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A INTERCESSÃO PELOS EFÉSIOS

Texto Base: Efésios 3:14-21
07/06/2020
“Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef.3:14,15).
Efésios 3:
14.Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
15.do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,
16.para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;
17.para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor,
18.poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade
19.e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.
20.Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera,
21.a esse, glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo da Epístola aos Efésios, trataremos nesta Aula da segunda oração do apóstolo Paulo em favor da Igreja do Senhor Jesus em Éfeso (Ef.3:14-21). Paulo está preso, algemado, na antessala da morte, no corredor do martírio, com o pé na sepultura e com a cabeça próxima da guilhotina de Roma, mas não inativo; ele estava realizando um poderoso ministério na prisão: o ministério da intercessão. Os inimigos de Paulo o colocaram em grilhões, mas não puderam enjaular sua alma; eles algemaram suas mãos, mas não puderam algemar a Palavra de Deus e seus lábios; eles proibiram Paulo de viajar, visitar e pregar nas igrejas, mas não puderam impedir Paulo de orar pelas igrejas.
A primeira oração de Paulo, na Epístola em epígrafe, enfatiza a necessidade de iluminação; ela enfatiza a capacitação, o conhecimento. Nesta segunda oração, a ênfase não é no “conhecer”, mas no “ser”. Ele tem muitas necessidades físicas e materiais imediatas e urgentes, porém não faz nenhuma espécie de pedido a Deus com relação à essas necessidades.
Esta oração é geralmente considerada a mais sublime, a mais ousada, a de mais longo alcance e a mais nobre de todas as orações das epístolas paulinas. Ela é o ponto culminante da teologia de Paulo; nela, vemos a intensidade do amor e o cuidado de Paulo para com os irmãos de Éfeso. Ele nos mostra que a oração intercessória está baseada no amor que temos uns pelos outros; quando isto é uma realidade, a tristeza do irmão nos toca, as dificuldades deles tomam o nosso coração e, assim, nos colocamos diante de Deus para apresentar as suas causas Àquele que tudo pode.
Que no término desta Aula possamos nos conscientizar do real valor do exercício continuo do ministério da oração e da sua eficácia no fortalecimento, restauração e crescimento espiritual da Igreja de Cristo.

I. INTRODUÇÃO À INTERCESSÃO DO APÓSTOLO

1. A motivação de Paulo - “Por causa disso” (Ef.3:14).

O apóstolo agora retoma o pensamento que iniciou no versículo 1 do capítulo 3 e que foi interrompido para esclarecer o Mistério que estava oculto e que foi revelado a ele - a gloriosa reconciliação dos gentios com Deus e dos gentios com os judeus, formando uma única comunidade – a Igreja, o Corpo de Cristo. Por isso, a expressão “Por causa disso” faz referência ao capítulo 2 com a sua descrição de como eram os gentios por natureza, e o que são agora em sua união com Cristo. A surpreendente transformação de pobreza e morte espiritual em riquezas e glória levou Paulo a orar a fim de que aqueles crentes vivessem sempre desfrutando de sua exaltada posição.

2. A postura do corpo na oração (Ef.3:14).

A postura do corpo de Paulo na oração é indicada nas palavras “me ponho de joelhos”. Isso não quer dizer que para orar a pessoa tem de se ajoelhar. Porém, a alma deve sempre ter essa atitude de humilhação. Podemos orar enquanto andamos, sentamos ou deitamos. O importante é que o nosso espirito se curve perante Deus numa atitude de reverência e humildade. Obviamente, não podemos ser desleixados com nossa postura física quando nos apresentamos Àquele que está assentado num alto e sublime trono. Como bem diz o rev. Hernandes Dias Lopes, um santo de joelhos enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. Quando a Igreja ora, a mão onipotente que dirige o universo se move para agir providencialmente na história. Concordamos com a expressão: “Quando o homem trabalha, o homem trabalha; mas quando o homem ora, Deus trabalha”.

