Texto Base: Mateus 28: 16-20; Atos 2:42-47
“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19).
Mateus 28:
16.E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado.
17.E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.
18.E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.
19.Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
20.ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!
Atos 2:
42.E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.
43.Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.
44.Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
45.Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade.
46.E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
47.louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.
INTRODUÇÃO
O Discipulado é, ao lado da evangelização, um dos dois pilares fundamentais da Igreja. São duas tarefas indissociáveis, impostas por ordem de nosso Senhor Jesus e que está exarado na passagem de Mateus 28:19,20. O Senhor Jesus disse aos seus discípulos que eles deveriam ir e “ensinar todas as nações”, expressão esta que, em algumas versões, é traduzida por “fazei discípulos”.
A Igreja deve pregar o Evangelho, mas é preciso, também, que ela “ensine”, “faça discípulos”, cuidado este que era patente nos tempos apostólicos, a ponto de os apóstolos terem chamado para si esta tarefa, considerando, inclusive, não ser razoável deixar de se dedicar à oração e ao ensino da Palavra (At.6:2,4), sem falar no zelo de Barnabé com relação à primeira igreja gentílica, a de Antioquia da Síria (At.11:25,26) e dos conselhos que Paulo dá a Timóteo no sentido de jamais se descuidar do ensino dos crentes (1Tm.4:12-16).
I. O QUE É O DISCIPULADO
Discipulado é aprender, ensinar a seguir e obedecer a Jesus. Quando alguém se converte a Cristo e nasce de novo, é um recém-nascido, é uma pessoa que não tem conhecimento a respeito das coisas de Deus, a respeito da vida com o Senhor Jesus. Embora tenha recebido uma nova natureza, embora seu espírito tenha se ligado novamente a Deus, ante a remoção dos pecados, é um ser humano e, como tal, precisa ser ensinado a respeito do Senhor, ensino este que deve ser proporcionado pela Igreja, que é a quem o Senhor cometeu esta tarefa sobre a face da Terra. Jesus é quem salva, mas é a Igreja quem deve “fazer discípulos”, quem deve “ensinar”. Jesus formou discípulos e nos deu a todos a ordem de formar mais discípulos, pelo mundo todo (Mt.28:19,20).
A maioria dos crentes não adquirem maturidade cristã suficiente ao longo de sua vida cristã, o que tem causado inúmeros desvios da fé e de caídas nas redes das falsas doutrinas. Desta feita, a função discipular deve ser contínua na Igreja. A EBD tem assumido, em parte, este papel tão importante; ela tem sido a mais icônica instituição discipuladora ao longo de sua existência, de forma contínua; milhões de pessoas foram e estão sendo beneficiadas espiritualmente e moldado o seu caráter nos padrões que o Espírito Santo requer ao um verdadeiro cristão. Sem dúvida, a EBD tem cumprido cabalmente a grande comissão estabelecida por Jesus Cristo, e que foi registrada por Mateus – “Portanto, ide, ensinai todas as nações [...]; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado[...]” (Mt.28:19,20). Como bem disse o Pr. Caramuru Afonso Francisco, “A EBD é a igreja reunida, ensinando enquanto evangeliza, e evangelizando enquanto ensina”.
1. O discípulo
Ser discípulo de Jesus significa ser um seguidor de Jesus, é aprender Dele e ser seu imitador. A conversão implica uma mudança de vida; não fazemos mais parte da multidão que apenas ouve a Palavra, mas nos tornamos discípulos praticantes da palavra (Tiago 1:22).
No tempo de Jesus, um discípulo era um aluno que estava aprendendo a ser como seu mestre; ele seguia seu rabi (mestre) por onde quer que ia, via o que fazia, ouvia o que ensinava e procurava se tornar como ele. Jesus falava às multidões, mas dava um ensino mais profundo e pessoal a seus discípulos (Mc.4:33,34). Os discípulos tinham um acesso privilegiado a Jesus porque tinham um compromisso sério com Ele, ao contrário do resto da multidão.
O que um discípulo de Jesus faz?
· Ama Jesus. O discípulo tem um relacionamento pessoal com Jesus; seu amor por Ele o leva a querer obedecer e aprender dEle (João 14:21).
· Aprende de Jesus. O discípulo é um estudante esmerado: estuda a Bíblia, ora e tenta ouvir o que Jesus lhe quer dizer; o Espírito Santo ensina o discípulo pessoalmente quando estuda a Palavra de Deus (João 14:26).
