Texto Base: Ezequiel 3:16-21, 27
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!” (1Co.9:16).
Ezequiel 3:
16.E sucedeu que, ao fim de sete dias, veio a palavra do SENHOR a mim, dizendo:
17.Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte.
18.Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não o avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei.
19.Mas, se avisares o ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu caminho ímpio, ele morrerá na sua maldade, mas tu livraste a tua alma.
20.Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça e fizer maldade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá; porque, não o avisando tu, no seu pecado morrerá, e suas justiças que praticara não virão em memória, mas o seu sangue da tua mão o requererei.
21.Mas, avisando tu o justo, para que o justo não peque, e ele não pecar, certamente viverá, porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.
27.Mas, quando eu falar contigo, abrirei a tua boca, e lhes dirás: Assim diz o SENHOR: Quem ouvir ouça, e quem deixar de ouvir deixe; porque casa rebelde são ele.
INTRODUÇÃO
Com esta Aula damos início ao quarto trimestre letivo de 2022. Nele, estudaremos lições preciosas selecionadas do livro profético de Ezequiel. Este livro apresenta muitos pontos valorosos para a edificação da Igreja de Cristo; dentre eles, a soberania de Deus na vida de pessoas e nações se destacam, bem como a responsabilidade humana. Este ponto alto do livro de Ezequiel nos convida a fazer uma avaliação contínua a respeito do nosso relacionamento com Deus. Nesta Aula trataremos da responsabilidade dos atalaias constituídos por Deus, no Antigo e novo Testamentos. Esta primeira Aula nos convida a refletir a respeito da nossa responsabilidade diante de Deus e dos homens. Como Ezequiel foi chamado para ser atalaia de Israel, em Cristo fomos chamados para sermos atalaias nestes últimos dias, anunciando a mensagem de arrependimento e salvação.
I. SOBRE O LIVRO DE EZEQUIEL
O livro de Ezequiel é um exemplo fascinante da riqueza da literatura bíblica. Ele salienta a responsabilidade pessoal do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus. Suas mensagens são endereçadas a toda a casa de Judá e apontam para glória de Deus. Escrito num período de crise moral e espiritual do Reino de Judá, este livro ofereceu esperança a um povo que enfrentava o desespero do aparente abandono por Deus. Ao mesmo tempo, o profeta usado por Deus para transmitir esta mensagem encarava suas próprias crises. Usando linguagem rica e ilustrativa, Ezequiel desafia o povo de Israel a aprender as lições da sua história, enfatizando a necessidade da fidelidade a Deus para conseguir a restauração da comunhão com o Senhor. O Livro está dividido em três partes principais:
1. Primeira parte (Ez.1:1-24:27)
Esta primeira parte trata do chamado e a responsabilidade de Ezequiel, das visões sobre o pecado e o julgamento, e da certeza do castigo de Judá. Portanto, nesta primeira parte, as profecias proferidas ocorreram antes da destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, e ocupa os primeiros 24 capítulos do livro. Nesta primeira parte está a visão inaugural do ministério profético de Ezequiel (Ez.1:1-3), quando recebeu a visão da glória de Deus (Ez.1:26-28). Ezequiel teve uma visão que revelou a absoluta perfeição moral de Deus. Os discursos dessa primeira parte do livro são predominantemente de ameaças e juízos (Ez.7:2-4) contra a prostituição e idolatria do povo (Ez.8:15).
A mensagem traz também uma série de advertências aos falsos profetas, aos reis de Judá e aos sacerdotes (Ez.7:26,27; Ez.13:2-4; 22:26,27,31). Enquanto Jeremias profetizava em Jerusalém que a cidade logo seria subjugada pelos caldeus, Ezequiel anunciava a mesma mensagem aos que estavam cativos na Babilônia. Ezequiel proferiu esses discursos para que seu povo soubesse que, a despeito de seus erros, Deus estava presente na Babilônia, não somente em Jerusalém. Assim como os habitantes de Jerusalém, os exilados acreditavam obstinadamente que aquela cidade não seria invadida e que logo retornariam a sua terra. Ezequiel os advertiu de que o castigo de Deus era certo, por causa dos pecados, e que era uma maneira de Deus purificar o seu povo. O Senhor sempre trará a justa punição pelo pecado, quer creiamos, quer não.
