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UMA FAMÍLIA NADA PERFEITA

 

INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos hoje a questão da perfeição na vida familiar.
- A vida familiar deve caminhar em direção à perfeição.
I – A PERFEIÇÃO NA VIDA FAMILIAR
- Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos hoje a questão da perfeição na vida familiar.
- A questão da perfeição é uma das discussões mais presentes no estudo da Palavra de Deus. O homem, por ser uma criatura, jamais pode ser perfeito.
- Somente Deus, que é o Criador, é um ser perfeito, pois “perfeição”, diz-nos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “estado ou condição de quem ou do que atingiu a máxima completude; condição de quem ou do que se mostra isento de defeitos, de imperfeições”, vindo da palavra latina “perfectio,onis”, de “perfectus”, “'fazer inteiramente, acabar, terminar, perfazer; fabricar (com arte), aperfeiçoar”.
- Tem-se, pois, que o “ser perfeito” é aquele que está acabado, terminado, feito, e somente Deus assume tal condição, pois Ele é eterno, Ele não tem o que Se completar, ao contrário do homem, que, sendo limitado, sempre tem condições de seguir se aperfeiçoando, se completando, principalmente quando se sabe que tem, por propósito divino, estar em comunhão com o Senhor e, portanto, ter condições infinitas de aperfeiçoamento.
- Assim, mesmo quando foi criado sem pecado, o homem não era perfeito. Percebamos que as Escrituras dizem que Deus fez o homem reto (Ec.7:29), ou seja, santo, justo, sem pecado, mas não “perfeito”.
- Há vários indicadores na Bíblia Sagrada que indicam que o homem, mesmo antes do pecado, não era perfeito. Deus viu que ele estava só e lhe fez uma adjutora, ou seja, faltava algo para o homem (Gn.2:18); o homem não tinha consciência de sua inteligência e de sua solidão (Gn.2:19,20); quando posto no jardim do Éden, foi dito ao homem que ele poderia lavrá-lo, ou seja, modificá-lo, consoante a sua criatividade, prova de que poderia cada vez mais se aperfeiçoar (Gn.2:15).
- Com a entrada do pecado no mundo, então, esta imperfeição se intensificou pois, agora, além de imperfeito, o homem passou a ter a natureza pecaminosa, que o tendia à transgressão, ao distanciamento de Deus, a exigir, assim, uma santificação, a obtenção de uma “perfeição moral e espiritual”, que, até então, era desnecessária.
- Pois bem, se isto ocorre no ser humano enquanto indivíduo, evidentemente que isto também ocorrerá na vida familiar. Um homem e uma mulher imperfeitos não poderão produzir um casal perfeito, de sorte que não se pode imaginar que haja uma família perfeita.
- Isto se dava já no Éden. Se é certo que, antes do pecado, o primeiro casal vivia uma situação de santidade e de plena comunhão entre si e com Deus, não é menos certo que eram imperfeitos, tanto que, toda viração do dia, o Senhor vinha ao seu encontro precisamente para lhes promover o aperfeiçoamento.
- A relação conjugal era plena e transparente (Gn.2:25), havia um compartilhamento de vida exemplar entre marido e mulher, mas não havia a perfeição, tanto que, em um dos momentos de vacilação, podemos assim dizer, o diabo pôde tentar Eva, quando esta se encontrava, por algum motivo, apartada de seu marido.
- Com o pecado, então, tivemos já um rompimento desta comunhão plena entre marido e mulher, exteriorizado pelo pudor, a vergonha que cada um teve do outro por estarem nus, resultado da “abertura de olhos” prometida pela serpente mas que não tinha a consequência dada pelo pai da mentira.
- Em seguida, vê-se que este estranhamento levou à atribuição de culpa pelo homem à mulher e pela mulher à semente, revelando-se, então, já o pecado, o desamor, o individualismo. À imperfeição substancial uniu-se, pois, a imperfeição moral e espiritual.
- A primeira família, então, aumentou a sua imperfeição e, logo mais, iria experimentar a tragédia do assassinato de Abel por Caim, trazendo para dentro de si ainda mais pecado.
- No entanto, vê-se que, antes mesmo do assassinato de Abel, esta família duplamente imperfeita apresentou uma direção em torno da perfeição. Caim e Abel eram adoradores do Senhor, ofereciam-Lhe sacrifícios, assim tendo sido ensinados por seus pais, que também haviam crido plenamente na promessa da salvação. Embora imperfeita e tendo tido a trágica experiência do fratricídio, vemos que houve, sim, espaço para que a família se tornasse o altar de Deus, o ambiente de busca da invocação do nome do Senhor.
- Esta mesma linha foi adotada por Sete que, ao passar a invocar o nome do Senhor com o nascimento de seu filho Enos (Gn.4:26), deu origem ao primeiro povo de Deus na face da Terra (Cf, Gn.6:2), gerando uma linhagem santa que, infelizmente, acabou por misturar-se com os incrédulos (Gn.6:1,2), criando famílias totalmente voltadas para o modo pecaminoso de viver e que resultou no juízo divino do dilúvio.
- Mas, em meio a esta degradação total da humanidade, sobressaiu uma família, que se manteve buscando a presença de Deus, que era a família de Noé (Gn.6:8-10), uma família pautada pela justiça e retidão, ou seja, que procurava obedecer a Deus e a seus ditames, tanto que, ao contrário dos demais, tínhamos ali quatro casais monogâmicos, que ainda observavam as regras divinas relativas à constituição de família (Gn.2:24).
- A família de Noé não era perfeita, tanto que temos o episódio a envolver Noé e seus filhos depois do dilúvio (Gn.9:20-29), em que houve, inclusive, a maldição de Noé a seu neto Canaã, mas foi uma família que buscou a presença do Senhor e cuja adoração, inclusive, fez com que Deus prometesse nunca mais destruir a Terra com um dilúvio (Gn.8:18-22).
- As famílias dos patriarcas, a partir das quais o Senhor formou o povo de Israel, também não eram perfeitas, embora se notasse nelas a busca da perfeição. Por vezes, atitudes pecaminosas vieram a trazer sérios problemas, mas o fato é que houve sempre arrependimento e demonstração de fé em Deus para que se caminhasse na direção dos propósitos divinos.
