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DONS DE REVELAÇÃO

Texto Base: 1Coríntios 12:8,10; Atos 6:8-10; Daniel 2:19-22

"Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (1Co.14:26).

 

1 Coríntios 12:

8.Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;

10.e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.

Atos 6:

8.E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.

9.E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão.

10.E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.

Daniel 2:19-22

19.Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu.

20.Falou Daniel e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a força;

21.ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes.

22.Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em trevas; e com ele mora a luz.

INTRODUÇÃO

O apóstolo Paulo relacionou três grupos de Dons espirituais, a saber: três Dons de Revelação (Palavra de sabedoria, Palavra de ciência - ou conhecimento e do Discernimento de espíritos); três Dons de Poder (Fé, Cura e Operação de milagres); três Dons de Elocução (Profecia, Variedade de línguas e Interpretação de línguas). É certo que em nenhuma deles o objetivo de Paulo foi o de quantificar os Dons, ou seja, definir quantos são, mas o de qualificá-los, ou seja, discorrer sobre o objetivo e o uso correto de cada um. Nesta Aula trataremos do grupo dos Dons de Revelação. Estes Dons são dados pelo Espírito Santo ao povo de Deus para que sejam revelados mistérios ocultos aos homens, com a tomada de atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada lhe fica oculto. São evidências da onisciência de Deus no meio do Seu povo. Por intermédio dos Dons de Revelação, a Igreja de Cristo manifesta sabedoria, ciência e discernimento sobrenaturais. Nestes últimos dias da Igreja, eles são de grande necessidade aos santos, habilitando-os a entenderem muito mais e a combaterem os espíritos do erro e suas artimanhas por toda parte.

I. PALAVRA DA SABEDORIA

“Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria”(1Co.12:8a).

A Sabedoria a que se refere este texto não é a humana, adquirida nos livros ou nas universidades, mas sim uma capacidade sobrenatural, divina, para tomar decisões sábias em circunstâncias extremante difíceis.

1. Conceito

-Palavra. Segundo o dicionário Online de Português, Palavra é a “unidade linguística com significado próprio e existência independente, que pode ser escrita ou falada”.

-Palavra da Sabedoria. É uma capacidade vinda diretamente de Deus, mediante a ação direta do Espírito Santo em nossas vidas tornando-nos capazes de resolver problemas tidos como insolúveis.  

Essa “Sabedoria” não é o resultado da capacidade cognitiva humana; é uma capacidade divina de julgar as questões práticas do nosso dia a dia de maneira que o nome do Senhor seja exaltado. De acordo com Estêvam Ângelo de Souza, "a Palavra de Sabedoria é um fragmento da sabedoria divina, que é dada por meios sobrenaturais".

Tiago exorta todo crente a buscar em Deus a Sabedoria – “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (Tg.1:5). Aqui, Tiago está falando a respeito da "habilidade de tomar decisões em circunstâncias difíceis"; não diz respeito ao conhecimento adquirido pelo homem. Muitos homens são dotados de grande capacidade intelectual, mas infelizmente desconhecem a Deus.

Jesus agradeceu ao Pai por esta revelação aos seus ‘pequeninos’: “Graças de dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste às criancinhas; assim, ó Pai, porque assim te aprouve”.

2. A Bíblia e a Palavra de Sabedoria

Conquanto na Antiga Aliança os dons espirituais não fossem plena e claramente evidenciados como na Nova Aliança, alguns episódios do Antigo Testamento vislumbram o quanto Deus concedia a alguns do seu povo Sabedoria do alto para executar tarefas ou tomar decisões. Veja alguns exemplos notórios deste Dom no Antigo Testamento:

a) na construção do Tabernáculo. Para construir o Tabernáculo conforme Deus tinha projetado era necessária bastante habilidade e sabedoria dos encarregados da obra. Deus escolheu e capacitou Bezalel e Aoliabe como artífices para construírem o Tabernáculo e todos os pertences deste. O primeiro era da Tribo de Judá; o segundo, da Tribo de Dã (Êx.31:2,6). Ambos foram capacitados pelo Espírito de Deus a fim de trabalharem em toda sorte de obra em ouro, prata, bronze e madeira.