2. Segunda parte (Ez.25:1-32:32)
Esta segunda parte trata das mensagens contra as nações estrangeiras. Ezequiel proferiu mensagens condenando os atos pecaminosos de sete nações: Amon, Moabe, Edom, Filístia, Tiro, Sidom e Egito (Ez.25-32). Os habitantes dessas nações diziam que Deus era muito fraco para defender seu povo e a cidade de Jerusalém. Deus permitiu que seu povo fosse derrotado, a fim de puni-lo por seus pecados; porém, as nações pagãs enfrentariam um destino semelhante, e saberiam que Deus é o Todo-Poderoso. Aqueles que, hoje, também ousam zombar de Deus enfrentarão terrível destino (Joel 3:12; Mt.25:32).
3. Terceira parte (Ez.33:1-48:35)
Esta terceira parte trata da restauração moral, política e espiritual do povo de Israel, e a restauração da adoração a Deus. Os oráculos dos capítulos 33 a 37 falam do retorno dos judeus de todas as partes do mundo à terra de seus antepassados; um feito que desafiava qualquer lógica humana. Mas Deus não depende da lógica humana para realizar o seu querer. A visão do vale de ossos secos (Ez.37) mostra isso. Essas profecias que tratam da restauração nacional de Israel, se cumpriu de forma espantosa na atualidade. Quanto à regeneração espiritual de toda a casa de Israel (Ez.36:25-27; 37:14; Zc.12:10), brevemente ocorrerá, quando Jesus vier para reinar sobre toda a humanidade. Ezequiel consolou o povo, dizendo que chegaria o dia em que Deus restauraria os que se afastassem do pecado; seria Rei e Pastor de seu povo; lhes daria um novo coração para adorá-lo; e estabeleceria um novo governo e um novo Templo.
As profecias dos capítulos 38 e 39 falam da invasão e derrota de Gogue, e de seu bando, quando invadir a Terra Santa.
O livro de Ezequiel termina com a visão do novo Templo e da redenção para Israel e toda humanidade como resposta à primeira visão (Ez.40 a 48). A certeza da restauração futura encoraja os crentes nos tempos mais difíceis. Mas devemos ser fiéis a Deus porque o amamos pelo que Ele é, não só pelo que Ele pode fazer por nós. Precisamos que a nossa fé esteja nEle e não somente nos benefícios futuros.
4. Características do Livro de Ezequiel
“Sete características principais assinalam o livro de Ezequiel:
a) Contém um grande número de visões surpreendentes, de parábolas arrojadas e de ações simbólicas e excêntricas, como um meio de expressão da revelação profética de Deus.
b) Seu conteúdo é organizado e datado com cuidado: registra mais datas do que qualquer outro livro profético do Antigo Testamento.
c) Duas frases características ocorrem do começo ao fim do livro:
a. ‘então saberão que eu sou o SENHOR’ (sessenta e cinco ocorrências com suas variantes).
d) Ezequiel recebe de Deus, de modo peculiar, os nomes de ‘filho do homem’ e ‘atalaia’.
e) Este livro registra duas grandiosas visões do templo: uma delas mostra-o profanado e à beira da destruição (Ez.8-11), e outra, purificado e perfeitamente restaurado (Ez.40-48).
f) Mais do que qualquer outro profeta, Ezequiel recebeu ordens de Deus para identificar-se pessoalmente com a palavra profética, expressando-a através do simbolismo profético.
g) Ezequiel salienta a responsabilidade pessoal do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1171).