3. A oração é dirigida a Deus Pai (Ef.3:14).

“...perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. A oração é dirigida a Deus Pai. Em sentido geral Deus é o Pai de toda a humanidade porque é o Criador (Atos 17:28,29). Porém, no sentido mais restrito Ele é somente o Pai de todos os crentes, a quem gerou em sua família espiritual (Gl.4:6). De maneira ainda mais especial é o Pai do nosso Senhor Jesus, o que significa que Ele (Jesus) é igual a Deus Pai (João 5:18).
O papel especial do “Pai” que Paulo tem em vista aqui está embutido nas seguintes palavras: “do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef.3:15). Essa família é a Igreja: a do Céu é a Igreja que já está na glória; a da Terra é a que ainda não subiu ao Céu.
Quando Jesus ensinou aos seus discípulos a oração do Pai Nosso (Mt.6:9-13), Ele inicia com a expressão “Pai nosso”. Ao reconhecermos Deus como nosso Pai, demonstramos que a relação que existe entre Deus e o homem não é uma relação de senhorio, de propriedade, de domínio ou de cruel submissão, como se vislumbra, por exemplo, entre os islâmicos, mas é, sobretudo, uma relação de amor, de filiação, de intimidade e comunhão.
Ao reconhecermos Deus como nosso Pai, estamos dizendo que confiamos em Deus e em seu amor e que nada de ruim para nós pode ocorrer, pois Ele nos ama. É por isso que Jesus insiste em que tenhamos a imagem de Deus, na oração, como a imagem do Pai, daquele que é infinitamente muito mais bondoso do que nosso pai terreno e que, portanto, nunca pode querer nos prejudicar ou nos causar dano.
Como está a nossa vida de oração? Cultivamo-la diariamente? Ou já nos conformamos com o presente século? Deus decidiu agir, em muitas ocasiões, através da oração dos crentes. Lembre-se do apóstolo Paulo e da grandeza do seu ministério. Lembre-se de Martinho Lutero e do impacto da sua vida em todo o mundo. Lembre-se de João Wesley e do avivamento que varreu a Europa e os Estados Unidos. E lembre-se de que, por trás de todas essas pessoas, existe uma vida de oração. A igreja pode transformar o mundo; você pode transformar o mundo. O caminho? Uma vida de oração. Quando oramos expressamos as seguintes verdades:
ü  Reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração.
ü  Reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer.
ü  Revelamos nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser.
ü  Revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em sua palavra, que quer que oremos sem cessar (1Ts.5:17).
ü  Demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por ele e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em sua vida, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40).

II. CORROBORADOS COM O PODER DO ESPÍRITO

para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração...” (Ef.3:16,17).
Na primeira parte desta oração, o apóstolo olha para o ponto mais íntimo do cristão: seu homem interior e seu coração. E isso faz sentido porque esse é sempre o primeiro local para onde Deus olha (cf. 1Sm.16:7; Sl.15:1,2; 24:3,4; 51:6; Mt.22:16). Ele faz um duplo pedido: o poder do Espírito no homem interior e a presença de Cristo nos corações (Ef.3:16,17).

1. As riquezas da sua glória (Ef.3:16)

“Para que, segundo as riquezas da sua glória...”. Paulo manifesta o desejo de que Deus atenda às suas súplicas “segundo a riqueza da sua glória”. A glória de Deus é o fulgor pleno de todos os atributos de Deus. Em Efésios 1:17, o apóstolo já havia declarado que Deus é o “o Pai da glória” e despenseiro de ricas e ilimitadas bênçãos. O apóstolo tinha em mente os ilimitados recursos que estão disponíveis a Deus. Mas, Paulo não está pedindo que haja mudança nas circunstâncias em relação a si mesmo nem em relação aos outros. A preocupação de Paulo não é com as coisas materiais, mas com as coisas espirituais. Infelizmente, as orações de hoje, tão centradas no homem, na busca imediata de prosperidade e curas, estão longe do ideal desta oração paulina.

2. Fortalecidos com poder (Ef.3:16)

“...vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior”. A bênção que Paulo busca é poder espiritual. Não se trata do poder para fazer milagres espetaculares, mas do vigor necessário para que sejam cristãos maduros, estáveis e inteligentes. Quem dá esse poder é o Espírito Santo. Porém, Ele só pode fortalecer aqueles que se alimentam da Palavra de Deus e usufruem da atmosfera pura da oração. A presença do Espírito na vida é a evidência da salvação (Rm.8:9), mas o poder do Espírito é a evidência da capacitação para a vida (Atos 1:8). Jesus realizou seu ministério na terra sob o poder do Espírito Santo (Lc.4:1,14; Atos 10:38).
Esse poder se manifesta no “homem interior”, ou seja, na parte espiritual da nossa natureza. Lloyd-Jones diz que “o homem interior é o oposto do corpo e todas suas faculdades e funções. Inclui o coração, a mente e o espírito do homem regenerado, do homem que está em Cristo Jesus”. É o “homem interior” que se deleita na lei do Senhor (Rm.7:22); é o “homem interior” que é renovado dia após dia, enquanto o homem exterior se corrompe (2Co.4:16). Embora pertença a Deus, nosso “homem interior” carece de força, crescimento e desenvolvimento. Precisamos ser fortalecidos com poder porque somos fracos, porque o diabo é astucioso, porque nosso homem interior (mente, coração e vontade) depende do poder do alto para viver em santidade.