- Esta tônica, aliás, foi traçada pelo próprio Deus, quando Se dirigiu a Abraão, depois de treze anos de silêncio, silêncio este motivado pelo fato de Abrão ter aceitado ter um filho com Agar, ocasião em que lhe disse: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn.17:1).
- “Perfeito” aqui é a palavra hebraica “tāmîm” ( תמי ם ), “…inteiro (literal, figurado ou moral); também (como substantivo) integridade, verdade:— sem mancha; sem defeito; inteiro, perfeito, (em) sinceridade, sinceramente, (com) integridade, reto, irrepreensível, sincero, inculpável. Adjetivo que significa irrepreensível, completo…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 8549, p.2006).
- O que Deus exigia, portanto, do patriarca é que ele fosse perfeito do ponto de vista espiritual e moral, obediente, sincero, santo, que não Lhe desobedecesse e cumprisse a Sua vontade.
- É preciso que haja, por parte dos integrantes de uma família, esta disposição de agradar a Deus, de fazer-Lhe a vontade, sempre pedindo perdão, imediatamente, pelos pecados cometidos, tomando uma firme direção de seguir rumo à pátria celestial (Cf. Hb.11:9-16). Assim como Abraão, devemos ter sempre, em nossas vidas, o altar e a tenda, ou seja, buscar a presença do Senhor, adorá-l’O e não se prender a este mundo, tendo como alvo a vida na glória celestial com o nosso Deus.
- Foi esta disposição que fez com que as famílias dos patriarcas formassem o povo de Israel. É esta mesma disposição que permite que as nossas famílias formem a igreja local, a expressão social deste povo espiritual que é a Igreja.
- Quando se tem tal disposição, mesmo as nossas falhas acabam por serem direcionadas pelo Senhor que transforma o mal em bem, visando, sempre, não só a preservação da família mas a sua utilização para os desígnios divinos (Gn.50:19,20).
- Não há família perfeita, até porque não há ser humano perfeito. Todas as famílias têm as suas imperfeições, mas deve haver sempre a prontidão para arrependimento de pecados e para a santificação contínua, para que se tenha a constante purificação dos relacionamentos familiares e a família possa ser um instrumento nas mãos do Senhor não só para a edificação de seus integrantes mas para a salvação das almas e edificação dos demais servos de Deus.
- Até mesmo a “Sagrada Família”, ou seja, a família de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo não era perfeita. Nosso Senhor foi o único homem perfeito sobre a face da Terra, porque, além de homem sem pecado e que escolheu não pecar, é, também, Deus. No entanto, vemos imperfeições na sua família, decorrência das imperfeições dos demais integrantes.
- Assim é que José e Maria “perderam” Jesus quando da primeira ida oficial do menino, ao templo, para assumir a sua responsabilidade diante de Deus, a demonstrou certo descuido (Lc.2:43-Mc.3:21,31-35).
Os irmãos de Jesus, que não criam n’Ele, quiseram que o Senhor Se apresentasse publicamente para ganhar adeptos (Jo.7:1-9).
- Entretanto, estas imperfeições não retiraram da “Sagrada Família” a sua disposição de servir a Deus e de praticar a justiça. José era um homem justo (Mt.1:19), assim como Maria, que era uma serva do Senhor (Lc.2:38). O casal sempre foi obediente à voz do Senhor e aceitou todos os encargos e incômodos de terem o Messias em seu lar. Depois, Maria e os irmãos de Jesus creram que Jesus era o Senhor e Salvador da humanidade, tanto que, já salvos, foram posteriormente revestidos de poder no dia de Pentecostes (At.1:14).
II – CASUÍSTICA BÍBLICA: A FAMÍLIA DE DAVI
- Nosso comentarista ilustra a questão da perfeição familiar com a família de Davi, que, como diz o título da lição, era uma família nada perfeita.
- Todos os homens são pecadores (Rm.3:23). Uma das maiores demonstrações de que a Bíblia é a Palavra de Deus está na sua imparcialidade, imparcialidade que está ausente de qualquer livro escrito pelos homens. Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), de modo que mesmo os grandes heróis da fé, e Davi é um deles (Hb.11:32), são apresentados como seres humanos e, portanto, como pessoas que, ao longo de suas vidas, pecaram e sofreram as consequências de seus erros diante de Deus.
- Davi não é exceção. Embora a Bíblia o apresente como o grande rei de Israel, o construtor do apogeu da história israelita, o grande guerreiro, o escolhido para fundar a dinastia de onde proviria o Messias, o mavioso salmista de Israel, não esconde as suas falhas, os seus vergonhosos erros. Além do compromisso com a verdade, até porque a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e a revelação de um Deus que é a Verdade (Jr.10:10), a narrativa das falhas e erros dos grandes homens e mulheres de Deus são, também, uma lição para os salvos, contraexemplos, ou seja, ao vermos os erros destas personagens, aprendemos como não devemos fazer, para que não se repitam as drásticas consequências constantes da narrativa bíblica.
- A principal falha de Davi narrada nas Escrituras diz respeito ao seu comportamento familiar. Davi não é um exemplo para se seguir em termos familiares, tanto na forma como se casou como também na forma como criou os seus filhos. Não é de se surpreender, portanto, que, quando da sentença divina sobre Davi, tenha sido a sua família a principal vítima (II Sm.7:10-12).
- Pelo que observamos do texto sagrado, Davi foi criado num ambiente familiar que não o levava muito em conta. Quando Samuel vai a casa de Jessé para ungir um dos filhos deste como novo rei de Israel, Davi, por ser “o menor”, nem sequer foi convidado para participar dos sacrifícios pacíficos oferecidos pelo velho profeta e sacerdote nem tampouco do banquete que se lhe seguiu (I Sm.16:5,11,12). Vemos, pois, que Davi já teve uma criação de menosprezo durante sua infância e início de adolescência, o que, certamente, teve influência decisiva para o seu comportamento familiar no desenrolar de sua vida.