II. SOBRE O PROFETA
1. Identidade
Ezequiel foi um profeta e sacerdote que, durante o cativeiro na Babilônia, viveu entre os exilados judeus (Ez.8:1; 20:1). Seu nome significa “Deus fortalecerá ou prevalecerá”. Embora as visões e profecias de Ezequiel fossem claras e vívidas, muito pouco se sabe sobre sua vida pessoal. Ele estava entre os milhares de jovens deportados de Judá para a Babilônia, após a rendição do rei Joaquim. Nos tempos em que Nabucodonosor, rei da Babilônia, sitiou e destruiu Jerusalém (capital de Judá) levando cativo seu povo, Ezequiel filho do sacerdote Buzi (Ez.1:3), foi levado cativo para Babilônia, em 597 a.C., junto com o rei Joaquim, na segunda leva (2Rs.24:10-14). Antes daqueles dias trágicos, Ezequiel estava sendo treinado para o sacerdócio, mas durante o exilio na Babilônia Deus o chamou para pregar em uma das épocas mais difíceis da história der Israel. Dirigiu mensagens tanto aos judeus do exílio quanto aos que ficaram em Jerusalém e Judá. Iniciou o seu ministério no cativeiro quando tinha 30 anos de idade - “no trigésimo ano” (Ez.1:1).
A tarefa de Ezequiel era conscientizar os exilados de que a calamidade que lhes sobreviera foi por causa de sua persistente pecaminosidade - “A alma que pecar essa morrerá...” (Ez.18:20). Ezequiel experimentou o mesmo tipo de encontro com Deus que teve Isaias 150 anos antes. Como Isaias, Ezequiel nunca mais foi o mesmo depois de seu encontro com Deus. Embora as mensagens do Eterno por meio de ambos os profetas tivessem muitos pontos em comum, as condições sob as quais viveram foram muito diferentes. Isaias advertiu sobre a iminente “tempestade”; já Ezequiel falou no meio dessa “tempestade”, que devastou o seu povo. Ele anunciou que nem mesmo Jerusalém escaparia da destruição. Além dessa situação, Ezequiel teve que suportar a dor da perda de sua querida esposa (Ez.24:18).
Não se sabe a data exata do fim do seu ministério, mas, com base nos dados cronológicos apresentados no livro, sabemos que o seu ofício durou cerca de 22 anos. Era casado. Acredita-se que a sinagoga tenha iniciado em sua casa.
2. Procedência
Como já disse, Ezequiel era procedente de Jerusalém e pertencia a uma família sacerdotal. A Bíblia diz que ele era filho de um sacerdote por nome Buzi (Ez.1:3). Nascido e criado em Judá, preparava-se para se tornar um sacerdote no Templo de Deus, quando os caldeus atacaram em 597 a.C. e o levaram para Babilônia, com um grupo que totalizava dez mil cativos (2Rs.24:10-14). Judá estava à beira de uma completa destruição. Cinco anos depois, quando Ezequiel tinha 30 anos (a idade normal para se tornar um sacerdote), Deus o chamou para ser um profeta.
Por que os exilados judeus na Babilônia precisavam de um profeta? Primeiro, Deus queria que Ezequiel ajudasse os exilados a compreenderem por que haviam sido levados cativos; segundo, Deus queria que fosse eliminada a falsa esperança de que o exilio seria breve; terceiro, Deus queria transmitir uma nova mensagem de esperança e; quarto, Deus queria alertar o povo, levando-o a uma nova conscientização de sua dependência de Deus.
Daniel e Jeremias foram dois famosos contemporâneos de Ezequiel. Daniel foi levado nove anos antes que Ezequiel. Durante os primeiros anos, enquanto Ezequiel ministrava na Babilônia (Ez.3:11), Jeremias exercia o seu ministério profético na terá de Judá, advertindo o povo sobre a destruição de Jerusalém (Jr.25:1; 26:1; 27:1), e Daniel servia na corte de Nabucodonosor (Dn.1:19-21), servindo como estadista e profeta (ele residia no palácio).