3. Habitados por Cristo (Ef.3:17a)

“para que Cristo habite no vosso coração, pela fé...”.
-“Para que Cristo habite”. Outro pedido de Paulo é “que Cristo habite, pela fé, no vosso coração”. Cada cristão é habitado pelo Espírito Santo e é templo do Espírito Santo. A habitação de Cristo, aqui, porém, é uma questão de intensidade. A verdade é que Cristo passa a habitar no crente no momento da sua conversão (João 14:23; Ap.3:20); porém, não é esse o assunto desta oração. Não se trata aqui de Cristo habitar no crente, mas sim de se sentir em casa. Ele reside permanentemente em todos os convertidos; porém, o pedido aqui é que Ele tenha livre acesso a todos os “quartos” e “cantos” do nosso ser; que não se entristeça com nossas palavras, pensamentos, intensões e atos pecaminosos; que desfrute de comunhão ininterrupta com o crente. Assim, o coração do cristão se transformará no lar de Cristo, um lar onde Ele se deleita – como o lar de Maria, Marta e Lázaro, em Betânia.
-“...no vosso coração”. Cristo encontra o seu lar no coração dos crentes. O termo “coração” neste texto indica o centro da vida espiritual que controla todos os aspectos do comportamento. Assim, o apóstolo pede que o senhorio de Cristo se estenda aos livros que lemos, ao trabalho que fazemos, à nossa casa, ao nosso dinheiro que gastamos, às palavras que falamos, enfim, a todos os detalhes da nossa vida, por menores que sejam. Quanto mais somos fortalecidos pelo Espírito Santo, mais nos tornamos semelhantes a Cristo; e quanto mais somos parecidos com Cristo, mais Ele vai se sentir completamente à vontade no nosso coração.
Nas palavras do rev. Hernandes Dias Lopes, “uma coisa é ser habitado pelo Espírito, outra coisa é ser cheio do Espírito. Uma coisa é ter o Espírito residente, outra coisa é ter o Espírito presidente. O coração do crente é o lugar da habitação de Cristo, no qual ele está presente não apenas para consolar e animar, mas para reinar. Cristo, em alguns, está apenas presente; em outros, ele é proeminente e, em outros, ainda ele é preeminente. Se Cristo está presente em nosso coração, algumas coisas não podem estar ocupando o nosso coração (2Co.6:17,18; Gl.5:24)”.
-“...pela fé”. Desfrutamos de Sua presença em nós “pela fé”. Isso requer dependência constante dEle, entrega constante a Ele, e a noção contínua da presença de Cristo em nós. É “pela fé” que podemos pôr em prática a presença de Cristo na nossa vida.
Até aqui a oração de Paulo envolve todas as Pessoas da Trindade. O pedido é feito ao Pai (Ef.3:14) para fortalecer os crentes por seu Espírito (Ef.3:16) e que, assim, Cristo se sinta completamente à vontade no seu coração (Ef.3:17). Um dos privilégios da oração é que nela podemos envolver a eterna Divindade no serviço a favor dos outros e de nós mesmos.

III. ARRAIGADOS E FUNDADOS EM AMOR

“... a fim de, estando arraigados e fundados em amor” (Ef.3:17).
Paulo ora para que os crentes sejam fortalecidos para amar. Nessa nova comunidade que Deus está formando - a Igreja -, o amor é a virtude mais importante. Precisamos do poder do Espírito Santo e da habitação de Cristo para amar uns aos outros, principalmente atravessando o profundo abismo étnico e cultural que, anteriormente, separava-nos.

