Texto Base: Efésios 5:15-20
“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef.5:18).
Efésios: 5:
15.Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios,
16.remindo o tempo, porquanto os dias são maus.
17.Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.
18.E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito,
19.falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração,
20.dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos de um dos fatores que caracterizam o movimento pentecostal: o fervor espiritual. A exortação do apóstolo é enfática: “enchei-vos do Espírito (Ef.5:18); isto significa viver a plenitude ou o fervor do Espírito Santo. Porém, muitos têm confundido barulho com fervor espiritual. Em muitas igrejas vemos movimentos e agitação sem, contudo, haver espiritualidade. Hoje está muito em voga o “falar em línguas”. Tem pregadores que, no momento da pregação, insistem que todas as pessoas presentes na igreja falem línguas, independentemente de serem ou não batizados no Espírito Santo, pré-requisito para o dom de línguas. E em atenção ao tal pregador o auditório se agita e se envolve num tremendo barulho, sem nenhuma espiritualidade. A maioria das vezes o que parece fervor espiritual é apenas sensacionalismo, resultante de motivações e mecanismos externos, que é efêmero. O genuíno fervor espiritual está intimamente vinculado com a maturidade cristã, que não é medida pela quantidade de dons que uma igreja exercita, mas pelo exercício da piedade e da vida cristã consagrada (Ef.4:17-32). O cristão não deve fazer sensacionalismo com o(s) dom(ns) que recebeu, mas usá-los humildemente no serviço do Senhor.
I. A IMPORTÂNCIA DA DEVOÇÃO PELA PALAVRA E ORAÇÃO
A Palavra de Deus e a Oração são pilares sustentadores da vida do crente. Por isso, precisamos apegar a eles, se quisermos obter vitórias nos dias maus. Sem oração o crente não vai a lugar algum. O crente que negligencia esta ferramenta é considerado presa fácil para Satanás, por ausência de poder em sua vida. Por meio da oração, a pessoa busca saber a orientação de Deus para os determinados fins que aspira realizar. As vitórias são conquistadas quando os joelhos são dobrados diante de Deus. A oração é a nossa maior arma, é o maior meio que nós temos para recorrer aos recursos infinitos de Deus. O Senhor Jesus Cristo é o nosso maior exemplo. Ele começou Seu ministério terreno em oração; deu prosseguimento ao ministério em oração e terminou a Sua vida aqui na terra da mesma forma que iniciou, em oração (Mt.26:39-42; Lc.5:16; 22:41-44). Que belíssimo exemplo a ser seguido, imitado, almejado!
Além da oração, outro aspecto que deve ser uma constante na vida espiritual diária do crente é a leitura e o estudo da Bíblia Sagrada. A Palavra de Deus é a principal fonte de revelação da vontade de Deus para com o homem. Se queremos ter uma vida de comunhão com Deus, faz-se mister que saibamos qual é a vontade dEle para com o homem, e esta vontade está estampada na Palavra de Deus.
1. Devoção
A palavra “devoção” tem raiz no latim devotione, e significa afeição, dedicação, apego intenso, culto. Em nosso caso, apego intenso à Palavra e à Oração. Estes são dois pilares que nos sustentam diante das tempestades da vida. São importantes práticas espirituais desde o princípio da Igreja. Não há como a Igreja ser vencedora diante das tempestades, intempéries e adversidades, sem o apego intenso a estes dois pilares espirituais.
2. A Oração e a Palavra
a) A Oração. É a essência da Igreja, e expressa a nossa total dependência de Deus. É o ato reverente e piedoso através do qual o crente adora e se aproxima de Deus, mediante a intercessão de nosso Senhor Jesus Cristo. No Antigo e Novo Testamento, a oração era o supremo recurso usado pelo povo de Deus para suplicar, agradecer, adorar, pedir, interceder e bendizer ao único e verdadeiro Senhor. Na oração, a fé é manifestada, porque quando alguém se dispõe a orar, é porque sabe que Deus existe e está pronto a atender ao clamor dos que O buscam - “... é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe...”(Hb.1:6).
Em muitas ocasiões, Deus decidiu agir através da oração dos crentes. Lembre-se do apóstolo Paulo, e da grandeza do seu ministério. Lembre-se de Martinho Lutero, e do impacto da sua vida em todo o mundo. Lembre-se de João Wesley, e do avivamento que varreu a Europa e os Estados Unidos. Lembre-se de Smith Wigglesworth, e das milhares de pessoas que foram curadas. E lembre-se de que, por trás de todas essas pessoas, existe uma vida de oração. A Igreja pode transformar o mundo, você pode transformar o mundo. Qual é o caminho? Uma vida de oração.