III. SOBRE O ATALAIA
1. Atalaia
Deus deu a Ezequiel uma incumbência sobremodo importante: atalaia (Ez.3:12-21). Atalaia é um termo de origem árabe e significa torre de observação. Designa qualquer lugar mais elevado ou ponto alto de onde se vigia. O termo também designa a pessoa que está encarregada de vigiar determinada área. Neste caso, é sinônimo de sentinela ou vigia. Estar de atalaia é uma expressão que indica o ato de estar de guarda, à espreita, vigilante e com sentido a algo que possa estar para acontecer ou alguém que possa estar se aproximando. A função do atalaia é descrita em 2Samuel 18:24-27 e 2Reis 9:17-20, e melhor ilustrada pela parábola de um militar posto como sentinela (Ez.33:2-6).
A descrição que Deus fez de Ezequiel, como um atalaia sobre os muros da cidade, mostra a natureza de seu ministério profético. O trabalho do atalaia era perigoso; se falhasse em seu posto, tanto ele como a cidade inteira poderiam ser destruídos. Sua segurança dependia da qualidade de seu trabalho. A responsabilidade de cada pessoa perante Deus é a parte importantíssima da menagem de Ezequiel. Ele ensinou aos exilados que Deus esperava obediência e adoração de cada um deles.
Como naquela época, hoje é fácil nos esquecermos que Deus tem um interesse pessoal em cada um de nós. Quando olhamos para os acontecimentos mundiais podemos sentir-nos insignificantes ou pensar que existe um grande descontrole. Mas saber que Deus tem o controle total, que Ele se importa e que está disposto a ser conhecido por nós, pode dar um novo senso de propósito à nossa vida. Como medimos o nosso valor? Nós nos avaliamos por conta de nossas realizações e de nosso potencial ou pelo fato de o Deus que nos projetou e criou declarar que nós somos valiosos, que somos seus atalaias defensores e guardadores dos Seus valores morais absolutos? Pense nisso!
2. “O fim dos sete dias” (Ez.3:16)
Antes da destruição de Jerusalém, Ezequiel descreveu a sua visão da glória de Deus e seu chamado (Ez.1:26-28). Nessa visão, Ezequiel viu Deus retirando do Templo de Jerusalém a sua glória.
O capítulo 1 traz a visão da glória de Deus entre os cativos. Primeiro, Ezequiel vê um vento tempestuoso vindo do Norte. Em seguida, surgem quatro seres vindo do Norte. Em seguida, surgem quatro seres viventes, cada um com quatro rostos (homem, leão, boi e águia), quatro asas, pernas retas e mãos sob as asas. As criaturas simbolizam os atributos divinos visíveis na criação: majestade, poder, rapidez e sabedoria. Muitas nações se esquecem do Deus entronizado muito além do firmamento. Adoram os atributos criativos em vez de prestar culto ao Criador. Segundo alguns estudiosos, os quatro rostos mencionados na visão são associados tradicionalmente aos quatro retratos de Cristo nos quatro evangelhos: Mateus – leão (Cristo como Rei); Marcos - boi (Cristo como Servo); Lucas – homem (Cristo como Homem perfeito); João – águia (Cristo como Filho de Deus).
O texto diz que “muito acima do firmamento [...] havia algo semelhante a um trono” no qual o Senhor estava assentado. “Ao lado” de cada ser vivente, “havia uma roda”, ou melhor, “uma roda” dentro de “uma roda” (talvez uma roda em ângulo reto e outra como o giroscópio). A visão parece representar, portanto, uma carruagem-trono com rodas na terra, uma plataforma apoiada sobre os quatro seres viventes e, sobre a plataforma, o trono de Deus. Esta visão retrata Deus em sua glória vindo do Norte para julgar Jerusalém, fazendo dos babilônios seus agentes de juízo (cf. Ez.43:3). Ao ver esta visão, Ezequiel ficou sem forças durante sete dias. Mas, “ao fim de sete dias, veio a palavra do SENHOR” a Ezequiel (Ez.3:16). O fim dos sete dias deve ter sido o tempo que ele esperou para recuperar suas forças depois do impacto da visão da glória de Deus (Ez.1:28; 3:14).