 “Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência em todo artifício, para inventar invenções, e trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre, e em lavramento de pedras para engastar, e em artifício de madeira, para trabalhar em todo lavor. E eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todo aquele que é sábio de coração, para que façam tudo o que te tenho ordenado” (Êx.31:2-6).

Além disso, esses dois homens também supervisionaram os outros trabalhadores envolvidos na construção (Êx.31:6b). Deus capacita as pessoas para cumprirem suas ordens. O próprio Senhor escolheu os trabalhadores, capacitou-os com habilidades e inteligência e os encarregou de executar uma obra para sua glória (Ex.31:6). A obra é de Deus, e o Senhor a realiza por meio de homens seletos e depois recompensa-os por sua participação.

b) na interpretação de sonhos:

-José, filho de Jacó. José teve momentos especiais em sua vida, em que demonstrou ter a sabedoria concedida por Deus, em situações extremamente significativas. Na prisão, interpretou os sonhos dos servos de Faraó, os quais se cumpriram plenamente. Chamado ao palácio real, diante de todos os sábios, adivinhos e conselheiros do rei, interpretou os sonhos proféticos que Deus concedera ao monarca egípcio, e ainda deu instruções e consultoria gratuita sobre planejamento, economia, contabilidade e finanças a Faraó. Se não fosse a Sabedoria do Espírito de Deus, jamais o jovem hebreu teria tamanha capacidade para interpretar os misteriosos sonhos das vacas gordas e das vacas magras. Por isso, e por vontade divina, foi elevado à posição de Governador do Egito (cf. Gn.41:14-41).

-Daniel. Interpretou o sonho de Beltessazar - “Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses; e teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhadores. Porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente, e ciência, e entendimento, interpretando sonhos, e explicando enigmas, e solvendo dúvidas, ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar; chame-se, pois, agora Daniel, e ele dará interpretação” (Dn.5:11,12).

c) Salomão - numa tomada de decisão difícil. Este rei de Israel usou a sabedoria divina ao julgar o caso daquelas mulheres que lutavam pela posse de um recém-nascido (1Rs.3:16-28). Todos os que ouviram a sentença do rei temeram ao Senhor, pois sabiam que sobre o monarca atuara uma Sabedoria sobrenatural vinda diretamente de Deus (1Rs 3:28).

No Novo Testamento

No Novo Testamento há diversas referências quanto à aplicabilidade dessa sabedoria divina. Estevão é um exemplo claro em que a Palavra da Sabedoria era manifestada. A exposição das Escrituras realizada por ele contagiou sobremaneira os ouvintes e muita inveja aos sábios da sinagoga. Veja o que diz o texto sagrado: “E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At.6:9,10).

Essa mesma sabedoria tem sido identificada na vida de irmãos humildes ao longo da história da Igreja. Há casos em que pessoas de pouca instrução formal, usadas por Deus, transmitem mensagens de profundo significado e conteúdo espiritual, que provocam admiração nos que o ouvem.

O apóstolo Paulo exortou os cristãos da Igreja de Colossos da seguinte forma: "Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um" (Cl.4:5,6).

A falta dessa Sabedoria de Deus pode causar graves prejuízos à pregação do evangelho. Sem a Sabedoria advinda do Espírito Santo, o espaço será ocupado pela arrogância. Pregador arrogante traz escândalo e prejuízos à Obra de Cristo. Não precisa nem citar exemplos; há muitos hoje em plena atividade.

É interessante que anotemos que o Dom da Palavra da Sabedoria não faz do seu portador uma pessoa mais sábia do que as outras. Segundo Stanley M. Horton, "o Espírito não torna a pessoa sábia por meio deste Dom, nem significa que a pessoa mais tarde não possa cometer erros (cf. o exemplo do rei Salomão que, no fim da vida, não só errou, mas pecou terrivelmente) ”.

3. Uma liderança sábia

A Palavra da Sabedoria é um Dom necessário ao pastoreio - na administração e liderança.  O pr. Elinaldo Renovato, citando Eurico Bergstém, disse que “esse Dom proporciona, pela operação do Espírito Santo, uma compreensão da profundidade da sabedoria de Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja nas decisões no serviço do Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem entendida”.