1. Amor: a virtude cristã

O amor é a virtude principal do verdadeiro cristão (1João 2:7-11). Foi Jesus quem definiu isso - "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (João 13:34,35).
Jesus disse que o primeiro e grande mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento; e o segundo, semelhante a este, é amar ao próximo como a si mesmo (Mt.22:37-39). Estes dois mandamentos são, portanto, a base da vida cristã.
Em 1João 4:7,8 está escrito: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”.
Em Romanos 13:10 diz que “o amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei”. Portanto, quem ama deseja o melhor para o próximo.
Em 1Coríntios 13 vemos outras características do amor: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece; o amor jamais acaba”.
Em 1Timóteo 1:5 está escrito que “o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida”.
Muito além do amor romântico, de um sentimento, o verdadeiro amor ultrapassa essas barreiras e é parte da personalidade do cristão. Como está escrito no Manual Bíblico de Halley, "o amor é a arma mais eficaz da Igreja. O amor é a essência da natureza de Deus. O amor é a perfeição do caráter humano. O amor é a força mais poderosa e determinante do universo inteiro. Sem o amor, nenhum dos vários dons do Espírito teria proveito".
O amor é o sobretudo do cristão, é a identidade do cristão. No rol das virtudes do fruto do Espírito, que representa o caráter de Cristo e do cristão, descrito em Gl.5:22, o amor é a primeira virtude a se apresentar.
O amor é o que nos distingue como filhos de Deus - não é o dom de profecia, o poder de falar em nome de Deus ou de realizar curas. Jesus deu poder aos seus discípulos, enviou o Consolador, mas deixou claro que seríamos conhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros (João 13:35). Deus sabe que somos todos diferentes, física e psicologicamente falando; havia diferença também entre os discípulos, mas o Senhor ordenou que amassem uns aos outros. O novo mandamento – demonstrar o amor -  é a diferença cristã em um mundo egoísta e vingativo.
É claro que não é uma tarefa fácil praticar o amor; se fosse fácil, boa parte dos problemas do povo de Deus estariam resolvidos. Realmente amar a quem nos ama é fácil, difícil é amar a quem nos persegue, a quem nos oprime, a quem nos tem por inimigos, a quem pensa e age de forma diferente de nós. Porém, é possível sim amar essas pessoas, pois Deus nos capacita para isso através da Pessoa do Espírito Santo. Devemos então nos avaliar, ver o que há de errado em nós, pedir perdão e perdoar quando necessário e, principalmente, recorrer com humildade ao Espírito Santo para que Ele produza em nós esse fruto tão precioso - o amor.

2. Arraigados e fundados em amor (Ef.3:17b)

Paulo continua sua oração intercessória e suplica a Deus por aprofundamento no amor fraternal – “...a fim de, estando arraigados e fundados em amor”. Quando Cristo tem acesso irrestrito ao coração, os cristãos se tornam “arraigados e fundados em amor”.
Se na primeira parte Paulo estava preocupado com o coração, agora ele está interessado nas raízes. Para isso, ele usa duas metáforas para expressar a profundidade do amor: uma procedente da botânica (arraigados-enraizados) e outra, da arquitetura (alicerçados – alicerce é a base, o fundamento, o sustentáculo). Dessa forma, o apóstolo está comparando a vida do cristão a uma árvore bem enraizada e a uma casa bem edificada. Nos dois casos, a causa da estabilidade é a mesma: o amor. Ambas as metáforas enfatizam profundidade em contraste com superficialidade. Devemos estar tão firmes como uma árvore e tão sólidos como um edifício.
“O amor há de ser o solo em que a vida deles deverá ser plantada; o amor há de ser o fundamento em que a vida deles será edificada” (Stott).
Uma árvore precisa ter suas raízes profundas no solo se ela quiser encontrar provisão e estabilidade. Assim também é o crente. Precisamos estar enraizados no amor de Cristo.
A parte mais importante num edifício é sua fundação; se ele não cresce com solidez para baixo, ele não pode crescer com segurança para cima. As tempestades da vida provam se as nossas raízes e a fundação da nossa vida são profundas (Mt.7:24-27).
“O amor é a principal virtude cristã (1Co.13:1-3; Gl.5:22). O amor é a evidência do nosso discipulado (João 13:34,35). O amor é a condição para realizarmos a obra de Deus (João 21:15-17). O amor é o cumprimento da lei (1Co.10:4). O conhecimento incha, mas o amor edifica (1Co.8:2)” (Hernandes Dias Lopes).