- Davi foi menosprezado como filho em sua casa. Apesar de obediente a Jessé e zeloso em suas tarefas domésticas, era carente de afeto e de companhia, circunstância que muito explica seu comportamento ao longo de sua vida. A psicologia mostra-nos que o ser humano forma o seu caráter nos três primeiros anos de vida e que tudo o que aprender e acrescer após este período é tão somente complemento daquele núcleo que permanece inalterado até o final da sua existência, salvo, obviamente, a alteração promovida pelo “novo nascimento”. No entanto, quão poucas pessoas, na atualidade, preocupam-se com este dado e desprezam completamente a educação de suas crianças, deixando-as à mercê de uma doutrinação satânica.
- Davi, apesar de desprezado como filho, vivia num lar que, ao menos aparentemente, se conduzia de acordo com a sã doutrina. Davi, pelo menos, era obediente e recebeu bons exemplos de seu pai, como, por exemplo, como já vimos em lições anteriores, o cuidado com o rebanho e o zelo em não se apresentar a homens de autoridade de qualquer maneira. Por isso, apesar de seus fracassos na área familiar, pôde ter uma vida agradável ao Senhor. Mas, como seria Davi se não houvesse este respaldo doutrinário em sua casa? Como seria Davi se, além do menosprezo sofrido em termos de afeto e solidariedade, também não tivesse tido qualquer instrução na Palavra de Deus e nos bons costumes sociais?
- A má formação familiar de Davi teve repercussão na vida deste homem de Deus. Quando vai ao encontro de seus irmãos durante a guerra contra os filisteus, vemos, na reação do irmão mais velho de Davi, Eliabe (I Sm.16:28,29), a hostilidade que Davi sofria desde o instante em que havia sido ungido pelo profeta como rei de Israel. Já não bastasse ter sido menosprezado em sua criação durante a infância e início da adolescência, depois de ter recebido a bênção da unção, Davi adquiriu a hostilidade dos de sua casa. Teve de se respaldar em outros para saber qual era a oferta do rei Saul e para conseguir se apresentar ao monarca a fim de mostrar sua disposição para lutar contra o gigante, sem qualquer apoio familiar.
- Davi, ainda que de pouca idade, não se sentia bem em sua casa e o que mais lhe chamou a atenção nos comentários feitos em torno da batalha contra os filisteus, foi de que o rei daria sua filha em casamento a quem enfrentasse o gigante (I Sm.17:25,26,30). Davi, que tinha já a promessa divina de se tornar rei de Israel, viu aí a sua grande oportunidade de ver concretizada a bênção da unção, tornando-se genro do rei.
- O que mais chamou a atenção de Davi, pois, foi a oportunidade de constituir uma família, de pertencer à família do rei, prova de que não se sentia bem em sua própria família, pelos motivos que já dissemos: o menosprezo e a hostilidade. Quantos não procedem assim ainda hoje: buscam constituir novas famílias somente para se livrar das famílias onde estão? Ou, o que é pior ainda, buscam substituir suas famílias por outros grupos sociais que lhes tragam um pouco de afeto, consideração e reconhecimento, que não têm em seus lares e, por isso, passam a frequentar gangues, quadrilhas, “tribos”, comunidades virtuais, redes sociais, torcidas organizadas de clubes de futebol, grupos vocais (inclusive nas igrejas locais) e tantos outros grupos, única e exclusivamente para ter aquilo que não encontraram em suas casas?
- Davi estava buscando sair de sua família e, ao vencer o gigante, conseguiu seu intento, pois Saul não mais o deixou voltar para a casa de seu pai (I Sm.18:2). Imediatamente, Davi começou a servir a Saul com todo o entusiasmo e com toda a dedicação, ainda que se conduzia sempre com prudência, comportamento este que é resultado não só da presença do Espírito Santo na sua vida, mas também de uma boa formação familiar quanto a este quesito, pois, como já dissemos, tudo nos indica que, apesar de falho em afeto e companheirismo, Jessé soube ensinar a sã doutrina a seus filhos.
- Este entusiasmo com a sua posição no reino fê-lo esquecer, momentaneamente, do desejo de casar-se com a filha do rei, até porque já tinha um outro grupo onde buscasse afeto e sociabilidade. No entanto, quando foi atacado por Saul e feito chefe de mil, tal desejo voltou a Davi, inclusive porque Saul renovou a proposta de casamento, ainda que não tenha entregado Merabe a Davi, uma vez que este não se entusiasmou com a oferta de sair desvairadamente com sua gente de guerra (I Sm.18:17-19).
- No entanto, Davi percebeu que Mical, a outra filha de Saul, engraçava-se dele e, quando isto chegou ao conhecimento de Saul, tentou o rei fazer com que este sentimento fosse um laço para a vida do jovem que ameaçava o seu trono. Apesar de, num primeiro instante, Davi manter-se equilibrado, ante a oferta para ser genro do rei, reconhecendo não ter posses para casar-se com a princesa, acabou sendo levado pela proposta de que bastariam cem prepúcios de filisteus para que pudesse ter a mão de Mical em casamento (I Sm.18:20-26).
- Notamos aqui como a má formação familiar de Davi o levou a uma decisão precipitada, interesseira e sem qualquer orientação divina. Davi necessitava de uma mulher, sabia que Mical estava apaixonada por ele e, certamente, também se apaixonou por Mical, pois, se assim não fosse, não teria obtido duzentos em vez de cem prepúcios de filisteus. Um casamento nascido da atração física, da fama, do interesse, sem qualquer orientação divina, e isto por parte de um homem que tinha o Espírito Santo. Que tristeza! Lamentavelmente, muitos agem assim ainda em nossos dias: são servos do Senhor, mas, na hora do casamento, não buscam a orientação divina, deixando-se levar por tudo, menos pela vontade do Senhor.
- Davi entregou o dobro do dote supostamente querido por Saul (que, na verdade, queria a morte de Davi pela espada dos filisteus) e, desta maneira, casou-se com Mical. Um casamento movido por paixão e por interesses e que não poderia ter outro fim senão o desastre, o fracasso. Davi alcançou a posição de genro do rei, mas vemos que o relacionamento dele com Mical não foi bom. Não se diz quantos anos ficaram casados, mas o fato é que Davi se dedicava intensamente a suas funções de chefe de mil, enquanto que Mical era relegada a um segundo plano, tanto que nem sequer filhos Davi teve com Mical, prova de que o relacionamento conjugal não era dos melhores.