· Imita Jesus. O objetivo do discípulo é se tornar cada vez mais como Jesus, nosso maior exemplo; isso significa deixar o pecado e tentar fazer sempre o bem (Ef.5:1,2). O apóstolo Paulo exorta: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1Co.11:1).
· Obedece e segue Jesus. O discípulo põe em prática o que aprendeu, porque quer agradar a Jesus; o discípulo vai aonde Jesus manda ir; isso às vezes é difícil e exige sacrifício (Lc.14:27).
· Fala sobre Jesus. O discípulo de Jesus faz mais discípulos de Jesus; ele quer que outros conheçam Jesus e descubram como é bom ser seu discípulo (Mt.28:19,20).
· Convive com outros discípulos. A Igreja é um local onde os discípulos aprendem e crescem juntos; ir à igreja é essencial na formação do discípulo (Hb.10:25).
2. A Grande Comissão
Ensinar a Palavra de Deus faz parte da Grande Comissão. Jesus mandou fazer discípulos de “todas as nações” (Mt.28:19,20) – “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...”. Esta ordem de Jesus tem o sentido de “estar com” as pessoas e torná-las seguidora de Cristo. A intenção de Cristo não é que o evangelismo e o testemunho missionário resultem apenas em decisões de conversões. Os esforços evangelísticos não devem ser concentrados meramente em aumentar o número de membros da Igreja, mas, sim, em fazer discípulos que se separam do mundo, que observam os mandamentos de Cristo e que o seguem de todo o coração, mente e vontade (cf.João 8:31). Paulo foi um exímio formador de discípulo; o propósito do seu ensino era: “Cristo formado em vós” (Gl.4:19). Observe que ele não diz: Cristo informado em vós, mas “Cristo formado em vós”.
É bom afirmar que uma Igreja só se envolverá de maneira séria e responsável com a Grande Comissão, quando estiver sob forte poder e unção do Espírito Santo. No princípio da Igreja, a evangelização atingiu o máximo quando vivia um avivamento sem precedentes até então, a saber, o derramamento do Espírito Santo (At.2:1-4). Essa unção extraordinária modificou a estrutura espiritual de um grupo de homens assustados em verdadeiras brasas ardentes, e os levou a testemunharem do amor de Deus com o sacrifício de suas próprias vidas.
3. A educação cristã
“Educação Cristã é o processo Cristocêntrico, baseado na Bíblia e relacionado com o estudante, para comunicar a Palavra de Deus através do poder do Espírito Santo com o propósito de levar outros a Cristo e edificá-los em Cristo” (Roberto Pazmino).
A educação cristã tem como proposta desenvolver processos de ensino e aprendizado de valores, crenças e práticas que estejam de acordo com os ensinamentos bíblicos. Ela pode ocorrer em diversos ambientes e nos mais diferentes cenários, especialmente nos tempos de internet onde o conhecimento parece não ter mais limites.
Alguns poderão imaginar que a educação cristã é aquela que é desenvolvida nas escolas ou faculdades cristãs, através de currículos e cursos formais, mas ela vai muito além disso. É verdade que existem escolas confessionais que tem como proposta oferecer uma educação fundamentada nos valores cristãos; isto é muito bom, e é uma pena que todas as escolas, inclusive as públicas, não fazem isso. Mas, a educação cristã pode ser definida e exemplificada de outra forma também. Três bons exemplos são a Escola Bíblica Dominical, a educação doméstica e a boa literatura cristã - a leitura de bons livros pode nos ajudar muito no crescimento espiritual e melhorar nossa compreensão de mundo e do papel que temos de exercer.
II. O TRIPÉ DO DISCIPULADO: PALAVRA, COMUNHÃO E SERVIÇO
O Triplé do discipulado bíblico é composto de Comunhão, Palavra e Serviço. Isto era a marca da Igreja no seu princípio, e isto deve continuar valendo na Igreja nestes tempos pós-modernos, senão não há como sermos diferentes das sociedades secularizadas.
1. A Palavra
A Igreja tem a missão de ensinar a Palavra de Deus aos que se converteram, a fim de que possam eles crescerem espiritualmente e alcançar a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13). Este ensino é uma de suas tarefas principais, que entendemos seja de igual importância que a tarefa de evangelização, até porque é complemento necessário e indispensável da evangelização.
A maturidade espiritual do cristão não ocorre de modo rápido e instantâneo, mas progressivamente em Cristo (Cl.1:28,29). Para que conservemos em nossas igrejas os novos convertidos em Cristo, precisamos trabalhar com amor, dedicação e objetividade. Muito da imaturidade espiritual dos membros da Igreja local é resultado da ignorância destes em relação às doutrinas básicas da Bíblia. É o que se denota nos destinatários da carta aos Hebreus: “Porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido. Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”(Hb.5:12-14).