Moisés tinha esse Dom. Diversas são as passagens do Livro do Pentateuco que mostram isso na vida desse maravilhoso líder, quando conduzia o povo de Israel, pelo deserto, rumo à Terra Prometida. Leia Deuteronômio 34:9-12 e tire suas conclusões.

Quando os líderes do povo de Deus são aquinhoados pelo Espírito Santo com esse Dom, dispõem de uma diversidade de serviços ou ministérios que dinamizam a Obra de Cristo e se desenvolve com facilidade, e a edificação da Igreja é feita com sabedoria. Os problemas, que são inevitáveis, ao surgirem serão solucionados com sapiência e eficácia (At.6:1-7); altruísmo (veja Atos 15:11-21 – primeiro Concílio - dirimir dúvidas e questões doutrinárias originadas pelo grande influxo de convertidos gentios na igreja - trabalhando pela unidade da Igreja).

Liderança é uma tremenda responsabilidade. Liderança espiritual é uma responsabilidade maior ainda. O líder deve ser o exemplo, seus liderados devem correr juntamente com ele na área espiritual. Ele é exortado a fazê-lo com diligência, sabedoria, não por constrangimento, e sim de maneira espontânea (1Pd.5:1-4), estando certo de que um dia prestará contas da sua liderança (Hb.13:17). Isso faz com que os líderes sejam pessoas que devem andar com Deus para não virem a errar em sua liderança e sejam causa de desgraças na vida de outros, como aconteceu com a liderança do sacerdote Eli.

Se a Igreja Local não tiver uma sábia liderança, então ela terá dificuldades de cumprir a sua missão. Nestes últimos dias da Igreja aqui na Terra, Deus está à procura de líderes fiéis e frutígeros; Ele está clamando como fez na época de Ezequiel: “Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez.22:30).

II. PALAVRA DA CIÊNCIA

“[...] e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência” (1Co.12:8).

1. O que é?

A Palavra da Ciência ou do conhecimento não se referi ao conhecimento científico que se adquire nas cátedras das universidades; refere-se, sim, à capacidade sobrenatural concedida diretamente pelo Espírito Santo, que nos habilita a conhecer fatos e circunstâncias que se acham ocultos.

Segundo o Pr. Elinaldo Renovato, “Palavra da Ciência” é a manifestação da ciência ou do conhecimento de Deus, concedido ao homem salvo. Pode ser dado por sonho, por visão, por revelação especial, operando na esfera humana, no seio da Igreja; sendo um conhecimento sobrenatural propiciado por Deus. Podemos dizer que a Palavra da Sabedoria é a aplicação da “Ciência” de Deus, na vida prática pessoal ou da Igreja. Através desse Dom, o crente penetra nas profundezas do conhecimento de Deus (cf. Ef.1:17-19).

Segundo William Macdonald, Palavra da Ciência é o poder de comunicar informações reveladas por Deus, exemplificando em algumas expressões empregadas pelo apóstolo Paulo: “Eis que vos digo um mistério” (1Co.15:51) e “ainda vos declaramos, por palavra do Senhor” (1Ts.4:15).

No sentido principal de transmitir verdades novas, a Palavra da Ciência cessou, pois a fé cristã foi entregue de uma vez por todas aos santos (Jd.3); o corpo doutrinário cristão está completo. Em sentido secundário, porém, a Palavra de Ciência ainda está em vigor. Existe ainda uma misteriosa comunicação de conhecimento divino àqueles que vivem em comunhão íntima com o SENHOR (cf.Sl.25:14). A transmissão desse conhecimento a outros é a Palavra da Ciência.

2. Sua função

Este Dom é dado como provimento divino para servir em necessidade espiritual, para ocasiões especiais, como e quando bem parece ao Espírito de Deus. Como diz o pr. Elinaldo Renovato, “a manifestação deste Dom tem a finalidade de preservar a vida da Igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do maligno”.

