Leitura Bíblica: Ef. 4.1,2 – Texto Áureo: Ef. 4.1-7
INTRODUÇÃO
Dando prosseguimento ao estudo do Fruto do Espírito, e em comparação com as obras da carne, nos voltaremos na aula de hoje para a mansidão, a fim de evitar as pelejas. Nestas redunda a causa das discórdias, dentro e fora da igreja local. Inicialmente, destacaremos as consequência das pelejas. Em seguida, refletiremos a respeito do cultivo da mansidão enquanto aspecto do fruto do Espírito. Ao final, daremos orientações e exemplos para o desenvolvimento da mansidão na vida cristão.
1. PELEJAS, SUAS CONSEQUÊNCIAS
As discórdias e pelejas são características de pessoas que vivem debaixo da égide das obras da carne. A palavra grega para as discórdias é eritheiai, termo que também é utilizado para descrever desavenças. Caracteriza-se também por um desejo de colocar-se sobe os demais, através de um sentimento partidário e faccioso, demonstrando rancor. A esse respeito Tiago destaca que a sabedoria terrena que se opõe à sabedoria do alto é da natureza humana e diabólica, e essa se manifesta por meio da inveja (Tg. 3.14,15). Existem muitas pelejas na sociedade contemporânea, as pessoas estão se tornando cada vez mais competitivas, a meritocracia nem sempre funciona, e os mais fracos não têm vez. Até mesmo dentro das igrejas as pelejas prevalecem, como já acontecia nos tempos de Paulo. Há quem esteja disputando apenas cargos eclesiásticos, muitas coisas estão mudando nas comunidades de fé, não apenas os usos e costumes. A ganância foi institucionalizada, a politicagem foi assumida naturalmente, os obreiros perderam a simplicidade. Paulo denunciou esse tipo de comportamento entre os “obreiros” da sua época. Alguns deles pregavam a Cristo por “eritheias”, apenas por interesse pessoal. A política eclesiástica está maculando a imagem dos discípulos de Cristo, isso porque as discórdias e pelejas, manifestação de carnalidade, é uma chaga que corrói a unidade da igreja. Evidentemente existe espaço para a discórdia, e até mesmo para o debate, mas não para o desrespeito e a corrupção. As pessoas nas igrejas estão cada vez mais afeitas aos cargos, principalmente se deles puderem tirar proveito financeiro. Poucas querem realmente ser servos e servas, e se gastarem para a expansão do reino de Deus (II Co. 12.15).
2. CULTIVANDO A MANSIDÃO DO ESPÍRITO
A palavra mansidão no grego no Novo Testamento é praotes, e diz respeito à pessoa que se submete à vontade de Deus. A esse respeito o próprio Jesus dá testemunho: “Tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma” (Mt. 11.29). Essa virtude também tem a ver com disponibilidade para aprender, de tal modo que aqueles que assim procedem, recebem “com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma” (Tg. 1.21). Os crentes devem cultivar essa virtude do fruto do Espírito, considerando que “se alguém chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gl. 6.1). A partir do exemplo de Jesus, depreendemos que a mansidão não se trata de aceitação passiva do engano, pois o próprio Senhor foi contundente ao contrariar o erro (Jo. 2.13-16). Paulo também foi enfático ao declarar que podemos até nos irar contra as coisas erradas, mas não podemos permitir que sejamos conduzidos pelo ódio (Ef. 4.26). A mansidão é uma virtude que se manifesta na disposição para aceitar os desígnios de Deus, foi o que Jesus fez quando aceitou a cruz do calvário, e entregou a Sua vida como um cordeiro (Mt. 27.14). Aqueles que são mansos agem com benignidade (II Co. 10.1), são humildes diante do semelhante (Ef. 4.2), e demonstram sabedoria (Tg. 3.13), sobretudo diante das perseguições (I Pe. 3.1-6). Por isso, ao invés de revidar, ou tratar “na mesma moeda”, devemos aceitar o dano, e perdoar até mesmo aqueles que nos perseguem (Mt. 5.43,44).
3. VIVENDO EM MANSIDÃO
Há vários exemplos bíblicos de pessoas que foram guiadas por Deus para viverem em mansidão. Abraão talvez seja o mais destacado, pois decidiu não pelejar contra seu sobrinho Ló, antes decidiu perder, sabendo que poderia ganhar mais com Deus (Gn. 13.8,9). Por ter aprendido com seu pai Abraão, Isaque também não quis contender com seus inimigos. Ele preferiu não disputar os poços, ainda que saísse no prejuízo (Gn. 26.20-26), justamente por isso recebeu a benção do Senhor (Gn. 26.24). Moisés é outro exemplo de mansidão, reconhecido no texto bíblico como um “varão mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm. 12.3). Paulo é um exemplo de mansidão, tendo em vista que aprendeu, através de um espinho na carne, a depender de Deus e da Sua graça, mesmo em tempos difíceis (II Co. 12.7). Espera-se dos pastores que ajam de igual modo, que não sejam rancorosos, que não incitem a contenda, que não se entreguem às pelejas. Antes que sejam “mansos para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (II Tm. 2.23-25). A abordagem predominante na sociedade, inclusive no ministério eclesiástico, é a de que as pessoas devem ser fortes. E se possível, devem se sobrepor às demais, justificando pelos seus méritos. Mas no reino de Deus deve ser diferente, os mais fortes são os mais fracos, são aqueles que aprenderam a depender de Deus, que não se impõem sobre os outros. Esse cristianismo moderno, fabricados pelas filosofias contemporâneas, distanciado das Escrituras, nada tem de cristão. As pelejas não podem ser naturalizadas, elas precisam ser combatidas, antes que envergonhem o evangelho.
CONCLUSÃO
O salmista declara que “os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (Sl. 37.11), e Jesus reforça que “os mansos herdarão a terra”, se referindo àqueles que são súditos do Reino de Deus. Precisamos cultivar urgentemente essa virtude do Fruto do Espírito, antes que venhamos a nos engolir uns aos outros (Gl. 5.15). A espiritualidade de uma igreja local é medida pela disposição de conviver com os diferentes, e de se aceitarem mutuamente no amor de Jesus Cristo.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, A. G. Os frutos do Espírito. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
OLIVEIRA, F. T. As obras da carne e o fruto do Espírito. São Paulo: Reflexão, 2016.