade de Deus, imediatamente Paulo e os demais membros da caravana partiram para aquele destino (Atos 16:8-10). Conforme argumenta o pr. Hernandes Dias Lopes, “Deus não apenas chama e envia os missionários, mas norteia-lhes os passos. A agenda da obra missionária deve ser estabelecida no Céu, e não na Terra. O campo é o mundo, mas as prioridades do campo são estabelecidas por Deus. Devemos seguir a direção de Deus, e não a nossa. Nossos planos devem estar subalternos aos planos de Deus. A vontade dele deve prevalecer sobre a nossa”.

Nesta Segunda Viagem, inúmeras igrejas foram visitadas, plantadas e ampliadas. Quando o missionário ou evangelista está na dependência do Espírito Santo, há uma visão ampliada acerca do Reino de Deus.

III. CARACTERÍSTICAS DE UM PLANTADOR DE IGREJAS

1. Motivado pelo chamado

Paulo era cônscio do chamado divino para pregar o evangelho aos gentios, e esta conscientização foi o fator motivacional que o fez enfrentar os desafios que apareceram diante dele durante todo o seu ministério apostólico. Todavia, o primeiro compromisso dele não foi com a obra de Deus, mas com o Deus da obra. Relacionamento com Deus precede trabalho para Deus.

Conforme argumenta o pr. Hernandes Dias Lopes, o primeiro chamado de Paulo foi para andar com Deus e, como resultado dessa caminhada, fazer a obra de Deus. Ele serviu a Deus ministrando às pessoas. Quem serve a Deus não busca projeção pessoal. Quem serve a Deus não anda atrás de aplausos e condecorações. Quem serve a Deus não depende de elogios nem desanima com as críticas. Quem serve a Deus não teme ameaças nem se intimida diante de perseguições. Quem teme a Deus não teme os homens, nem o mundo, nem mesmo o diabo. O líder espiritual deve servir a Deus com senso de profunda humildade. Muitos batem no peito, arrogantemente, dizendo que são servos de Deus; outros, besuntados de orgulho, fazem propaganda de seu próprio trabalho; outros servem a Deus, mas gostam dos holofotes. Há aqueles que fazem do serviço a Deus um palco onde se apresentam como os atores ilustres sob as luzes da ribalta. Um servo não busca glória para si mesmo. Fazer a obra de Deus sem humildade é construir um monumento para si mesmo, é levantar outra modalidade da torre de Babel.

Argumenta o pr. Elienai: “Deus nos chama e confirma esse chamado no Corpo de Cristo (At.9:17-22). Na vida de Paulo, tudo começou no caminho para Damasco (At.9:4,5). Esse começo tornou-se um elemento motivador no ministério do apóstolo (At.26:14,19)”. Porém, como bem diz o pr. Hernandes Dias Lopes, “a vida ministerial não lhe foi amena. Em vez de ganhar aplausos do mundo, recebeu ameaças, açoites e prisões. Paulo manteve sua consciência pura diante de Deus e dos homens, mas os judeus tramaram ciladas contra ele. Viveu num campo minado. Enfrentou inimigos reais, porém, às vezes, ocultos. Nem sempre Deus nos poupa dos problemas; às vezes, Ele nos treina nos desertos mais tórridos e nos vales mais profundos e escuros”.

Em determinados momentos de seu ministério, as tribulações e perseguições foram tão atrozes que Paulo chegou até mesmo perder a esperança da própria vida. Assim ele narra: “Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida” (2Co.1:8). Paulo não descreve o fato, mas declara como se sentiu depois de ter passado por esse terremoto existencial. Ele estava num beco sem saída. Ele estava em completo desespero. Como se sentir motivado diante de uma situação como essa que Paulo enfrentou? Se ele não tivesse um relacionamento estreito com o Espírito Santo, dificilmente teria ânimo para continuar. Porém, Deus estava no controle das tribulações de Paulo. Ele se sentia oprimido como um animal de carga levando um peso grande demais, no entanto, Deus sabia exatamente o quanto Paulo poderia suportar e manteve a situação sob controle. Paulo nunca perdeu a motivação de fazer a Obra de Deus.