Portanto, o discipulado nada mais é que ensinar a Palavra de Deus aos novos convertidos, àqueles que aceitaram a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas, e fazer com que eles, que foram escolhidos por Deus, possam viver de tal maneira que deem o fruto do Espírito, ou seja, tenham um novo caráter, uma nova maneira de viver que leve as pessoas a glorificar ao nosso Pai que está nos céus, ou seja, vivam de tal maneira que suas ações os transformem em testemunhas de Jesus, em prova de que Jesus salva e, por isso, outras pessoas reconheçam o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, a saber, o Evangelho (Rm.1:16).
2. A Comunhão (At.2:42)
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
A palavra “comunhão” é uma expressão típica da Igreja, tanto que sé é encontrada nas Escrituras Sagradas em o Novo Testamento e, mais especificamente, após a “inauguração” da Igreja a partir do dia de Pentecostes do ano 30. Seu primeiro aparecimento na Bíblia é em At.2:42, na primeira descrição deste novo povo de Deus, a Igreja, quando se diz que os crentes perseveravam na doutrina dos apóstolos e na “comunhão”. Comunhão é a tradução da palavra grega “koinonia”.
“A Bíblia de Estudo Plenitude aponta o significado desta palavra como sendo: compartilhamento, uniformidade, associação próxima, parceria, participação, uma sociedade, um companheirismo, fraternidade, dizendo tratar-se de uma uniformidade realizada pelo Espírito Santo. Em koinonia, o indivíduo compartilha o vínculo comum e íntimo do companheirismo com o resto da sociedade cristã. Koinonia une os crentes ao Senhor Jesus e uns aos outros” (BÍBLIADE ESTUDO PLENITUDE. Palavra-chave: comunhão, p.1109).
A “comunhão” é um efeito da salvação, uma consequência de termos nos arrependidos dos nossos pecados, crido em Jesus como nosso único e suficiente Salvador e, em virtude disso, passado a ter um novo modo de viver, uma nova direção em nossas vidas (conversão), o que é possível porque somos perdoados dos nossos pecados, tornados justos por Deus (a justificação), separados do pecado e de seu domínio (a santificação posicional). Antes, estávamos longe de Deus, mas, pelo sangue de Cristo, chegamos perto (Ef.2:13) e, por isso, passamos a integrar este novo povo, a Igreja, o grupo daqueles “reunidos para fora”. Destarte, passamos a viver separados do mundo, mas unidos a Cristo e aos irmãos, união esta que é a “comunhão”.
Esta “comunhão” significa “tornar comum”, ou seja, “tornar de todos”, aquilo que somente Jesus Cristo tinha, que era a qualidade de não ter pecado e, portanto, ser um com o Pai (João 10:30;17:22). Como Jesus nunca pecou, mantinha, enquanto homem, uma estrita comunhão com o Pai, pois o que faz divisão entre o homem e Deus é o pecado (Is.59:2). Como não havia pecado da parte de Cristo, nada impedia que Ele e o Pai estivessem em plena unidade, fossem um, tivessem comunhão, e é por isso que nós, na medida em que cremos em Jesus e temos removidos os nossos pecados, também podemos ter esta mesma comunhão, e se realize, assim, o anseio e desejo do Senhor manifestado na Sua oração sacerdotal, de sermos “perfeitos em unidade” (João 17:23).
Portanto, “Comunhão” é passar a compartilhar dos sentimentos, propósitos e desígnios de Deus, é ser “participante da natureza divina” (2Pd.1:4), é ser “vara da videira verdadeira” (João 15:4,5).
O salvo, ao alcançar a salvação, passa a ter em comum a natureza divina, ou seja, passa a ser santo, a se separar do pecado, a abominá-lo, e a ter os mesmos desejos, pensamentos e sentimentos divinos em suas atitudes, sendo, portanto, um instrumento, consciente e livre, para a manifestação do amor divino aos demais seres humanos. Que assim seja!
3. A Comunhão na Igreja de Jerusalém (At.2:44)
“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”.