- Aliás, o que notamos, durante toda a vida de Davi, é seu desprezo para com suas mulheres. No lamento pela morte de Jônatas, Davi exclama que a amizade que tinha com o primogênito de Saul era maior que o “amor das mulheres” (II Sm.1:26). Se é certo que esta declaração jamais pode ser interpretada como indício de homossexualismo de Davi, também é evidente que Davi via o seu relacionamento com suas mulheres num patamar de inferioridade.
- Apaixonado por Mical, quando do momento da grande perseguição sofrida por causa de Saul, Davi viu que um casamento com base na paixão e no interesse não tem condições de perdurar. Mical, tendo sabido de toda a armadilha de seu pai, comunicou tudo a Davi, mas não quis acompanhá-lo, preferindo a corte a seu marido (I Sm.19:12-17). Como se isto não bastasse, Davi ainda fica sabendo que Mical fora dada a outrem como mulher (I Sm,.25:44), ou seja, Mical não fez qualquer objeção em mudar de marido, desde que mantivesse a sua posição na corte. Um duro golpe para um marido: ser abandonado pela mulher em troca de posição e conforto. Menosprezado e hostilizado na casa de seu pai, Davi agora era desprezado por sua própria mulher.
- Neste estado desesperador, Davi teve um momento importante em sua vida familiar, qual seja, a ida ao seu encontro de seus familiares, que foram encontrar-se com ele na caverna de Adulão (I Sm.22:1). Neste instante, vemos que o Senhor, ouvindo o clamor do Seu ungido, num momento de angústia e sofrimento, ensinou-lhe o caminho correto para termos afeto e companheirismo: a família.
- Vemos nesta passagem uma linda demonstração de quanto nosso Deus prioriza a família e o papel que quer que ela exerça na vida de cada ser humano. Apesar de menosprezado e hostilizado quando ainda não tinha a fama e a posição que adquiriu em Israel, Davi recebe a companhia de seus familiares num momento extremamente crucial de sua vida. Temos para nós que a ida dos familiares a Adulão foi obra do Espírito Santo, pois não há como entender-se que familiares que, antes, não davam qualquer valor a Davi, fossem ao seu encontro justamente na hora em que havia perdido tudo em Israel.
- Após este verdadeiro oásis na vida desértica familiar de Davi, vemos que o jovem não aprendeu a importante lição que o Senhor lhe dera em Adulão. Em vez de valorizar a família, continuou a tratar este assunto num plano inferior de seus interesses e preocupações.
- No episódio que envolveu o judaíta Nabal, que negou víveres a Davi, Davi teve contato com a mulher deste, Abigail que, com sua sabedoria e excelência de conduta, salvou a sua casa de ser atacada por Davi e seus homens. O próprio Deus providenciaria que Nabal morresse logo em seguida e, logo em seguida, atraído pela formosura e inteligência de Abigail, Davi resolve casar-se com Abigail, que, também atraída por Davi, apressadamente aceitou o convite (I Sm.25:39-42).
- Neste segundo casamento de Davi, vemos praticamente os mesmos erros do primeiro. Senão vejamos. Davi estava extremamente irado diante da recusa e do desprezo de Nabal, que tinha em seu intento não deixar ninguém da casa de Nabal com vida até o amanhecer (I Sm.25:34). Abigail conseguiu apaziguá-lo com muita sabedoria, prostrando-se diante dele, chamando-se de serva e com víveres em relativa abundância. Davi impressionou-se com as atitudes de Abigail e o ódio que estava a alimentar transformou-se em atração física, pois a Bíblia nos diz que se tratava de mulher de bom entendimento e formosa (I Sm.25:3).
OBS: A tradição judaica diz que Abigail foi uma das quatro mais formosas mulheres que já viveram sobre a face da Terra (KADARI, Tamar. Abigail: midrash and aggadah. Disponível em: http://jwa.org/encyclopedia/article/abigail-midrash-and-aggadah Acesso em 21 out. 2009).
- No entanto, vemos que, em primeiro lugar, apesar de ter se sentido atraído por Abigail e tê-la tomado por mulher, Davi também não estabeleceu um relacionamento conjugal completo com sua mulher, tanto que não teve filhos com ela antes de os ter com Ainoã. Tudo nos leva a crer que o mesmo comportamento que tivera com Mical, de um deslumbramento inicial, seguido de um certo desprezo, repetiu-se com Abigail. Davi mostra que sempre deixava a sua condição de marido num plano inferior de seus interesses, preocupando-se muito mais nas pelejas e nas campanhas de seus homens do que em atender a mulheres que, por sinal, haviam resolvido se casar com ele por causa de suas carências afetivas.
- Em segundo lugar, vemos que, além da motivação do impulso, outro fator animou Davi a desposar tanto Abigail quanto Ainoã: o fato de Mical ter sido dada a outrem como mulher (I Sm.25:44). Davi casava-se, assim, não tanto por sentir necessidade de uma companheira, mas para mostrar a todos que não se sentia abalado pelo fato de ter sido abandonado por sua primeira mulher. Com estes dois casamentos, Davi como que procurava demonstrar uma “forra”, uma vingança em relação a Mical, como que buscava “recuperar a sua imagem” diante do povo de Israel, querendo dizer que não se intimidara nem se abalara com o gesto de Saul que procurava desmoralizá-lo aos olhos da sociedade.
- Nesta sua motivação totalmente equivocada e sem qualquer orientação divina, Davi ainda seguiu o costume da poligamia, uma das muitas manifestações culturais absorvidas pelo povo de Israel dentre as nações que estavam à sua volta e que haviam sido mantidas, inclusive na lei, por causa da dureza dos corações dos israelitas (Mt.19:4-8).