2. Experimentado no deserto da vida

Para o cristão, o deserto não é apenas um momento de dificuldade na vida, mas a nossa trajetória até à “Terra Prometida”. Ao sair do Egito, Deus podia ter levado o povo de Israel por uma trajetória mais curta a Canaã, mas preferiu que a trajetória do seu povo fosse pelo deserto impiedoso e desafiador; foi ali que Deus trabalhou o temperamento, o caráter e personalidade do seu povo, e falou diretamente com ele. É no deserto da vida que o nosso caráter é polido e somos habilitados para fazer a obra de Deus com pujança. O deserto é pedagógico; ali está a escola de Deus; é ali que Deus fala aos nossos corações e nos ensina. O apóstolo Paulo foi experimentado no deserto da Árabia (Gl.1:17,18); ali, seu caráter foi polido e sua teologia modificada; ali, Paulo esteve bem perto de Deus e foi treinado ao exercício do ministério para o qual foi vocacionado.

Mas, no deserto da vida não é fácil a sobrevivência; é imprescindível um quite de sobrevivência. Sabe para que? Para que não morramos no deserto; para que não nos percamos no deserto; para que a nossa trajetória seja segura e proveitosa. Se não quisermos morrer no deserto da vida, se não queremos ficar perdidos nessa vida, se queremos uma caminha segura e proveitosa, para poder atingir o objetivo que pretendemos alcançar, então é imprescindível que tenhamos à nossa disposição um quite de sobrevivência. Vou citar apenas três elementos:

a) Precisamos da direção de Deus

Israel, precisou da direção de Deus. Está escrito: “e o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite” (Êx.13:21). Sem a direção de Deus não adianta. Moisés disse ao Senhor: “se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui” (Êx.33:15). Só quem conhece o caminho no deserto é Deus.

b) Precisamos de água potável, pura

O deserto é um ambiente hostil e potencialmente perigoso para seres humanos que não se encontrem preparados. Nos desertos quentes, as altas temperaturas causam perda rápida de líquidos em decorrência do suor, além da ausência de fontes de água para auxiliar a recuperação dos líquidos perdidos. Como consequência, isso pode resultar na desidratação, seguida de morte em poucos dias. Some-se a isso o fato de os seres humanos ficarem sujeitos ao risco de insolação, ou seja, uma exposição excessiva ao sol, que irá prejudicar muito a saúde.

Sem água potável o povo de Israel teria sido extinto. Está escrito: “Então, chegaram a Mara; mas não puderam beber as águas de Mara, porque eram amargas; por isso, chamou-se o seu nome Mara. E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? E ele clamou ao SENHOR, e o SENHOR mostrou-lhe um lenho que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces” (Êx.15:23-25). Deus fez brotar água no deserto para que Israel não morresse de sede.

Observe que a primeira vez que o povo de Deus teve contato com água, após a travessia do mar vermelho, eram águas amargas. Água amarga nos fala de provações.  Às vezes, a vida fica amarga para o nosso lado; se não vigiarmos, murmuraremos contra Deus; isso é muito perigoso. Sabe por quê? Porque quando murmuramos estamos dizendo que Deus não está sendo suficiente para conosco. Murmuração é uma reclamação descabida contra Deus. Precisamos de discernimento nestes momentos amargos da nossa jornada no deserto desta vida. Deus pode estar nos provando, testando a nossa fé nele.

E o que simboliza a água para a Igreja? Simboliza Jesus Cristo. Se a pessoa não beber dessa Água, ela vai morrer desidratada pelo pecado. Por isso, Jesus disse: “e, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (João 7:37,38). Jesus é a Água da vida que pode saciar a sede espiritual do ser humano. Então, beba dessa Água, e viva para sempre!

c) Precisamos de Pão

Em Êxodo 16 diz que, no deserto, caía “pão” do Céu todo dia e o povo era alimentado. Estamos falando do maná - “Então, disse o SENHOR a Moisés: Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá e colherá cada dia a porção para cada dia, para que eu veja se anda em minha lei ou não” (Ex.16:4); “E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Porque não sabiam o que era. Disse-lhes, pois, Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer” (Êx.16:15).

Todo dia o povo precisava de alimento, do maná, senão o povo não aguentava; não teria proteína, nutrientes. Então, Deus fez chover pão do Céu todo dia - o maná. E o maná representava a Palavra de Deus, o próprio Jesus Cristo. O povo tinha que comer o maná todo dia, porque no deserto se não tivermos proteínas, se não tivermos nutrientes, enfraqueceremos e morreremos.