O chamado de Ezequiel para deixar o conforto de seu lar e pregar ao seu povo exilado foi uma interrupção inoportuna. Ezequiel percebeu que a mão e Deus estava sobre ele, e sentiu uma compulsão divina irresistível, mas seu espírito se amargurou com a tarefa inglória à sua frente. Felizmente para ele próprio e para o povo, Ezequiel não começou a pregar de imediato, mas se assentou por uma semana inteira no meio do povo aflito. Essa experiência lhe permitiu compreender com mais clareza as provações intensas e as necessidades prementes dos exilados. O pregador capaz de ver a vida com os olhos de seu povo pode ajudar as pessoas a quem ministra e prover a liderança de que tanto precisam.
3. A expressão “filho do homem” (Ez.3:17a)
Deus não se dirige ao profeta pelo seu nome, mas como “filho do homem”. Esta expressão importante ocorre 93 vezes no livro de Ezequiel. Com estas palavras Deus coloca o profeta em seu devido lugar diante da majestade que contemplou na visão. Segundo estudiosos mais experientes, a expressão “filho do homem” é um hebraísmo que enfatiza a insignificância de Ezequiel ou sua mera humanidade. “Filho de” quer dizer “participante da natureza de“, que, combinado com “adãm”, “homem”, indica um simples “ser humano”. No plural, é uma expressão comum para “humanidade”. Isso faz lembrar a natureza humana fragilizada e pecadora ao passo que Deus é o Senhor da glória. Somente o Senhor Jesus usava esse título se referindo a si mesmo nos quatro Evangelhos a partir de Mateus 8:20. O termo é usado no Novo Testamento cerca de 88 vezes, sendo 33 apenas em Mateus.
Mas, em referência a Jesus, o que significa a referida expressão? A Bíblia não diz que Jesus era o Filho de Deus? Então como Jesus também poderia ser Filho do Homem? O primeiro significado para o termo "Filho do Homem" é usado em referência à profecia de Daniel 7:13-14 - "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído". O termo "Filho do Homem" era um título Messiânico. Jesus é o único a quem foi dado domínio, glória e o reino. Quando Jesus usou esse termo em referência a Si mesmo, Ele estava atribuindo a profecia do “Filho do Homem” a Si mesmo. Ele estava proclamando ser o Messias. Os judeus daquela época com certeza estariam bem familiarizados com o termo e a quem se referia.
O segundo significado para o termo "Filho do Homem" é que Jesus realmente era um ser humano. Deus chamou o profeta Ezequiel de "filho do homem" 93 vezes. Deus estava simplesmente chamando Ezequiel de um ser humano. Um filho do homem é um homem. Jesus era 100% Deus (João 1:1; 1João 5:20), mas Ele também era um ser humano (João 1:14). 1João 4:2 nos diz: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus". Sim, Jesus era o Filho de Deus – Ele era Deus em Sua essência. Sim, Jesus também era o Filho do Homem – Ele era um ser humano em Sua essência. Em resumo, a frase "Filho do Homem" indica que Jesus é o Messias e que Ele é um ser humano.
4. O “atalaia sobre a casa de Israel” (Ez.3:17b)
“Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte”. Como ocorreu com o Filho do Homem, o grande antítipo de Ezequiel, o profeta foi comissionado a ir à “casa de Israel” (Ez.3:4). De maneira geral, ele precisava profetizar a todo o povo de Israel, mais especificamente “aos do cativeiro” (Ez.3:11).