- Apesar de ter duas mulheres, Davi não teve filhos enquanto não passou a reinar sobre a tribo de Judá em Hebrom, numa clara demonstração que não dava qualquer prioridade a seu relacionamento com suas mulheres, mas, sim, a suas campanhas militares. Construiu, assim, muito mal a sua família, com a mesma falta de afeto e companheirismo que parecia ter sido a tônica de sua infância e adolescência em Belém.
- Já reinando sobre Judá, Davi percebeu que era necessário ter descendência. O fato de ter tido filhos somente quando se estabeleceu em Hebrom é menos um despertamento para a necessidade de dar o devido valor a seu relacionamento conjugal e muito mais um desencargo de suas obrigações reais, pois todo rei deve, numa monarquia, fazer sucessor, ou seja, ter filhos. Por isso, passa a ter esta preocupação e surge, então, a sua prole. Ainoã lhe dá o primogênito: Amnom. O significado de “Amonom” é “fiel”, expressão que mostra que, neste instante, Davi estava grato a Deus por já estar a reinar sobre a sua tribo, na convicção de que a promessa divina para sua vida seria cumprida.
- Em seguida, teve um filho com Abigail, Quileabe ou Daniel (II Sm.3:3; I Cr.3:1), cujo nome significa respectivamente “inteiramente pai” e “Deus é meu juiz”, expressões que demonstram que, neste momento, Davi, por ter filhos de ambas suas mulheres, considerou-se como pai no sentido pleno, bem como lembrando que Abigail lhe fora por esposa porque Deus o havia impedido de matar Nabal, fazendo justiça por ele.
- Nestes nomes dados a seu segundo filho (que parece não ter vivido muito, pois dele não fala mais o texto sagrado), Davi mostra, muito bem, que sua preocupação em ter filhos era o de promover a sua sucessão. Mais uma vez o lado familiar e afetivo era relegado ao segundo plano, algo que, infelizmente, temos visto na vida de muitos servos do Senhor, principalmente daqueles que são chamados para o ministério. Que a vida conturbada de Davi por causa deste menosprezo à família sirva de exemplo para estes obreiros, antes que seja tarde demais!
- O desprezo para com a vida familiar não pararia aí, entretanto. Já não bastasse ter aceitado a poligamia, Davi, também, adota o costume dos reis das outras nações de efetuar “casamentos políticos”, ou seja, de firmar alianças com os outros povos mediante o casamento com integrantes das famílias reais dos países vizinhos, fazendo com que a paz política se traduzisse em alianças familiares entre as dinastias, tática que até hoje caracteriza grande parte da realeza ainda existente no mundo.
OBS: Oportuno verificar que a principal religião do mundo a admitir a poligamia, na atualidade, é o islamismo. A admissão da poligamia pelos muçulmanos deve-se, precisamente, ao fato de que Maomé, o profeta do islamismo, ter estabelecido o seu império na Arábia principalmente por meio de alianças firmadas com base em casamentos políticos.
- A Bíblia diz-nos que, uma vez em Hebrom, Davi casa-se pela terceira vez, desta feita com Maaca, filha de Talmai, que era o rei de Gesur (I Sm.3:3). Gesur era um pequeno principado arameu a leste do rio Jordão e ao sul de Maacá, que fazia parte do território da tribo de Manassés e que não tinha sido até então conquistado pelos israelitas (Js.13:2,13), contra quem Davi havia lutado, nos tempos em que servira a Áquis (I Sm.27:8) e com quem Davi, durante sua contenda com Isbosete, quis fazer paz, a fim de melhorar sua situação política.
- Usar do casamento como instrumento para melhorar sua situação político-militar foi outro grande erro na vida de Davi e que, aliás, seria seguido por Salomão a um ponto tal que acabou por gerar a perda da unidade de Israel e quase que a salvação do terceiro rei de todo o Israel (I Rs.11:1-13).
- Mas Davi não se limitou a se casar com Maaca. Em Hebrom, também, casou-se com Hagite, a mãe de Adonias (I Sm.3:4). As Escrituras informação alguma dão sobre esta mulher, mas a tradição judaica diz ter sido uma “dançarina” que Davi teria tomado por mulher em mais de seus impulsos amorosos. O nome “Hagite” significa “nascida em dia festivo”, “festiva”, talvez daí advindo esta tradição. De qualquer maneira, pelo fato de Davi jamais ter contrariado Adonias durante toda a sua vida (I Rs.1:6), pode-se daí deduzir que Hagite tinha alguma ascendência sobre Davi, algum poder sedutor sobre ele. Mais um casamento feito com base na paixão, no impulso, sem qualquer orientação divina e que traria a Davi sérias consequências no futuro, pois Adonias, em uma grande desonra ao pai, tentou tomar-lhe o trono quando o rei já se encontrava bem envelhecido e próximo à morte.
- O nome dado ao filho de Hagite, ou seja, “Adonias”, que significa “Jeová é Senhor”, mostra como Davi estava mesmo é ocupado de sua guerra com Isbosete e com a confirmação do reino de Israel em suas mãos. Ao dar este nome ao filho de Hagite, notamos claramente que se estava naquele momento em que Davi percebia que Deus estava do seu lado e fortalecendo o seu partido em detrimento do de Isbosete ((II Sm.3:1)
- Davi, também, casou-se com Abital, a mãe de seu quinto filho, Sefatias (II Sm.3:4), pessoa sobre a qual também a Bíblia silencia quanto a procedência ou às circunstâncias de seu casamento com o então rei de Judá. O nome dado a este filho, “Sefatias”, cujo significado é “Jeová tem julgado”, percebemos que Davi continuava com a primazia de suas ocupações na vida político-militar, pois tudo indica que Davi está se referindo aos movimentos de Abner para constituí-lo rei sobre todo o Israel e, inclusive, sobre o retorno de Mical ao convívio com Davi (II Sm.3:12-19).
- Ainda em Hebrom, Davi casou-se com Eglá, mãe de Itreão (II Sm.3:5). “Itreão” significa “fartura de gente” e isto nos indica, uma vez mais, que Davi tinha como objetivo, ao ter filhos com estas mulheres, tão somente assegurar a sua descendência dinástica. Via os casamentos, portanto, como mero instrumento para a sua segurança como rei de Judá partindo para ser rei de todo o Israel, num total e completo menosprezo a sua vida familiar.