Quando oramos expressamos as seguintes verdades:
· Reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração.
· Reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer.
· Revelamos nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser.
· Revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em sua Palavra, que quer que oremos sem cessar (1Ts.5:17).
· Demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por eles e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em suas vidas, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40).
b) A Palavra. O ponto fundamental para conhecermos o caráter e a vontade de Deus é conhecer a Sua Palavra e, por este motivo, Jesus sempre demonstrou que Seu ministério nada mais era senão o cumprimento das Escrituras (Mt.5:17,18; João 5:39; Lc.24:44-47).
No princípio da Igreja, o estudo e o ensino da Palavra era, ao lado da pregação do Evangelho, o principal e exclusivo trabalho dos apóstolos (At.6:2,4). O apóstolo Paulo foi um líder que deu imenso valor ao estudo da Palavra de Deus; em Éfeso, ele ensinou a Palavra durante dois anos, e o ensino era diário (cf.Atos 19:8-10).
À época de Neemias, o povo se reuniu desejoso para ouvir a Palavra (cf. Neemias capítulo 8). A leitura, a explicação e a aplicação da Palavra trouxeram choro pelo pecado e alegria de Deus na vida do povo. Vimos também que a liderança se reuniu para aprofundar-se no estudo da Palavra, e o resultado foi a restauração da vida religiosa de Jerusalém. Essas reuniões de estudo aconteceram durante 24 dias (Ne.8:1-3,8,13,18; 9:1). Havia fome da Palavra. O estudo e a obediência a ela trouxeram um poderoso reavivamento espiritual. Não temos nenhum outro relato bíblico de um culto tão impressionante quanto esse, quando o povo, pelo exemplo de seus líderes, reuniu-se durante um mês para estudar a Palavra e acertar a sua vida com Deus.
Através do estudo da Palavra de Deus, liderado por Esdras e Neemias, os israelitas compreenderam que se tivessem guardado a Lei do Senhor não teriam sido levados para o cativeiro, as cidades não tinham sido devastadas e os muros não necessitavam de reconstrução. O arrependimento pelos pecados cometidos fez com que o povo de Israel assumisse um compromisso de obedecer ao Senhor e à Sua Palavra.
O salmista alerta que a felicidade do homem está em ter prazer na lei do Senhor de dia e de noite (Sl.1:1,2) e, desde o tempo de Moisés, é dito que o segredo da própria vida espiritual é o fato de termos conhecimento e praticarmos, dia a dia, a Palavra do Senhor (Dt.6:1-9).
3. O viver sabiamente (Ef.5:15)
“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios[...]” (Ef.5:15-17).
Tudo que vale a pena fazer requer cuidados. Nós nos preocupamos com o que nos parece importante – trabalho, educação, lar e família, habitação, roupas e aparência. Assim, como cristãos, diz Paulo, devemos nos preocupar com a nossa vida cristã; devemos tratá-la com a seriedade que ela requer. Quais são, portanto, as marcas das pessoas que vivem sabiamente? (Adaptado do Livro “Lendo Efésios com Jon Stott”).
a) Aproveitam ao máximo todas as oportunidades para fazer o bem. As pessoas sábias sabem que o tempo é um bem precioso. Todos temos o mesmo tempo à disposição. Nenhum de nós pode esticar o tempo; mas as pessoas sábias usam-no para a maior vantagem possível. Elas sabem que o tempo está passando e que “os dias são maus”. Assim, aproveitam cada oportunidade passageira enquanto ela é oferecida. Uma vez passada, nem mesmo as pessoas mais sábias não conseguem recuperá-la.
b) Discernem a vontade de Deus. As pessoas têm certeza de que a sabedoria deve ser encontrada na vontade de Deus, em nenhum outro lugar. O próprio Jesus orou: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua”, e ensinou-nos a orar: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Nada é mais importante na vida do que descobrir e cumprir a vontade de Deus.
Segundo Stott, ao procurar descobrir a vontade de Deus, devemos distinguir entre Sua vontade geral e Sua vontade particular. Sua vontade geral se relaciona com todos nós - isto é, tornar-nos como Cristo. Sua vontade particular, no entanto, diz respeito às especialidades de nossa vida, e é diferente para cada um de nós – que carreira seguiremos, se devemos nos casar e, se sim, com quem. Encontramos Sua vontade nas Escrituras Sagradas, mas não encontramos Sua vontade particular lá. Para termos certeza, há princípios gerais na Bíblia para nos guiar, mas decisões detalhadas precisam ser tomadas após cuidadosa reflexão e oração, e a busca de conselhos de cristãos maduros e experientes.
