Romanos 12:
1. Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
3. Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
16. Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos.
17. A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da sutileza das redes e das mídias sociais, que são aplicações que operam através da internet e que tem como finalidade conectar pessoas e organizações. A internet teve origem no século passado e se desenvolveu muito a partir do início deste século. Foram nos últimos vinte e dois anos que as principais redes e mídias sociais se propagaram grandemente. Essa propagação ganhou ainda mais força com o crescimento das tecnologias mobile. Hoje a maior parte dos acessos à internet é proveniente de aparelhos portáteis como, principalmente, o smartphone. São exemplos de redes sociais: WhatsApp, Facebook, Twitter, Instagram, Linkedin. São exemplos de mídias sociais: YouTube, TikToc e blogs.
O mundo virtual tornou o nosso planeta uma aldeia, e que a Igreja precisa, com equilíbrio e prudência, se adequar à essa situação, porém, jamais prescindindo do ambiente real de comunhão. As redes e mídias sociais são uma feramente poderosa utilizada no mundo econômico, acadêmico, social e religioso. Sendo uma ferramenta, elas impõem um desafio ético e moral por parte de quem usa. Nesse aspecto, os cristãos precisam estar conscientes de como devem fazer uso de redes e mídias sociais. É preciso ter cuidado para não coisificar o ser humano no ambiente virtual, bem como se engodar com a cultura mundana, desviada dos valores morais absolutos exarados nas Escrituras Sagradas. Saber conviver e andar nesse espaço é de suma importância para o testemunho cristão.
I. OS CRISTÃOS NA ERA DIGITAL
1. A realidade do universo on-line
Nas últimas décadas várias mudanças foram inseridas nas sociedades de todo o mundo, devido ao avanço tecnológico de meios de comunicação de última geração: internet, satélites, computadores, telefones celulares, smartphone, dentre outros. Assistimos as transformações na forma de agir e pensar, no estilo de vida, nos desejos, na conduta e nas atitudes sociais, religiosas, políticas e econômicas. É a realidade do universo on-line, onde tudo se movimenta com muita facilidade e rapidez para as diversas direções. É um mundo totalmente diferente de quinze anos atrás, e a igreja está, embora não queira, inserida neste contexto. Desta feita, deve-se utilizar esses meios de comunicação modal para atender a Grande Comissão de Cristo (Mt.28:19,20).
Com o surgimento das redes e mídias sociais como YouTube, TikToc, WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter etc., muitos cristãos diziam que os seus perfis tinham a finalidade de falar de Jesus; mas, infelizmente, não foi exatamente isso o que aconteceu. A maioria dos crentes está transferindo para o virtual os seus maus hábitos reais. Não se vê evangelização, não se vê pregação e não se vê testemunhos; vê-se, sim, muitas brigas, contendas e testemunhos duvidosos. Se por um lado as redes sociais facilitam encontros e contatos entre amigos e parentes distantes, por outro lado elas têm multiplicado intrigas, traições, adultérios e a destruição de lares. Esse efeito nocivo pode ser minimizado, senão anulado, se cada crente as utilizar para ganhar os pecadores digitais para o Cristo real. O crente não deixará de ser uma testemunha real de Jesus (Atos 1:8) pelo simples fato de as interações sociais acontecerem de forma virtual.
2. Cristãos conectados
No princípio da Igreja a conexão entre os cristãos era através de cartas; era, portanto, um mundo muito lento em todos os aspectos. Apesar das dificuldades de comunicação, os cristãos conseguiam interação com cristãos de outra região (Cl.4:16). Foi por meio desse instrumento que eles compartilharam os princípios eternos da Palavra de Deus entre si (2Pd.3:15). Hoje, essa interação, que acontece por intermédio das redes e das mídias sociais, é muito mais eficiente e muito mais dinâmica, e muito mais célere; e com a chegada da tecnologia 5G a velocidade de comunicação virtual será espantosa.