- Notemos que Davi teve um filho com cada mulher, a demonstrar que o relacionamento estabelecido com elas era meramente utilitário, visava tão somente fazer descendentes para garantir a continuidade dinástica. Mesmo as duas mulheres que a Bíblia diz terem amado Davi, terem sido atraídas por ele (Mical e Abigail) tiveram este amor como secundário frente à amizade que Davi tinha com Jônatas, como já vimos.
- Nesse meio tempo, o retorno de Mical, uma exigência de Davi a Isbosete para continuar as tratativas de paz na guerra civil (II Sm.3:13-16), não revela qualquer sentimento que um nutrisse pelo outro nesse momento da vida de cada um. A paixão havia esfriado completamente. Mical, insensível, como nos prova o seu comportamento de indiferença diante da demonstração de amor feita pelo seu segundo marido quando ela ia a caminho de Hebrom, aceitara a condição precisamente porque via ali a grande oportunidade de retornar a uma posição social de destaque, tornar-se rainha de Judá, presumivelmente com proeminência sobre as demais mulheres de Davi, já que tinha sido a primeira esposa de Davi, num instante em que os da casa de Saul percebiam nitidamente que o reino estava sendo transferido a Davi.
- Por parte de Davi, o retorno de Mical era apenas um gesto de autoafirmação, uma demonstração pública a todo o Israel de que havia “recuperado” a sua mulher. Mical era um “troféu” político, uma demonstração de sua vitória sobre a casa de Saul. Tanto assim é que não houve qualquer interesse de Davi em ter um relacionamento conjugal com Mical, tanto que com ela não teve filhos. Esta indiferença mútua acabaria se tornando em amargura e revolta por parte de Mical, como ficaria explícito na chegada da arca a Jerusalém, quando Mical, indignada e ferida, acabaria por fazer uma indevida repreensão pública a Davi que a desprezaria em público e, como resultado desta ação inconsequente, o próprio Senhor feriria Mical com a esterilidade (II Sm.6:16, 20-23).
OBS: Alguns procuram identificar Eglá, tratada como “mulher de Davi” com Mical, procurando afirmar que Mical teria morrido no parto de Itreão. Não nos parece correto tal entendimento, pois o texto sagrado é claro ao dizer que Mical foi esterilizada e não teve filhos.
- O primeiro casamento de Davi, portanto, foi um rotundo fracasso, que terminou em mágoa, repreensões públicas de parte a parte e em maldição, já que Mical se tornou estéril. Um casamento frustrado, onde nenhum dos cônjuges conseguiu alcançar o objetivo de Deus para homem e mulher com a família: o companheirismo, o afeto, o término da solidão (Gn.2:18). Quantos Davis e Micais há hoje nas igrejas locais…
- Davi construiu uma família com “fartura de gente”, mas com total falta de orientação divina, afeto, companheirismo. Uma família desta natureza, que assim como Ziclague, havia sido deixada completamente à mercê do inimigo, seria o alvo fácil do adversário quando o rei sofresse as consequências de seus horrendos pecados cometidos no “caso de Urias, o heteu”.
- Davi conquistou Jerusalém e lá estabeleceu a sede do reino. Ali continuou a se casar e a ter concubinas. Foram tantas as mulheres e concubinas tomadas por Davi que o texto sagrado apenas registra o nome dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe, Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete (II Sm.5:14-16; I Cr.3:5-8), fora as filhas, que não foram explicitamente nomeadas e das quais conhecemos pelo menos uma, Tamar, irmã germana de Absalão (II Sm.13:1; I Cr.3:9).
- Não bastasse esta multiplicação de mulheres, a Bíblia diz-nos que Davi, também, teve mais filhos e filhas (II Sm.5:13). Esta expressão do texto sagrado mostra-nos, claramente, que Davi era tão somente um “procriador”, alguém que estava interessado em suscitar descendentes para segurança da dinastia, mas que não se importava em criar seus filhos, como, aliás, muitos fazem nos dias hodiernos.
- Durante o relato bíblico da vida de Davi, não o encontramos, salvo às vésperas da morte, conversando com qualquer filho ou estando na companhia de qualquer filho. Jessé o chamava para que fosse ver seus irmãos (I Sm.17:17), Saul se fazia acompanhar de Jônatas nas batalhas (tanto que ambos morreram juntos) e costumava tomar as refeições com seu filho, num companheirismo, aliás, que foi declarado pelo próprio Davi (II Sm.1:23), mas Davi, durante todo o seu reinado, não é visto dando instruções a este ou aquele filho, fazendo-se acompanhar deste ou daquele filho nas batalhas, tomando refeição com qualquer filho. Era um pai completamente ausente, que não tinha nenhuma participação na formação de sua descendência.
- Este distanciamento de Davi em relação a seus filhos evidencia-se em alguns episódios bíblicos. Quando Amnom, enlouquecido de paixão por sua meia-irmã Tamar, adoeceu por causa disso, quem o acolheu e o aconselhou não foi Davi, mas, sim, seu primo Jonadabe (II Sm.13:3-5). Amnom, embora fosse o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, a quem Davi, ainda que só por motivos políticos, devia ser mais próximo, não tinha qualquer intimidade com seu pai, a ponto de ter segredado seu amor por Tamar a um “amigo”, a Jonadabe, que, então, fazia as vezes de “pai”, dando, inclusive, péssimo conselho a Amnom.
- A ausência de um pai na criação e formação do filho faz surgir “Jonadabes” na vida das crianças, jovens e adolescentes, “Jonadabes” que nem sempre são bem-intencionados, que nem sempre são procedentes do Senhor. Muitos pais têm sido substituídos por traficantes, rufiões, pedófilos, que se apresentam para suprir as carências afetivas dos filhos abandonados, levando-os para o mundo e para a destruição. Enquanto os pais estão ocupados com tantas coisas, como estava Davi, deixam que “Jonadabes” se aproximem e estimulem a prática do pecado e da maldade. Acordemos, pais, e assumamos nossas responsabilidades diante de Deus, pois os filhos são herança do Senhor (Sl.127:3).