“Devemos priorizar a vontade de Deus em nossas decisões, atitudes e não focar as aparentes vantagens, como faz o mundo. O modo de vida do crente não pode ser o mesmo padrão do mundo (Rm.12:1)”.
4. Remindo o tempo (Ef.5:16)
“remindo o tempo, porquanto os dias são maus”.
Como já foi dito anteriormente, remir o tempo é uma das marcas da pessoa que vive sabiamente. Remir o tempo é praticar a mordomia do tempo, e a mordomia do tempo é também a mordomia das oportunidades. Remir o tempo significa otimizar e aproveitar ao máximo cada oportunidade de forma prudente. O tempo é um presente precioso que Deus nos dá para sermos bons mordomos dele.
Como remir o tempo que Deus nos concede? Para o crente a mordomia do tempo está diretamente relacionada a uma vida guiada pelo Espírito Santo; uma vida de acordo com a vontade de Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef.5:15-17).
Sem dúvida, a melhor aplicação do nosso tempo é aquela que prioriza o Reino de Deus. O próprio Senhor Jesus diz que devemos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as demais coisas essenciais à nossa sobrevivência serão acrescentadas (Mt.6:33).
II. A IMPORTÂNCIA EM MANTER-SE “CHEIO DO ESPÍRITO”
Paulo falou que somos selados pelo Espírito Santo (Ef.1:13-14) e que não devemos entristecer o Espírito (Ef.4:30); agora nos ordena a sermos cheios do Espírito (Ef.5:18). É o Espírito Santo que nos convence do pecado; é Ele quem opera em nós o novo nascimento; é Ele quem nos ilumina o coração para entendermos as Escrituras; é Ele quem nos consola e intercede por nós com gemidos inexprimíveis; é Ele quem nos batiza no corpo de Cristo; é Ele quem testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus; é Ele quem habita em nós. Todavia, é possível ser nascido do Espírito, ser batizado no Espírito, habitado pelo Espírito, selado pelo Espírito e estar ainda sem a plenitude do Espírito. Aquele que já tem o Espírito, que é batizado no Espírito, deve agora, ser cheio do Espírito.
1. “E não vos embriaguez com vinho” (Ef.5:18a)
O apóstolo Paulo faz um contraste entre se embriagar com o vinho, que produz uma temporária sensação de “bem-estar”, e ser cheio do Espírito, que produz uma permanente alegria. Embriagar-se com vinho está associado à forma de vida ímpia e aos seus iníquos prazeres. Em Cristo, gozamos de uma alegria superior mais elevada e mais duradora, que cura a depressão, monotonia ou tensão mental. Não devemos nos preocupar com o quanto temos do Espírito em nós, mas com o quanto a nossa vida está entregue a Ele. Submeta-se diariamente a sua orientação e obtenha dele forças.
William MacDonald diz que as Escrituras não condenam o uso do vinho, mas condenam seu abuso. O uso do vinho como medicinal é recomendado (Pv.31:6; 1Tm.5:23); Jesus transformou água em vinho para ser consumido numa festa de casamento (João 2:1-11). Porém, o uso do vinho se transforma em abuso sob as seguintes circunstâncias, sendo então proibido:
· Quando há excessos (Pv.23:29-35).
· Quando o indivíduo passa a ser dominado por ele (1Co.6:12b).
· Quando ofende a consciência fraca de outro crente (Rm.14:13; 1Co.8:9).
· Quando destrói o testemunho do cristão na comunidade e, portanto, não glorifica a Deus (1Co.10:31).
· Quando há alguma dúvida na mente do cristão sobre essa prática (Rm.14:23).
Concordo com o Rev. Hernandes Dias Lopes, quando diz que na embriaguez, o homem perde o controle de si mesmo; no enchimento do Espírito, ele ganha o controle de si, pois o domínio próprio é fruto do Espírito.
Martyn Llody-Jones, médico e pastor, disse: “o vinho e o álcool farmacologicamente falando, não são estimulantes, mas depressivos. O álcool sempre está classificado na farmacologia entre os depressivos. O álcool é um ladrão de cérebros. A embriaguez, deprimindo o cérebro, tira do homem o autocontrole, a sabedoria, o entendimento, o julgamento, o equilíbrio e o poder para avaliar as coisas. Ou seja, a embriaguez impede o homem de agir de maneira sensata.