Somos, portanto, a geração da comunicação virtual, da internet banda larga, da celeridade, do nanosegundo. O mundo hoje é uma aldeia global. A velocidade com que as informações se multiplicam e se propagam é espantosa. Alcançamos o mundo na ponta de nossos dedos, e o colocamos dentro da nossa sala de estar e na palma das nossas mãos, com um click. Em tempo real, assistimos, concomitantemente, ao que se passa no planeta Terra, essa pequena aldeia global. Isso, contudo, não deve surpreender-nos porque todo este avanço já estava previsto na Bíblia Sagrada – “...agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer” (cf. Gn.11:6).
Apesar de o pecado estar virulento no universo on-line, inúmeras portas têm sido abertas e a Palavra de Deus tem chegado a lugares que dantes seria humanamente impossível penetrar. A igreja deve abraçar com toda ousadia essa oportunidade e não satanizá-la. Estamos no universo virtual, mas o pecado da humanidade é real, e somente o Evangelho de Cristo pode oferecer esperança à humanidade.
II. OS DESAFIOS DE SER IGREJA NA ERA DIGITAL
“O desafio dos cristãos no universo online passa pelos perigos da desumanização e do mundanismo”.
1. Desumanização
Nunca estivemos tão conectados, mas nunca estivemos tão sós. Estudos recentes demonstram que quanto maior a frequência no uso da Internet maior é o sentimento de solidão, que é acentuado pelas redes sociais. Segundo estudos realizados por psicólogos americanos, as redes sociais estão fazendo com que seus usuários se sintam mais solitários. Pesquisa publicada num “Periódico Americano de Medicina Preventiva” aponta que acessar mídias e aplicativos sociais - como Twitter, Facebook, WhatsApp e Instagram - por mais de duas horas por dia, dobra a probabilidade de alguém se sentir isolado. O estudo sugere que quanto mais tempo uma pessoa fica online, menos tempo ela tem para interações no mundo real. A falta de equilíbrio tem desencadeado crises emocionais, ansiedades e isolamentos.
A navegação pelas redes sociais também pode despertar sentimentos de exclusão - inveja, por exemplo -, quando se vê fotos de amigos se divertindo em eventos para os quais não se foi convidado. Segundos estudiosos sobre esse assunto, há uma epidemia de problemas mentais e de isolamento social entre jovens adultos. Aparentemente, as redes sociais criam oportunidades de socialização, mas elas não surtem os efeitos que se espera. A despeito de sua importância neste mundo pós-moderno, as redes sociais tendem a nos isolar em vez de nos aproximar.
O pr. José Gonçalves afirma que “o universo virtual cria a falsa impressão de que é possível ser igreja sem relacionamento real. Nesse aspecto, o mundo virtual desumaniza as pessoas. É por isso que o ciberespaço é o universo preferido dos desigrejados. Eles dizem não precisar da Igreja Local (Hb.10:25), que existe de forma real, para expressar a sua espiritualidade, o que evidentemente é um erro. Na Igreja de Cristo, as pessoas não apenas interagem, mas existem e se completam”.
A Bíblia mostra a importância do relacionamento interpessoal, do companheirismo: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque, se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (Ec.4:9,10). Ser Igreja envolve contato. Não há cristianismo verdadeiro sem comunhão, isso porque a Igreja é Corpo, é real, visível e palpável – “Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular” (1Co.12:27).
2. Mundanismo
O mundanismo pode ser definido como hábito, cultura e sistema da sociedade rebelada contra Deus; é tudo aquilo que leva o crente a perder a alegria do amor de Deus e desencorajá-lo a fazer a Sua vontade. É a grande arma utilizada pelo inimigo para desviar os crentes da Verdade.
As redes sociais são um fenômeno espetacular do nosso tempo, mas precisam ser utilizadas com sabedoria e prudência. O pr. José Gonçalves, ao tratar do mundanismo sob a influência das redes e mídias sociais, sabiamente argumenta: “o que se observa por parte de muitos cristãos, especialmente pregadores, é um desejo quase obsessivo de estar em evidência. Querem ser vistos. Para que esse fim seja alcançado, muitos seguem personalidades de comportamento duvidoso, quer sejam celebridades do mundo artístico, quer sejam jogadores e cantores famosos. Imploram por seguidores e likes. Agem como verdadeiros mendigos virtuais. Desonram a cruz porque querem a qualquer custo a glória do mundo. Dessa forma, tornam-se presas fáceis de Satanás (Mt.4.9)”.