- A omissão de Davi em relação a educação de seus filhos se evidencia ainda mais quando Amnom abusa de Tamar e a despede, numa cena humilhante, cena esta que é aumentada em sua publicidade pela reação de Tamar que rasgou a roupa de muitas cores que vestia e pôs cinza sobre sua cabeça, andando desta maneira à vista de todos (II Sm.13:8-19). Diante de tamanho escândalo, Davi apenas “acendeu-se em ira” (II Sm.13:21), não tomando qualquer atitude seja em relação a Amnom, seja em relação a Tamar. Era um pai completamente ausente, que não tinha qualquer comprometimento com o comportamento de seus filhos.
- Diante da omissão paterna, Absalão, outro filho de Davi, resolveu fazer justiça com as suas próprias mãos. Passados dois anos deste episódio, Absalão põe em ação o plano que começara a arquitetar quando dos fatos, quando foi acudir sua irmã Tamar (II Sm.13:20).
- Absalão foi até a presença de Davi e o convidou para uma festa em Baal-Hazor, onde tinha tosquiadores, mas Davi, mais uma vez mostrando ser um pai ausente e desinteressado em manter uma vida familiar, não quis ir, tendo-o abençoado (II Sm.13:24-26). Absalão pediu, então, que o rei autorizasse que Amnom fosse, tendo o rei aceitado que não só Amnom mas todos os filhos do rei acompanhassem Absalão nesta festa familiar.
- Observamos como Davi não tinha em conta a sua vida em família. Não foi à festa, embora todos seus filhos tivessem ido. Absalão sabia muito bem que Davi não o acompanharia nesta festança, prova de que Davi não comparecia a qualquer cerimônia festiva da família. Era um completo ausente e, quando os filhos sabem que seus pais não acompanham os seus passos, começam a ser instados a arquitetar “festejos” que estão completamente fora de parâmetros. As “festinhas” onde há sexo, drogas e tantas coisas danosas ocorrem sempre porque os pais são ausentes, não sabem quem são os “amigos” de seus filhos, nem quais são os seus “costumes”. Muitos, na atualidade, querem controlar os filhos com celulares, GPS, como se isto gerasse efetivo controle. O controle da situação vem de um acompanhamento diário dos filhos, de uma efetiva convivência, de um compartilhamento que gere confiança e união entre pais e filhos, não de instrumentos ou equipamentos trazidos pela tecnologia.
- Como Davi era um pai ausente, Absalão pôde montar a sua “festinha” nas barbas do rei e, mais do que isto, com a própria “bênção” do pai e, na “festinha”, regada a muito vinho, acabou por matar Amnom. Davi colhia mais um fruto de sua vida familiar desastrosa (II Sm.13:27-36).
- Após praticar o crime, Absalão fugiu e se foi a Talmai, seu avô, rei de Gesur, tendo ali ficado três anos. Davi teve saudades de Absalão, uma vez consolado pela perda de Amnom, mas foi incapaz de externar tal sentimento. Era um pai distante, ausente e que não conseguia demonstrar seu afeto por seus filhos. Não façamos isto. Pais, demonstrem seu afeto para com seus filhos! Afinal de contas, ser pai é demonstrar amor. Por que Deus é chamado de “Pai nosso”? Precisamente porque demonstrou Seu amor para conosco de forma visível e palpável, não ficou apenas tendo dó de nós e sentindo saudades em Seu trono de glória sem nenhuma medida efetiva. Os pais são aqueles que externam seus sentimentos aos filhos, que sabem dar boas dádivas a eles, ainda que sejam maus, como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt.7:11; Lc.11:13).
- Entretanto, Davi se fechou, não externou seu sentimento. Joabe, seu comandante do exército, porém, notou esta circunstância e usou de um estratagema para fazer com que Davi trouxesse do exílio a Absalão, fazendo com que Davi efetuasse um julgamento em que se condenava por não permitir o retorno de seu filho (II Sm.14:1-22). Davi, então, após ser assim “descoberto” em seus intentos, autorizou que Joabe trouxesse Absalão de volta a Jerusalém, mas não quis vê-lo nem falar com ele (II Sm.14:23,24).
- Apesar da dura experiência sofrida por Davi na revolta de Absalão, não vemos que Davi tenha mudado sua conduta familiar ao retornar ao trono. Não tinha também mais muito o que fazer, já que a idade avançara, os filhos já haviam sido criados (e mal criados). No término de sua vida, como demonstração do “modus vivendi” que havia adotado, seus servos lhe trouxeram uma moça virgem para “aquecê-lo”, Abisague. Davi tinha gerado o costume do “harém real” e, ante a sua enfermidade e velhice, logo procuraram “ajudá-lo” com uma mulher, mulher com a qual não teve Davi relações sexuais, diante da sua avançada idade e doença (I Rs.1:1-4).
- Davi definitivamente criara uma “cultura de harém” na corte real, cultura esta que chegaria ao extremo no reinado seguinte, com Salomão e suas setecentas mulheres e trezentas concubinas que lhe perverteram o coração (I Rs.11:3) e que acabaram por dar fim ao reino de Israel. A brecha aberta por Davi na sua vida familiar levou à destruição da nação israelita, que nunca mais se restaurou. Quando abrimos brecha na vida familiar, pomos em risco a própria igreja! Lembremos disto.
- Diante desta situação, Adonias, o filho mais velho de Davi entre os que ainda viviam, na qualidade de herdeiro presuntivo do trono, levantou-se contra o seu pai e se proclamou rei, tendo o apoio de Joabe e de Abiatar. Este gesto, uma verdadeira desonra a Davi, diz-nos a Bíblia, é resultado de uma vida sem disciplina que viveu Adonias. O texto sagrado relata-nos que Adonias nunca foi contrariado por Davi (I Rs.1:6). Como diz o proverbista, a falta de repreensão e de correção gera pessoas que envergonham os pais (Pv.29:15).