Todavia, o resultado da plenitude do Espírito é totalmente diferente; em vez de nos aviltar e embrutecer, o Espírito nos enobrece, enleva e eleva; torna-nos mais humanos, mais parecidos com Jesus. O Espírito Santo não pode ser posto num manual de farmacologia, mas Ele é estimulante, antidepressivo; Ele estimula a mente, o coração e a vontade.
2. “..., Mas enchei-vos do Espírito” (Ef.5:18b)
John Stott disse que “enchei-vos do Espírito” é um mandamento; não é uma proposta provisória, mas uma ordem inquestionável. Deixar-se encher pelo Espírito é obrigatório, não opcional, e a ordem é dirigida a toda a comunidade cristã. Todos devemos ser cheios do Espírito. A plenitude do Espírito não é um privilégio elitista, mas está à disposição de todo o povo de Deus.
Stott diz ainda que, embora seja uma ordem, é uma ordem para permitirmos que algo nos aconteça, não algo pelo qual somos os principais responsáveis. A versão Nova Almeida Atualizada diz: “deixem-se encher do Espírito” [“Deixem o Espírito encher vocês”, tradução livre]. O que é essencial é o penitente abandono do que entristece o Espírito Santo e a abertura fiel a Ele, de modo que nada o impeça de nos encher.
Quando devemos ser cheios? Agora. A palavra grega descreve uma ação contínua. Não devemos ser cheios apenas uma vez, mas continuar a ser cheios, pois a plenitude do Espírito não é uma experiência única que nunca podemos perder, mas o privilégio de sermos constantemente renovados, mediante a fé e a obediência contínuas. Fomos selados com o Espírito de uma vez por todas, mas precisamos ser cheios do Espírito e continuar a ser cheios todos os dias, em todos os momentos do dia. Davi preocupava-se com isso, tanto que fez o seguinte pedido ao Senhor: “Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Salmos 51:11).
3. Não confundir com o batismo no Espírito Santo
“Ser cheio do Espírito” não deve ser confundido com o Batismo no Espírito Santo, que estudamos na Aula 03. O batismo no Espírito é uma experiência que acontece uma única vez na vida do crente; o ser cheio do Espírito é uma experiência continua.
Às vezes a plenitude do Espírito parece ser apresentada na Bíblia como uma dádiva soberana de Deus. Por exemplo, João Batista era cheio do Espírito Santo desde o ventre da sua mãe (Lc.1:15). Nesse caso, a pessoa recebe a plenitude sem preencher nenhuma condição prévia. Não é algo que obtém por obras ou orações. Deus o dá conforme o seu bel-prazer. Em Efésios 5:18, porém, o crente recebe a ordem de encher-se do Espírito. Logo, isso requer ação da sua parte. Ele tem de cumprir certas condições. É resultado de obediência e não vem automaticamente. Por essa razão, a plenitude do Espírito não pode ser confundida com seus outros ministérios, tais como:
· O batismo no Espírito Santo. Este é o revestimento e derramamento de poder do Alto - “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós...” (Atos 1:8) -, com a evidência física inicial de línguas estranhas (Atos 2:2,3), conforme o Espírito Santo concede, pela instrumentalidade do Senhor Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço para Deus.
· O batismo pelo Espírito Santo. Esta é a obra do Espírito pela qual ele incorpora o crente no corpo de Cristo (1Co.12:13).
· A habitação. Por este ministério o Consolador habita no corpo do cristão e o fortalece para a santidade, adoração e o serviço (João 14:16).
· A unção. O Espírito é a própria unção que ensina ao filho de Deus as coisas do Senhor (1João 2:27).
· O Penhor e o Selo. O Espírito Santo como penhor garante ao santo a sua herança, e como selo preserva o crente para a sua herança (Ef.1:13,14).
Estes são alguns dos ministérios do Espírito Santo que o crente desfruta no momento em que é salvo.
Estar cheio do Espírito é diferente. Não é uma experiência que acontece uma vez por todas na vida do discípulo de Jesus. Antes, trata-se de um processo contínuo, como já dissemos anteriormente. A tradução literal desse mandamento é: ”Permaneça[LdPL1] sendo cheio pelo Espírito”. Esta condição é a ideal do crente aqui na Terra, mas estar cheio hoje não significa estar cheio amanhã; é uma condição que deve ser almejada continuamente. Todavia, para que isto aconteça, devemos:
Ø Confessar e abandonar todo o pecado de que temos consciência na nossa vida (1João 1:5-9). É evidente que o Espírito, sendo santo, não pode trabalhar livremente numa vida em que o pecado é evidente.