Ezequiel foi nomeado “atalaia”, responsável por proclamar a Palavra de Deus e advertir o povo solenemente. Deus sabia, de antemão, que os filhos de Israel, no exílio, continuariam na sua rebelião (Ez.3:7). Ezequiel enfrentaria um povo obstinado, mas Deus o tornaria ainda mais obstinado em relação à menagem divina que ele iria transmitir do que o povo era contra ela. Eles eram duros como a pederneira, mas Ezequiel seria “como diamante [...] mais forte do que a pederneira” (Ez.3:9; cf. Jr.17:1). Ele não devia temê-los por causa dos seus olhares de pederneira, não importava a sua rebeldia. Maior era Aquele que estava com Ezequiel do que aqueles que seriam contra ele.
Assim, Ezequiel foi constituído, por Deus, “atalaia” para profetizar aos “filhos de Israel” (Ez.2:3-7). Apesar da grande responsabilidade de Ezequiel, o Senhor o calou e o fez esperar pelas oportunidades que ele próprio havia preparado. Também precisamos ser sensíveis à orientação divina ao testemunhar a mensagem de Deus. Por vezes, devemos nos manter calados; porém, a maioria de nós se cala quando deveria falar de Cristo.
IV. SOBRE A RESPONSABILIDADE
A responsabilidade do profeta como atalaia sobre Israel se assemelha a do cristão, na qualidade de mensageiro das Boas-Novas de Cristo; sua mensagem alcança todas as pessoas indistintamente.
1. A responsabilidade do cristão (Ez.3:18)
A responsabilidade de Ezequiel era muito grande. Quando o Senhor revelou a ele o importante ofício que tinha de cumprir, não podia hesitar e nem temer. Ele devia ser uma sentinela, um atalaia sobre os interesses de muitos, advertindo-os (Ez.3:17). Habacuque também foi um atalaia (Hb.2:1), bem como Isaias (Is.56:10) e Jeremias (Jr.6:17), mas eles foram principalmente vigias sobre o destino de Israel, como um todo. Ezequiel, de forma semelhante, foi um vigia sobre a nação, mas a incumbência dada a ele era particularmente advertir indivíduos, do povo de Israel do exílio. Se Ezequiel não cumprisse esta missão, e o indivíduo morresse, sendo ele ímpio, esse homem sofreia as consequências da sua maldade, e Ezequiel seria culpado do seu sangue (Ez.3:18) – “Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não o avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei”. Mas, se Ezequiel advertisse o indivíduo, o profeta não seria responsável, mesmo se esse indivíduo continuasse obstinadamente no seu pecado (Ez.3:19).
Semelhantemente é a responsabilidade do crente em Cristo; ele deve anunciar o Evangelho para todos os ímpios e fazer discípulos para Cristo; é a Grande Comissão de Cristo (Mt.28:19,20). Se o atalaia não avisar o ímpio sobre o seu mau caminho e o perigo em que ele se encontra, certamente, o ímpio vai perecer sem Deus (João 3:16), e o mensageiro será cobrado diante de Deus (Ez.3:18; 33:8). O apóstolo Paulo era tão cônscio dessa responsabilidade que temeu não a cumprir. Por isso, escreveu: “ai de mim se não anunciar o evangelho” (1Co.9:16). E o crente não precisa ser um profeta nem mesmo um evangelista, só precisa se levantar e entregar um folheto ao pobre pecador, e o principal trabalho o Espírito Santo fará, que é convencer o pecador do seu estado pecaminoso, da justiça e do juízo (João 16:8). Também o crente em Cristo deve ter a grande responsabilidade de permanecer fiel, orando e vigiando para, quando for tentado ou provado, não se desviar da verdade, dos caminhos do Senhor. Ezequiel deixa claro que se um crente se desviar e morrer em seu pecado, as “suas justiças que praticara não virão em memória” (Ez.3:20).