É válido ressaltar que este Dom não tem o propósito de tomar o lugar devido ao estudo regular da Palavra de Deus. Segundo Estêvam Ângelo de Souza, “Não é bíblico admitir que um dom sobrenatural tenha o propósito de substituir o estudo sistemático da Palavra de Deus. Seria um erro muito sério presumir tal coisa (Mt.22:29). Por outro lado, temos a lamentar que muitos cristãos se mostram ávidos por ‘revelações’ e extremamente ‘interessados’ por obras escatológicas e negligenciam o estudo da doutrina bíblica, como considerando-a uma terceira ou quarta prioridade. Muitos erros e dolorosas desilusões seriam evitados mediante o conhecimento básico da Bíblia” (SOUZA, E. Â. Os nove dons do Espírito Santo. RJ: CPAD, 1985, pp.37,38,44,45).

Outrossim, não há nada neste Dom que o nivele a um mero exercício de adivinhação, como, lamentavelmente, se tem disseminado em muitos lugares. Não visa servir a propósitos triviais, como o de descobrir o significado dos tecidos do Tabernáculo ou a identidade da mulher de Caim, etc. Isto é mera curiosidade humana, e o dom de Deus não foi dado para satisfazê-la. A adivinhação não passa de uma imitação fajuta e irrazoável deste Dom, no mais das vezes sendo pura operação maligna (vide At.16:16); tal prática é abominável aos olhos do Senhor (Lv.20:27; Ez.12:24).

3. Exemplos bíblicos da Palavra da Ciência

Muitos são os exemplos bíblicos que poderiam ser citados. Vejamos alguns:

a) Profeta Eliseu – desmascarando Geazi, quando este cobiçou os bens de Naamã (2Rs.5:25,26):

 “Então, ele entrou e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: De onde vens, Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte. Porém ele lhe disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isso ocasião para tomares prata e para tomares vestes, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois, e servos, e servas?”.

b) Profeta Eliseu – quando revelou os planos de guerra do rei da Síria (2Rs.6:8-12). Quando o rei da Síria pensou em atacar o exército de Israel surpreendendo-o em determinado lugar, o profeta alertou o rei de Israel sobre os planos do rei da Síria, inimigo de Israel.

“E o rei da Síria fazia guerra a Israel; e consultou com os seus servos dizendo: Em tal e em tal lugar estará o meu acampamento. Mas o homem de Deus enviou ao rei de Israel, dizendo: Guarda-te de passares por tal lugar; porque os siros desceram ali. Pelo que o rei de Israel enviou àquele lugar, de que o homem de Deus lhe falara e de que o tinha avisado, e se guardou ali, não uma nem duas vezes.Então, se turbou com este incidente o coração do rei da Síria, e chamou os seus servos, e lhes disse: Não me fareis saber quem dos nossos é pelo rei de Israel? E disse um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir.

c) Profeta Eliseu – tem o conhecimento sobre a cura do rei da Síria, Bem-Hadade, e da sua sucessão ao trono (2Rs.8:7-12):

"Depois veio Eliseu a Damasco, estando Ben-Hadade, rei da Síria, doente; e lho anunciaram, dizendo: O homem de Deus é chegado aqui. Então o rei disse a Hazael: Toma um presente na tua mão, e vai a encontrar-te com o homem de Deus; e pergunta por ele ao Senhor, dizendo: Hei de sarar desta doença? Foi, pois, Hazael a encontrar-se com ele, e tomou um presente na sua mão, a saber: de tudo o que de bom havia em Damasco, quarenta camelos carregados; e veio, e se pôs diante dele e disse: Teu filho Ben-Hadade, rei da Síria, me enviou a ti, a dizer: Sararei eu desta doença? E Eliseu lhe disse: Vai, e dize-lhe: Certamente viverás. Porém, o Senhor me tem mostrado que certamente morrerá. E afirmou a sua vista, e fitou os olhos nele até se envergonhar; e o homem de Deus chorou. Então disse Hazael: Por que chora o meu senhor? E ele disse: Porque sei o mal que hás de fazer aos filhos de Israel; porás fogo às suas fortalezas, e os seus jovens matarás à espada, e os seus meninos despedaçarás, e as suas mulheres grávidas fenderás. E disse Hazael: Pois, que é teu servo, que não é mais do que um cão, para fazer tão grande coisa? E disse Eliseu: O Senhor me tem mostrado que tu hás de ser rei da Síria".

d) O profeta Daniel – Deus mostrou ao Seu servo, quando lhe revelou a interpretação do sonho de Babucodonosor, o que iria acontecer aos grandes impérios mundiais, a partir do império babilônico (Dn.2:2,3,17-19).