Ø Submeter-nos completamente ao seu controle (Rm.12:1,2). Isso significa que rendemos a nossa vontade, a nossa inteligência, o nosso corpo, o nosso tempo, o nosso talento e o nosso dinheiro a Ele. Todas as áreas da nossa vida devem estar debaixo do seu controle.
Ø Fazer com que a Palavra de Cristo habite ricamente em nós (Cl.3:16). Isso envolve a sua leitura, estudo e obediência. Quando a Palavra de Cristo habita ricamente em nós, seguem-se os mesmos resultados que se verificam na plenitude do Espírito (Ef.5:19).
Ø Finalmente, devemos nos esvaziar do egoísmo (Gl.2:20). Para poder encher um copo com um novo ingrediente é necessário primeiramente esvaziá-lo. Para nos enchermos do Espírito Santo precisamos esvaziar-nos de nós mesmos.
III. VIGILANTES CONTRA A FRIEZA ESPIRITUAL
Certa vez perguntaram a um pregador: “qual a diferença entre o pecado dos crentes e o pecado dos ímpios”? Ao que o pregador respondeu: há toda diferença. Os pecados dos crentes são piores. São piores porque lhes falta muitas vezes a percepção de que isto é uma afronta ao Deus que lhe concedeu toda a graça; é pior porque ao contrário dos ímpios e dos incrédulos os crentes experimentam e conhecem o Deus de toda Glória. É diferente porque mesmo sendo salvo, o crente prestará conta de suas atitudes e de seus atos para com Deus.
O domínio do pecado na vida do crente é o grande causador da frieza espiritual. Por isso, temos que ser vigilantes para que o pecado não faça o seu ninho em nosso coração, ocupando o lugar que é exclusivo do Espírito Santo. Precisamos estar cheio do Espírito Santo para que Deus se agrade de nós.
A seguir, tratamos de quatro características de uma pessoa cheia do Espírito Santo: testemunho transbordante, gratidão por tudo, uma vida de adoração, uma vida de sujeição.
1. Testemunho transbordante (Ef.5:19)
“falando entre vós com salmos”.
Este texto nos fala da comunhão cristã. O crente cheio do Espírito não vive resmungando, reclamando da sorte, criando intrigas, cheio de amargura, inveja e ressentimento; sua comunicação é só de enlevo espiritual para a vida do irmão. Rev. Hernandes Dias Lopes diz que o enchimento do Espírito é remédio de Deus para toda sorte de conflito na Igreja. A falta de comunhão na Igreja é carnalidade e infantilidade espiritual (1Co.3:1-3). Precisamos mostrar um testemunho transbordante em quaisquer circunstâncias.
2. Uma vida de adoração (Ef.5:19)
“Cantando [...] hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”.
O contexto aqui é a comunhão na adoração. No culto público, o crente cheio do Espírito Santo edifica o irmão, é bênção na vida do irmão. “Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo, celebremos o rochedo da nossa salvação” (Sl.95:1). É um convite recíproco ao louvor!
Em Ef.5:19, “cânticos” não é entre vós, mas sim, ao Senhor; não é adoração fria, formal e sem entusiasmo, sem vida. O crente cheio do Espírito adora a Deus com entusiasmo e profusa alegria. Ele usa toda a sua mente, emoção e vontade. Um culto vivo não é carnal nem morno; não é barulho, misticismo nem emocionalismo; não é experiencialismo, exibicionismo, mas um culto em espírito e em verdade, um culto cristocêntrico, alegre, reverente, vivo e cheio de fervor.
3. Dá graça em tudo (Ef.5:20)
“dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”.
O crente cheio do Espírito, está cheio não de queixas, de murmuração, mas de gratidão. Todo ser humano gosta de receber agradecimentos ou elogios. Deus também gosta de receber elogios e de ouvir palavras de gratidão de nossa parte. Deus se agrada quando reconhecemos o seu cuidado e o seu amor diário para conosco. A Bíblia está cheia de homens e mulheres que demonstraram sinceras atitudes de gratidão a Deus. Cito alguns:
-Noé, após sobreviver ao dilúvio, expressou sua gratidão oferecendo sacrifico a Deus (Gn.8:20).