Isto se aplica à nossa trajetória aqui. Como é que queremos sobreviver no deserto da vida se não nos alimentarmos da Palavra de Deus? Como pode um crente não abrir a Bíblia para ler? Muitos têm a Bíblia apenas para enfeite; só serve de enfeite de cabeceira de cama ou de estante de sala.

A Bíblia, que é a Palavra de Deus, nutre o homem interior. O Salmista desejava ser nutrido da Palavra de Deus: “Sustenta-me conforme a tua Palavra, para que viva, e não me deixes envergonhado da minha esperança. Sustenta-me, e serei salvo e de contínuo me alegrarei nos teus estatutos” (Sl.119:116,117). Precisamos de uma substância forte neste deserto da vida; podemos encontrar isso na Palavra. A Palavra de Deus é muitíssimo forte. O Salmo 107:19,20 declara: “Então, clamaram ao SENHOR na sua angústia, e ele os livrou das suas necessidades. Enviou a sua Palavra, e os sarou, e os livrou da sua destruição”.

Não podemos nos esquecer de que o deserto é um lugar de passagem e não de moradia. O deserto é um lugar de aprimoramento. Antes de Davi se assentar no trono de Israel, ele teve que passar pelo deserto. Antes de Israel chegar na terra de “leite e mel”, teve que atravessar o deserto. Antes de Paulo ser embaixador de Cristo, ele esteve no deserto. Antes de Deus nos colocar em um lugar privilegiado, precisamos enfrentar o deserto.

Se estamos vivendo em provações, tribulações, se temos sentido muitos apertos neste deserto da via, saiba que o Senhor está no controle; portanto, não murmure, apenas adore ao Senhor. Veja o trecho do Salmo 34:17-20: “Os justos clamam, e o SENHOR os ouve e os livra de todas as suas angústias. Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito. Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o livra de todas. Ele lhe guarda todos os seus ossos; nem sequer um deles se quebra”. “No dia da minha angústia, clamo a ti, porque me respondes” (Salmos 86:7). “O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam” (Naum 1:7).

3. A Igreja segundo as Escrituras

A Igreja segundo as Escrituras é aquela que se assemelha a Igreja de Atos dos apóstolos – uma Igreja que vive na dimensão do Espírito, cujos fiéis têm um relacionamento pessoal com a Trindade divina. Nesta Igreja, o amor é o seu pilar principal; nela, há batismo no Espírito Santo para o exercício da obra de Jesus; nela, há profusão dos dons espirituais, ministeriais e de serviços (1Co.12:28-31); nela, os demônios são expulsos, os enfermos são curados e a operação de sinais e maravilhas são evidentes; nela, a pregação é cristocêntrica e com a autoridade do Espírito Santo; nela, os novos convertidos são batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; nela, há contínua oração e vigilância, pois esperamos Jesus voltar a qualquer momento para nos arrebatar e nos levar ao Céu, conforme prometido (João 14:1-3). Enquanto a Igreja estiver aqui, ela deve viver segundo os ditames das Escrituras Sagradas, pois elas são a regra de fé e prática dos filhos de Deus.

CONCLUSÃO

Paulo teve um chamado mui especial para realizar a obra missionária; acredito que ele foi ímpar em tudo o que realizou. Nada no mundo e nem os obstáculos advindos do próprio Satanás, o impediu e o desmotivou de cumprir até o fim o seu ministério apostólico. Ele mesmo disse na antessala do martírio: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm.4:7). 

Mas, a obra missionária não foi dada somente ao apóstolo Paulo, foi dada a cada crente salvo em Cristo. Cada crente deve envolver-se com a evangelização dos pecadores. Cada cristão deve ser uma fiel testemunha de Cristo. Cada crente pode ser um plantador de Igrejas. É vontade de Deus que pessoas sejam chamadas por Ele para se tornarem plantadoras de igrejas. A missão da Igreja de Cristo é evangelizar. A Igreja não foi edificada por Cristo para construir escolas, fundar hospitais ou assumir cargos políticos, por mais dignas que sejam tais realizações, mas para cumprir com o mandato de “ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15).