- No leito de morte, Davi ainda recebe um insulto desta natureza. Adonias declara-se rei e, enquanto está banqueteando, Davi recebe a visita de sua mulher Bate-Seba, em mais uma demonstração de que, apesar de ser mulher de Davi, Bate-Seba não tinha acesso à câmara do rei, onde ficava apenas Abisague (I Rs.1:15), apesar de ter sido a mulher pelo qual fizera tantas loucuras. Assim é a paixão, passageira e que não se sustenta ao longo dos anos. Uma vida de isolamento de seus familiares era a vida de Davi.
- Sendo informado por Bate-Seba e por Natã a respeito da rebelião de Adonias, Davi é forçado a transferir o reino antes mesmo de sua morte. Manda que Salomão seja ungido rei e proclamado como tal em Jerusalém, o que foi o bastante para que Adonias desistisse de seu intento (I Rs.1:32-53).
- Em seguida, como numa tentativa de compensar tudo quanto havia feito de errado em sua vida, Davi, no leito de morte, chama Salomão e lhe dá conselhos antes que morresse (I Rs.2:1-9), buscando orientar seu filho na sucessão, algo que será tema de uma lição ainda neste trimestre. Somente no leito de morte, e ainda em virtude das precipitações políticas, Davi se dispõe a ter um contato mais amiúde com um filho seu. Salomão muito aproveitou esta oportunidade e tal contato, ainda que pequeno, trouxe algumas bênçãos não só para Salomão como para todo o Israel, em especial no tocante à construção do templo e à estabilização do culto a Deus. Que bom seria se Davi tivesse feito isto desde o início, mas não o fez.
- Como marido, Davi não teve melhor sorte. Como já tivemos ocasião de verificar ao longo deste estudo, Davi não valorizava o amor das mulheres, vendo-as sob um ângulo utilitário tão somente. Levado pelo impulso no instante em que decidia casar, também não cultivava o amor para com aquelas mulheres que se sentiam atraídas por ele.
- Assim se deu tanto no caso de Mical, quanto de Abigail, as suas duas primeiras mulheres, que o texto sagrado diz que amavam Davi (I Sm..18:20; 25:31,41,42), mas cujo amor Davi não correspondeu. No caso de sua primeira mulher, vemos que Davi desprezou Mical, tratando-a tão somente como um “troféu” quando ela retorna ao seu convívio, vez que com ela sequer manteve um relacionamento conjugal, desprezo este que se transforma em amargura e revolta, a ponto de ela cometer o desatino de repreendê-lo publicamente, o que lhe causou a esterilização da parte do Senhor (II Sm.6:16, 20-23).
- Com Abigail não foi diferente. Pouco depois de ter casado com ela, Davi também se casa com Ainoã, a jizreelita (I Sm.25:4) a ponto de Davi ter achado outra mulher pouco depois que lhe interessou. Abigail passa a ser tratada apenas como “mais uma mulher”, tendo da parte do rei o mesmo tratamento das demais mulheres, tanto que, assim como as outras, teve apenas um filho com o rei em Hebrom (II Sm.3:3; I Cr.3:1), prova de que passou a ser vista por Davi também sob o ângulo utilitário tão somente, o que, aliás, é próprio da “cultura do harém”.
- A palavra “marido” tem origem na raiz “masc”, que se refere ao macho, ao varão. O papel do marido, biblicamente falando, é o de cabeça do casal (Ef.5:23), ou seja, aquele a quem o Senhor incumbiu de efetuar o planejamento e a direção da vida conjugal, pois a cabeça é feita para pensar, planejar, comandar. Como cabeça, o marido deve estabelecer quais as tarefas, quais as missões a serem cumpridas pelos integrantes da família, tarefas e missões a serem, obviamente, previamente perquiridas junto ao Senhor, que é a cabeça do varão (I Co.11:3).
- Davi, portanto, tinha todas as condições de ser um excelente marido, pois, sendo cheio do Espírito Santo, poderia ter buscado a direção do Senhor na sua vida conjugal e familiar. No entanto, não o fez e este é o primeiro fator que fez com que sua vida familiar tenha sido o desastre que foi.
- Somente com relação a uma mulher Davi teve tal demonstração. Foi com Bate-Seba. Diz-nos o texto sagrado que, após a morte do primeiro filho que ambos tiveram, em cumprimento à sentença divina proferida por intermédio do profeta Natã (II Sm.12:14), o rei tomou a iniciativa de consolar Bate-Seba. A restauração espiritual promovida em Davi fê-lo rever esta sua condição de marido insensível.
- Davi preocupou-se com Bate-Seba, com seu bem-estar, demonstrando-lhe afeto e carinho. Acabou retomando o relacionamento conjugal com Bate-Seba e o resultado foi que não só teve um segundo filho, Salomão, como também mais outros três filhos (Simeia, Sobabe e Natã), tendo sido a única mulher de Davi que teve tantos filhos, prova de que Davi resolveu, após “o caso de Urias, o heteu” estabelecer, ao menos com uma mulher, uma vida conjugal plena (I Cr.3:5). É interessante notar que a Bíblia, ao relatar tal circunstância, chama Bate-Seba de “Bate-Sua”, cujo significado é “filha da opulência”, dando-nos a entender, portanto, que Bate-Seba conseguiu a plenitude da femininidade, que é a de ser amada plenamente pelo marido e de atingir a maternidade.
- Tratou-se, sem dúvida, de uma evolução para a vida familiar de Davi, mas nos parece que, apesar deste progresso, o rei não mudou muito seu comportamento com o desenrolar dos anos, visto que, no final de sua vida, vemos que não mais mantinha uma vida conjugal plena com Bate-Seba, que nem sequer tinha acesso livre à recâmara do rei (I Rs.1:11,15,28). A “cultura do harém” tinha firmemente se estabelecido na corte de Davi e impediu que o rei mantivesse esta vida conjugal plena de forma constante. Talvez o despertar de Davi como marido tenha sido assaz tardio e as circunstâncias que ele próprio criou foram tais que não teve mais como se desvencilhar do “monstro” que havia criado. Que isto nos sirva de lição para evitarmos chegar a situações de irreversibilidade em nossa vida conjugal.
- Não percamos a oportunidade de, mediante esta lição, revermos nossos conceitos de vida familiar e, assim, podermos construir um lar que seja um verdadeiro altar que adore a Deus. Amém.