-Davi, no salmo 116:7, declara: “eu te darei uma oferta de gratidão e a ti farei as minhas orações”.
-Ana agradeceu a Deus por lhe abrir a madre oferecendo o seu filho Samuel para ser exclusivo na casa do Senhor (Samuel 1).
Mas, há uma passagem no Novo Testamento que muito expressa gratidão a Deus de maneira prática e com sinceridade: a cura dos dez leprosos (Lc.17:11-19). Observe que só um voltou para agradecer a Jesus, e era Samaritano, ou seja, não era crente. Ele prostrou-se aos pés de Jesus, com o rosto em terra, dando-lhe graças. O que isso significa? Significa que ele foi capaz de reconhecer que Jesus é Deus, que Ele é a fonte de todas as dádivas.
A maior forma de oração é o louvor que reconhece que Deus é Deus e que o ser humano é uma simples criatura. Observe que os demais leprosos, que eram judeus, que se julgavam povo de Deus, logo que receberam a bênção tão desejada esqueceram de Jesus. Foram ingratos. Jesus se sensibilizou com esta atitude de ingratidão, por isto perguntou: “não foram dez os limpos? e onde estão os nove? não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Lc.17:17,18).
Quantos cristãos na atualidade não tem tido atitude semelhante a esta desses judeus. Quando recebem a bênção que tanto almejava se esquecem de Deus, se esquecem da Bíblia sagrada, se esquecem de agradecer pelas bênçãos recebidas. Devemos dar graças por tudo (Ef.5:20).
Embora o texto diga que devemos dar graças sempre por tudo, é necessário interpretar corretamente este versículo. Não podemos dar graças pelo mal moral. John Stott tem razão quando diz que o “tudo” pelo qual devemos dar graças a Deus deve ser qualificado pelo seu contexto, a saber, “a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Nossas ações de graças devem ser por tudo que é consistente com a amorosa paternidade de Deus e com a revelação de si mesmo que nos concedeu em Jesus Cristo.
Infelizmente, uma noção estranha está conquistando popularidade em alguns círculos cristãos: a noção de que o grande segredo da liberdade e da vitória cristãs é o louvor incondicional – o marido deve louvar a Deus pelo adultério da esposa; a esposa deve louvar a Deus pelo filho que foi para as drogas e pela filha que se perdeu. Isso é um absurdo! Dar graças pelo mal moral é insensatez e blasfêmia.
Naturalmente, os filhos de Deus aprendem a não discutir com o Senhor nos momentos de sofrimento, mas, sim, a confiar nele e, na verdade, dar-lhe graças por sua amorosa providência mediante a qual Ele pode fazer até mesmo o mal servir aos seus bons propósitos (cf. Gn.50:20; Rm.8:28). Mas, isso é louvar a Deus por ser Deus, e não o louvar pelo mal. Fazer isso seria reagir de modo insensível à dor das pessoas (ao passo que a Bíblia nos manda chorar com os que choram). Fazer isso seria desculpar e até encorajar o mal (ao passo que a Bíblia nos manda odiá-lo e resistir ao diabo). O mal é uma abominação para o Senhor, e não podemos louvá-lo nem dar-lhe graças por aquilo que ele abomina.
4. Sujeição (Ef.5:21)
“Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”.
Uma pessoa cheia do Espírito Santo não pode ser altiva, arrogante, soberba. Os que são cheios do Espírito Santo têm o caráter de Cristo, são mansos e humildes de coração. Em Cristo, devemos ser submissos uns aos outros. Paulo viu os perigos do individualismo na comunidade cristã de Corinto (1Co.14:26-33) e censurou esse erro (Fp.2:1; 4:2). Paulo sabia que o segredo de manter a comunhão de gozo na comunidade era a ordem e a disciplina que vem da submissão espontânea de uns aos outros. Pense nisso!
CONCLUSÃO
Apesar de vivermos dias difíceis de apostasia e de dificuldades crescentes no campo espiritual, não podemos desanimar nem achar que tudo está perdido. Não está tudo perdido, porque Jesus, que é o Senhor de todas as coisas, não desanimou nem desistiu daqueles que vivem sem fervor espiritual, trazendo-lhes um conselho para que abandonem este estado de espiritualidade. Deus não tolera uma vida espiritual medíocre; Ele deseja que todos os crentes estejam envolvidos no amor e no serviço. Deus não aceita frieza espiritual, pois Ele abomina uma religião que mantém a aparência, e que ignora a fé genuína e sincera. Continuemos na busca incessante do fervor espiritual!