Infelizmente, o mundanismo tem adentrado a Igreja Local com facilidade; tem sido uma praga, uma lepra espiritual. As redes e as mídias sociais têm contribuído sobremaneira para esta situação. Todo crente precisa separar-se do mundo para viver uma vida totalmente controlada pelo Espírito Santo. Deus é santo, e exige de nós santidade. Ser santo é estar separado das concupiscências desta vida. De nada adianta o título de cristão se a pessoa não demonstra uma vida santa diante de Deus e das pessoas. O apóstolo João exorta: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo” (1João 2:15,6).
Devemos estar conscientes de que nas redes sociais, o pecado jaz à porta; desta feita, devemos ter cuidado, pois o pecado é maligníssimo, é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença; o pecado pode arruinar o corpo, a alma e afastar o crente de Deus (Is.59:2). Portanto, devemos fazer uso do universo online com prudência e discernimento; sejamos cuidadosos e tenhamos limites. Para o cristão, todas as coisas são lícitas, mas nem tudo é proveitoso ou edificante (1Co.10:23; 6:12).
III. A IGREJA E OS PECADOS VIRTUAIS
1. Sensualismo
Assim como o avião ou a energia nuclear, a internet é uma invenção que também pode ser usada para fins destrutivos. Embora o mundo da internet seja virtual, os perigos são extremamente reais. Há perigo de dano material com a perda de arquivos em consequência de vírus e também o perigo de ser vítima de e-mails maldosos que contêm pequenos programas espiões que servem para roubar senhas bancárias, principalmente agora na era do Pix. Porém, o pior prejuízo pode ser espiritual. Uma constante ameaça na internet é a pornografia. Praticamente em quase tudo que se vê na internet o erotismo está presente.
Há pelo menos 20 anos ouvíamos dizer que, ao se desligar o televisor, uma janela se fechava ao pecado. Agora, carregamos o televisor no nosso bolso e na palma da nossa mão. Nossos celulares são, potencialmente, dispositivos pessoais e maleáveis às tentações e concupiscências. Isso mostra que, na era da informação, há uma superexposição ao pecado. O Senhor Jesus alertou-nos que, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos viria a esfriar-se (cf. Mt.24:12).
É incontestável que as redes e as mídias sociais, quando usadas de forma adequada, são extraordinárias ferramentas de comunicação, interação e trabalho. Contudo, quando usadas para enviar fotos e vídeos íntimos, mensagens de texto de um relacionamento adúltero, se tornam instrumentos poderosos do pecado (Rm.6:13,14). Tornam-se espaços do Diabo (Ef.4:27). Os inúmeros escândalos expostos na internet mostram isso. Não podemos esquecer que “sem santidade, ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
2. Narcisismo
A sociedade contemporânea, caracterizada pela tremenda importância das redes sociais, está mergulhada em um narcisismo que pode alcançar um caráter adoecedor. Vivemos na era do narcisismo digital, que é expresso por meio de uma série de ações “extremas”, como tirar um grande número de selfies ou compartilhar momentos de suas vidas, que poderíamos classificar como muito íntimos, praticamente todos os dias. Esta geração já foi denominada de “geração do selfie”. O desejo de ser visto e admirado tornou-se obsessivo e doentio (3João 1:9). Daí a necessidade de a todo instante estar se fotografando e postando nas redes e nas mídias sociais; é uma devoção ao selfie. Nesta geração narcisista, as pessoas são “amantes de si mesmas” (2Tm.3:2).
O narcisismo digital penetrou profundamente a personalidade das pessoas; elas buscam a aprovação de seguidores em redes e mídias sociais para se sentirem bem em relação a elas mesmas. E toda vez que recebem um “like”, o seu ego cresce. Para obter esses “gostos”, muitas dessas pessoas projetam uma versão idealizada de si mesmas, alimentando o personagem que desejam e não o que realmente são. Dessa forma, desejo de se expor, de ser visto e admirado torna-se um comportamento não apenas doentio, mas sobretudo, pecaminoso. Isto tem contaminado pessoas de todas as faixas etárias, com maior intensidade entre os adolescentes e jovens, o que traz preocupação, principalmente se estas pessoas se dizem cristãs. A solução para este tipo de problema é desconectar desta ilusão digital, que não nos leva a lugar nenhum; não se trata de abandonar as redes e as mídias sociais, mas de usá-las em sua medida adequada e com equilíbrio. A pessoa deve, urgentemente, voltar-se para Cristo e conscientizar-se de que o narcisismo digital é pecado e que, se não houver reparo, poderá trazer sequelas perigosas com efeitos indeléveis na vida espiritual e psicológicas dessas pessoas. O Céu é o nosso alvo, e lá só entra quem é santo (Hb.12:14). Pense nisso!