3. A intensidade do amor de Cristo

“Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef.3:18,19).
Esta é uma oração pela compreensão do amor de Cristo. Paulo orou para que o firme arraigamento do amor (Ef.3:17) proporcionasse a todos os crentes a possibilidade de compreenderem perfeitamente a intensidade do amor de Cristo. O amor de Cristo é total, completo, eterno e abrangente; ele alcança todos os aspectos da nossa vida.
Efésios 3:18 mostra que mesmo quando procuramos obter uma compreensão do amor de Cristo, nunca o entenderemos completamente, pois ele está além da nossa compreensão.
  • Ele é “largo” – cobrindo a extensão da nossa própria vida e alcançando o mundo todo.
  • Ele é “comprido” – indo alem da duração das nossas vidas e atingindo a eternidade.
  • Ele é “alto” – atingindo as alturas das nossas comemorações e alegrias.
  • Ele é “profundo” – alcançando a profundidade do desencorajamento, do desespero, e até da morte.
Nas palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, “o amor de Cristo é suficientemente largo para abranger a totalidade da humanidade (Ap.5:9,11; 7:9; Cl.3:11), suficientemente comprido para durar por toda a eternidade (Jr.31:3; Ap.13:8; João 13:1), suficientemente profundo para alcançar o pecador mais degradado (Is.53:6,7) e suficientemente alto para levá-lo ao céu (João 17:24)”.
O apóstolo continua: "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento". O amor de Cristo tem quatro dimensões, mas elas não podem ser medidas. O amor de Cristo é por demais largo, comprido, profundo e alto até mesmo para todos os santos entenderem. O amor de Cristo é tão inescrutável quanto suas riquezas são insondáveis (Ef.3:8). Nós somos tão ricos em Cristo que as nossas riquezas não podem ser calculadas nem mesmo pelo mais hábil contabilista. Sem dúvida, passaremos a eternidade explorando as riquezas inesgotáveis da graça e do amor de Cristo; passaremos a eternidade contemplando o amor de Cristo, maravilhando-nos e extasiando-nos com isso. Entretanto, o que nos cabe é começar nisso aqui e agora, nesta vida.
O clímax dessa magnifica oração é atingido quando Paulo pede que sejam cheios de toda a plenitude de Deus (Ef.3:19). Toda plenitude da divindade reside no Senhor Jesus (Cl.2:9). Quanto mais Ele habita no nosso coração pela fé, mais cheios ficamos de “toda plenitude de Deus”.
Na Epístola aos Efésios, Paulo fala-nos que devemos ser cheios da plenitude do Filho (Ef.1:23), do Pai (Ef.3:19) e do Espírito Santo (Ef.5:18). Devemos ser cheios da própria Trindade. Embora Deus seja transcendente e nem os céus dos céus possam contê-lo (2Cr.6:18), Ele habita em nós de forma plena. Deus está presente em cada célula, em cada membro do corpo, em cada área da vida; tudo é tragado pela presença e pelo domínio de Deus.
Não é possível ficarmos absolutamente cheios de toda a plenitude de Deus; porém, é esse o alvo que temos diante de nós. No Céu atingiremos a plenitude do amor, do qual Paulo acabara de falar em sua oração. Então, se cumprirá a oração do próprio Jesus: "Para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu também neles esteja" (João 17:26).

IV. A BÊNÇÃO DE DEUS EXCEDE O PENSAMENTO HUMANO

A oração intercessória de Paulo termina com uma doxologia que inspira a alma:
“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a ele seja glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef.3:20,21).