2. A responsabilidade do ímpio (Ez.3:19,27)
O crente tem a responsabilidade de pregar o evangelho, mas se o pecador rejeitar Cristo como único Senhor e suficiente Salvador, tal rejeição testificará contra ele no Dia do Juízo final (Ap.20:15). Está escrito: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc.16:16). Uma pessoa pode ser salva sem o batismo, como foi o ladrão que se arrependeu na cruz, mas jamais alguém pode ser salvo sem crer em Jesus. É a descrença e não a ausência do batismo a razão da condenação. É a rejeição de Cristo que traz a condenação eterna. Jesus foi claro, quando disse: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (João 3:36). Por isso, Deus queria tanto que Ezequiel fosse insistente em sua mensagem de advertência ao povo desviado de Judá, que estava no exílio.
3. A extensão da nossa responsabilidade (Ez.3:20)
Como relatamos nos itens anteriores, os crentes em Cristo têm responsabilidades importantes para desempenhar, principalmente no que tange à Grande Comissão de Cristo – pregar e fazer discípulos -, mas esta responsabilidade se estende para outras plataformas como, por exemplo, procurar trazer de volta a “ovelha” perdida. Muitos dos que creem em Cristo, em sua jornada cristã enfrentam tempestades, desertos impiedosos, tentações, provações, e por causa disso se desviam do caminho e desgarram do “rebanho”. Quando isto ocorre, o crente, que é detentor de uma maturidade firme, tem a responsabilidade de alertar ao desviado sobre a importância de retornar novamente ao caminho, antes que a sua cerviz se cauterize, o que poderá acarretar numa irreversível apostasia (Hb.6:6). A nossa responsabilidade, portanto, não é somente com o pecador incrédulo, mas também com as ovelhas que se desgarraram do rebanho (Lc.15:4-6), e também com aqueles que estão na Igreja, mas estão fracos na fé. Deus se alegra quando o crente desviado volta à Casa do Pai (Lc.15:11-32). Jesus mesmo afirmou que “haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc.15:7). Portanto, é dever de todos nós cuidar um dos outros na igreja local (1Co.12:25).
CONCLUSÃO
Vimos nesta Aula a grande responsabilidade que Deus incumbiu ao profeta Ezequiel: ser um atalaia para o povo do exilio babilônico. Deus se preocupou com isso porque Ele queria que o povo fosse instruído e conscientizado do pecado cometido, e porque Deus queria reparar o povo do seu caminho mau. Deus amava o seu povo rebelde, mostrando seu desejo de salvá-lo. Ezequiel foi escolhido como atalaia ou vigia para alertar o povo sobre os perigos do pecado. Sem a presença do profeta, o povo ficaria desprotegido e propenso a não mais existir como nação de Deus. O Senhor mandou o profeta pregar a Palavra, quer eles ouvissem ou deixassem de ouvir (Ez.2:5,7). Certamente, Deus fez isso porque tinha feito uma promessa a Abraão que faria dele uma grande nação, e nessa nação nasceria o Redentor da humanidade. Ezequiel estava ali como atalaia para proteger o povo de Deus de total desvio e do paganismo fatal.
Em toda a história do mundo, as pessoas tiveram que se proteger de tribos e nações vizinhas. Como parte de seu plano de proteção, eles construíam torres nas muralhas das cidades e colocavam atalaias nas torres para vigiar inimigos que se aproximassem. Se o povo ignorasse os atalaias, colocavam-se em grande risco. Ao mesmo tempo, se os atalaias não cumprissem seu dever, toda a cidade poderia ser destruída. Assim fez Deus com o seu povo, no que tange o aspecto espiritual e moral. Ezequiel 33 compara os líderes de Israel a atalaias. Da mesma forma os líderes de todos os níveis de governo da Igreja se preocupam tanto em ensinar às pessoas e instá-las ao arrependimento. E é assim que a Igreja deve fazer guiada pelo Espírito Santo. Amém?