IV. AS MÍDIAS SOCIAIS E O IDE DE JESUS
1. A seara virtual
A internet é um veículo muito rápido de comunicação. É um potente meio de evangelizar e levar a Palavra de Deus a lugares que estão a milhares de quilômetros de distância. Evangelizando pela internet nós conseguimos alcançar pessoas em vários lugares que no método tradicional não seria possível. Então, a internet acaba por ser um meio que pode incrementar e ajudar na evangelização do mundo. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15). O “ide” de Jesus, certamente, inclui o espaço virtual; então, ocupemos este espaço e o transformemos num campo onde a poderosa semente da Palavra de Deus seja semeada (Lc.8:5,12). Portanto, as redes e mídias sociais são potenciais meios de evangelização, em que podemos tocar várias vidas com a mensagem de Cristo. Gastamos tanto tempo na internet com coisas sem valor, por que não dedicarmos alguns minutos para evangelizar? Atrelado à dedicação, sejamos exemplos no trato, na modéstia e no amor. Mostremos que o mundo não nos influencia, mas nós é que influenciamos o mundo.
2. Pastoreio virtual
Vários sãos os meios para o pastoreio virtual. Existem pelo menos 13 plataformas para reuniões, eventos e videoconferências online. Dentre essas se destacam o Microsoft Teams, o Zoom, o WhatsApp, o Google Meet. Estas plataformas foram bastante úteis durante o pico da pandemia do Covid-19. Sem estas plataformas, milhões, talvez bilhões, teriam ficado muito mais distantes uns dos outros. Quantos cultos, reuniões de EBD, discipulado, reuniões ministeriais, planejamentos, conferências, trabalho em Home Office, não foram realizados através destas plataformas virtuais! Se a pregação do evangelho de Cristo é feita, também, pelas mídias e redes sócias, da mesma maneira o discipulado e o pastoreio podem muito bem se adequar a esta nova realidade. Portanto, as redes e as mídias sociais são poderosas ferramentas de interação, e devem ter seus potenciais usados para o crescimento do Reino de Deus. Os pastores devem estar conscientes disso e aptos a explorar esse novo espaço (Ap.3:8). Como bem afirma o pr. José Gonçalves, “aqueles que optaram por ficar de fora das redes sociais estão perdendo uma extraordinária oportunidade de promover o Reino de Deus”.
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta Aula como as redes e as mídias sociais podem se tornar um espaço perigoso, em que o pecado ganha proporções assustadoras. Os cristãos precisam se conscientizar de que são moralmente responsáveis pelo que fazem, através das redes e mídias sociais, diante da sociedade, da igreja local e da comunidade a qual pertencem. Eles devem buscar nas Escrituras os princípios que orientem sua navegação no espaço virtual. A Bíblia contém princípios que norteiam e disciplinam a vida dos cristãos, inclusive no universo on-line. Isso porque as Escrituras Sagradas, que são vivas (Hb.4:2) e permanecem para sempre (1Pd.1:25), podem orientar de forma clara e objetiva o crente em seu caminhar tanto no mundo real como também no virtual. É claro que o mundo virtual é um campo minado e perigoso para os cristãos incautos, porém é, sobretudo, uma seara virtual em que frutos podem ser colhidos para a glória de Deus, se a semente da Palavra de Deus for pregada com sabedoria, estratégia bem formada e muito equilíbrio. Como bem diz o pr. José Gonçalves, se o Diabo usa as redes sociais para espalhar suas mentiras e fomentar o pecado, a igreja deve usar esse espaço para semear a verdade, proclamar o arrependimento e implantar o Reino de Deus. Que assim seja!