1. A dimensão das bênçãos divinas

“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20). Os pedidos precedentes foram vastos, ousados e aparentemente impossíveis; porém, Deus é “poderoso para fazer” mais do que “pedimos ou pensamos”.
Em nossas orações, nossos pensamentos incluem mais do que ousamos pedir; nossos sonhos excedem aquilo que desejamos conscientemente. Deus responde às orações; Ele responde até mesmo as orações não pronunciadas. Deus pode agir além da nossa capacidade de pedir ou mesmo imaginar.
Paulo usa superlativos para se fazer entender: Deus é capaz de “fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. Deus está muito acima e além das nossas mentes finitas. Deus é capaz porque é Todo-Poderoso. À incomensurável profundidade do amor de Cristo é acrescentada a extraordinária abundância do seu poder. Os crentes podem reivindicar o grande amor de Cristo (Ef.3:19) e saber que o seu poder está operando dentro de nós através do Espírito Santo.
John Stott diz que a capacidade de Deus de responder às orações é declarada pelo apóstolo de modo dinâmico numa expressão composta de sete etapas:
Ø  Deus é poderoso para fazer, pois Ele não está ocioso, inativo nem morto.
Ø  Deus é poderoso para fazer o que pedimos, pois escuta a oração e a responde.
Ø  Deus é poderoso para fazer o que pedimos ou pensamos, pois lê nossos pensamentos.
Ø  Deus é poderoso para fazer tudo quanto pedimos ou pensamos, pois sabe de tudo e tudo pode realizar.
Ø  Deus é poderoso para fazer mais do que tudo que pedimos ou pensamos, pois suas expectativas são mais altas do que as nossas.
Ø  Deus é poderoso para fazer muito mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, pois sua graça não é dada por medidas racionadas.
Ø  Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos conforme o seu poder que opera em nós, pois é o Deus da superabundância.
Os meios que Deus utiliza para responder às nossas orações são mencionados na expressão “segundo o poder que em nós opera”. Trata-se de uma referência ao Espírito Santo, o qual trabalha constantemente na nossa vida procurando produzir um caráter semelhante ao de Cristo, repreendendo-nos por causa do nosso pecado, dirigindo-nos em oração, inspirando-nos em adoração e guiando-nos no serviço. Quanto mais nos rendemos a Ele, maior é a Sua eficácia em nos conformar com Cristo.

2. O convite para adoração

Paulo encerra o capítulo 3 de Efésios com uma doxologia ao Deus que responde às orações:
a ele seja glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”(Ef.3:21).
Nada poderia ser acrescentado a essa oração de Paulo senão a doxologia: "a ele seja a glória". Somente Deus merece a glória, pois somente Ele é glorioso. A palavra “glória” refere-se à presença do próprio Deus, que é maravilhoso, imponente, e que inspira temor (embora a sua presença seja indescritível).
Somente Deus é o alvo da adoração eterna. A Sua sabedoria e o Seu poder são manifestos nas hostes angelicais, no sol, na lua, nas estrelas, nos animais, nos passarinhos, nos peixes, no fogo, na saraiva, na neve, no nevoeiro, no vento, nas montanhas, nas colinas, nas árvores, nos reis, no povo, nos velhos, nos jovens, em Israel e nas nações. Todos devem louvar o nome do Senhor (Sl.148).
Porém, há outro grupo de pessoas que dará “glória” eterna a Deus: a Igreja. A Igreja é a esfera em que a glória de Deus se manifesta. A Igreja, eleita de Deus, existe para glorificá-lo. A Igreja é o campo onde o plano de Deus se exterioriza aqui na terra (Ef.3:10). A capacidade de dar glória a Deus ocorre somente “por Jesus Cristo”, pois Ele trouxe a Igreja à existência, através do seu sacrifício pelo pecado e sua ressurreição dos mortos. A Igreja deve dar glória a Deus nos cultos de louvor, na vida pura dos seus membros, na proclamação do evangelho a todo o mundo e no seu ministério de ajuda aos necessitados.
A duração do louvor e adoração a Deus é para “todas as gerações, para todo o sempre” (Ef.3:21), o que significa que deve ser praticada por todos os crentes. A Deus seja a glória por todas as gerações (na história) e para todo o sempre (na eternidade). Ouvindo Paulo rogar que haja louvor eterno a Deus na Igreja e em Jesus Cristo, a resposta do nosso coração é um vivo “Amém!”.
“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1Tm1:17).

CONCLUSÃO

Nunca devemos nos cansar de orar por algo ou alguém. Paulo diz que devemos “perseverar” na oração e “vigiar”. A nossa persistência é uma expressão da fé que temos de que Deus responde às nossas orações. A fé não deve morrer, mesmo que as respostas venham lentamente, porque a demora pode ser o modo de Deus realizar a sua vontade em nossa vida. Quando nos sentirmos cansados de orar, saibamos que Deus está presente, sempre ouvindo, sempre respondendo – talvez não do modo que esperamos, mas do modo que Ele julga ser o melhor para cada um de nós. Tem você cultivado a oração? É chegado o momento de buscarmos, ainda mais, a presença de Deus (Is.55:6).