Trata-se de um caso bem emblemático do que significa receber o conhecimento, ou a revelação de Deus. O rei tivera um sonho muito estranho, que o perturbara sobremaneira, e ninguém soube interpretar o sonho, por uma razão muito óbvia: o rei não se lembrava do sonho! Mas Daniel, usando a Palavra da Ciência, de maneira didática, com precisão histórica, interpretou o sonho, mostrando ao rei o desenrolar dos acontecimentos de sua época e de eventos futuros.

A revelação dada a Daniel acerca dos impérios mundiais demonstra quão grande é a sabedoria de Deus, como recurso divino para ocasiões especiais, em que de nada adianta a sabedoria humana, ou os conhecimentos adquiridos pela experiência de quem quer que seja. Quis Deus utilizar-se de um rei estrangeiro ao seu povo para revelar segredos sobre acontecimentos que teriam lugar na história, na ocasião, e para o futuro. A visão de Nabucodonosor é uma referência à Escatologia, com base nas interpretações dadas pelo Altíssimo a Daniel seu servo, que estava vivendo naquele país, com uma missão de mais alto significado.

e) Apóstolo Pedro – quando desmascarou a mentira de Ananias e Safira (At.5:1-10). Naquele momento, o Espírito Santo revelou a Pedro, através da Palavra da ciência, o que Ananias e Safira haviam feito em segredo.

III. DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

 E a outro [...] o dom de discernir os espíritos”(1Co.12:10).

O Dom de Discernimento dos espíritos é uma capacidade sobrenatural dada por Deus ao crente para discernir a origem e a natureza das manifestações espirituais.

1. O Dom de Discernir os espíritos

O Dom de Discernimento dos espíritos é a capacidade sobrenatural dada por Deus ao crente para discernir se uma pessoa está falando pelo poder do Espírito Santo ou de Satanás. A pessoa que recebe esse Dom tem a capacidade especial de discernir, por exemplo, se alguém é um impostor ou oportunista. Pedro desmascarou Simão e revelou que o mágico se encontrava amargurado e preso por laço de iniquidade (Atos 8:20-23):

“Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade e ora a Deus, para que, porventura, te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade”.

Stanley Horton afirma que este dom "envolve uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e dos espíritos malignos" (cf. 1João 4:1).

“Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”.

É importante observar que o Dom do Discernimento é uma identificação súbita e momentânea, numa determinada situação, da operação espiritual, não se confundindo com o discernimento corriqueiro que todo cristão deve ter, por estar em comunhão com o Senhor e ter em si o Espírito Santo que o orienta a cada dia.

2. As fontes das manifestações espirituais

Segundo o pr. Elinaldo Renovato, as fontes de manifestações espirituais basicamente são três: Deus, o homem e o Diabo. Em determinadas ocasiões, uma manifestação espiritual pode apresentar-se no meio da congregação, ou diante de um servo de Deus, com aparência de verdadeira, mas na verdade é uma manifestação diabólica, ou artimanha de origem humana. Uma profecia, por exemplo, pode ser fruto da ordem divina ou da mente humana ou ainda de origem maligna. Como discernir isso? Pelo entendimento teológico e pela lógica humana nem sempre é possível avaliar a origem das manifestações espirituais; mas com o Dom de discernir os espíritos, o servo de Deus ou a igreja não será enganada. Certamente, o dom de discernir os espíritos tem o papel muito importante de preservar a saúde espiritual da congregação.

3. Discernindo as manifestações espirituais

O apóstolo João escreveu que os espíritos devem ser comprovados (cf.1João 4:1). E o Senhor Jesus advertiu os seus discípulos sobre os falsos profetas. Através do Dom de Discernimento pode-se saber a diferença entre uma manifestação espiritual legitima e uma falsa manifestação. Para caracterizar a legitimidade de uma manifestação espiritual é necessário passar por duas provas: a prova doutrinária e a prova prática.

-A prova doutrinária pode basear-se no ensino do apóstolo João, exarado em 1João 4:1-6:

“Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo. Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são; por isso, falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro”.

-A prova prática tem base no ensino de Jesus, quando advertiu acerca dos falsos profetas, que podem ser conhecidos pelos “seus frutos”, ou seja, pelo seu caráter, demonstrado em seu testemunho, na vida prática (cf. Mt.7:15-20). Podemos observar esse Dom sendo manifestado em várias ocasiões no ministério de Pedro e Paulo.

-Pedro desmascarou Simão, o mágico, e revelou que o mágico se encontrava amargurado e preso por laço de iniquidade – “Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade e ora a Deus, para que, porventura, te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade” (Atos 8:20-23).

-Paulo, na ilha de Pafos, por ocasião de sua primeira viagem missionária, confrontou-se com uma ação diabólica declarada com o objetivo de impedir a pregação do evangelho ali, e a conversão de uma autoridade pública. Mas o apóstolo, cheio do Espírito Santo, percebeu as artimanhas do Adversário, e, na autoridade de Deus, declarou que o opositor do evangelho ficaria cego por algum tempo, o que de pronto aconteceu. Por causa disso o procônsul creu (cf. Atos 13:12).

-Paulo, na cidade de Filipos, por ocasião de sua segunda viagem missionária, discerniu que uma jovem estava possessa de espírito adivinhador (Atos 16:16-24). O texto mostra a forma como Paulo agiu, quando estava “indo [...] para um lugar de oração”. A jovem saiu ao encontro dos missionários – Paulo e Silas - e, por muitos dias, seguia-os, dizendo: “estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação”. Sua proclamação era verdadeira, mas Paulo se recusou a aceitar o testemunho de demônios. Para um crente incauto, aquela mulher estava, de certa forma, ajudando a pregação de Paulo. Entretanto, devemos ter em mente que qualquer revelação que tenha por fonte o Diabo é uma revelação que, ainda que contenha uma parte de verdade, deve ser repreendida em nome do Senhor Jesus. Angustiado com a situação infeliz da jovem, o apóstolo ordenou no nome de Jesus Cristo que o demônio se retirasse dela. Na mesma hora, ela foi liberta daquela escravidão terrível e se tornou uma pessoa equilibrada e racional.

Nestes dias de tanto engano e de tanta atuação do “espírito do anticristo”, mais do que nunca, torna-se preciso e essencial que tenhamos o devido discernimento de tudo o que acontece à nossa volta e de tudo o que se quer introduzir no nosso meio. Devemos ter a mesma estrutura da Igreja de Éfeso que pôs à prova os que se diziam apóstolos, mas não o eram (Ap.2:2).

Quantos problemas seriam evitados na Igreja se funcionasse, correta e biblicamente, o Dom do Discernimento dos espíritos. A desonestidade do espírito humano, que leva comunidades inteiras a escândalos e desgraças, poderia ser evitada por alguém que tratasse desse espírito, revelando por discernimento o problema antes de se agravar.

Busquemos, pois, o Dom do discernimento dos espíritos, pois, conquanto seja o Espírito quem distribui os dons conforme o Seu querer (1Co.12:11), Ele necessita de pessoas bem-dispostas para que efetue a Sua obra (Lc.1:17). Se todos nos pusermos à disposição do Senhor, certamente escolherá alguns para que todos nós sejamos ricamente abençoados e evitemos ser tragados pelo engano destes dias difíceis em que vivemos.

CONCLUSÃO

Nestes últimos dias da Igreja, o povo de Deus necessita, mais do que nunca, da revelação profunda das coisas divinas, para discernir entre o certo e o errado, entre o legítimo e o falso, no que diz respeito às manifestações espirituais. Que o Senhor conceda ao seu povo os Dons de Revelação, principalmente aos líderes, para que eles presidam a Igreja local com segurança espiritual e doutrinária.