A Igreja, logo nos seus primeiros dias, mostrou ao mundo uma verdadeira lição de comunhão. Os irmãos se reuniam com frequência e tinham tudo em comum. O amor de Deus derramado em seu coração era tão poderoso que não consideravam as propriedades materiais exclusivamente suas (Atos 4:32). Sempre que havia uma necessidade verdadeira em seu meio, uma propriedade pessoal, era vendida e a renda era distribuída. Havia, portanto, igualdade. Encontravam-se unidos de tal modo que tinham tudo em comum, não por lei ou coerção externa que teria estragado tudo, mas pela consciência daquilo que todos eles eram para Cristo e Cristo era para todos eles.
A comunhão apresenta-se, pois, como a principal característica da Igreja, a sua marca perante a humanidade, a característica indispensável para que o Senhor possa realizar a Sua obra através do Seu povo. Pela comunhão, a Igreja mostra-se como um povo perante os demais seres humanos e, graças a ela, pode cumprir todas as tarefas determinadas a ela. Tanto assim é que o relato de Lucas a respeito da Igreja no seu princípio termina com o cumprimento da principal missão da Igreja: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”(At.2:47).
4. Serviço
Serviço cristão é o trabalho amoroso e sacrifical que o crente em Cristo consagra ao Senhor, tendo em vista à expansão do Reino de Deus e à edificação do Corpo de Cristo. A vida cristã é uma vida de serviço, de um serviço em todas as áreas da vida, de um cumprimento de tarefas determinadas pelo Senhor e da qual prestaremos contas quando chegarmos à eternidade.
A palavra servir tem uma tonalidade de submissão. Entre os militares, essa expressão é muito comum, como, por exemplo: “Estou servindo no Aeroporto Pinto Martins”. Outros militares falam: “Estou servindo em Fortaleza, Belém etc.”. Dá a ideia de submissão a uma autoridade superior. Da mesma maneira os cristãos servem ou devem servir ao Senhor. No princípio da Igreja, o serviço cristão estava representado na perseverança no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (Atos 2:42-47). É isso que Deus mais requer de nós enquanto estivermos aqui na Terra.
Portanto, o serviço é uma parte indissociável da vida do salvo. Todo salvo tem de servir a Deus, tem de Lhe prestar um serviço e, para que não houvesse qualquer dúvida a respeito, o próprio Jesus foi chamado de “o Servo do Senhor”, notadamente no livro do profeta Isaías, onde há “quatro cânticos do Servo” (Is.42:1-4; 49:1-6; 50:4-9 e 52:13-53:12), a fim de nos dar o exemplo de como deveríamos nos comportar enquanto Igreja, enquanto corpo de Cristo (1Co.12:27).
Em resumo, cada um na função que foi estabelecida pelo Senhor, temos de servi-lo: pregando o Evangelho; ensinando; integrando os salvos na Igreja local; aperfeiçoando os santos mediante o estudo da Palavra de Deus; adorando a Deus; buscando influenciar o mundo para que ele viva de acordo com a vontade de Deus; dando um bom testemunho para que os homens glorifiquem ao Senhor, inclusive ajudando ao próximo, tanto material quanto espiritualmente; lutando pela preservação da sã doutrina e pela manutenção de uma vida avivada na Igreja local a que pertencemos. Temos feito isto que o Senhor nos determina? Temos cumprido as tarefas cometidas pelo Senhor?
“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para as pessoas, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Cl.3:23,24).
III. O DISCIPULADO E O CRESCIMENTO SADIO DA IGREJA
A Igreja é um edifício, e a característica especial desse edifício é que ele “cresce” (Ef.2:21) - “no qual todo o edifício, bem-ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef.2:21). No entanto, essa característica não é como o crescimento de um edifício que vai sobrepondo mais tijolos e cimento; é o crescimento de um organismo vivo, tal como o corpo humano. Afinal, a Igreja não é um prédio inanimado; também não é uma organização; trata-se de uma entidade viva em Cristo, um Corpo formado por todos os crentes. Sendo um organismo vivo, precisa de alimento, e o alimento desse organismo vivo é a Palavra de Deus. O discipulado contínuo e permanente é o padrão perfeito para o crescimento sadio da Igreja.
1. O crescimento espiritual
O salvo é nascido da água e do Espírito, ou seja, é gerado de novo por causa da Palavra de Deus, a que ele deu crédito e que proporcionou a regeneração (Ef.5:23; Tt.3:5), mas é indispensável que, além de termos nascido, nós, também, tenhamos crescimento espiritual, crescimento este que se dá somente pela graça e pelo conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Ef.4:15,16; 2Pd.3:18). Para que haja crescimento espiritual, portanto, é necessário que a Igreja ensine os crentes a ter uma vida espiritual, que ensinem aos crentes o que é viver com Cristo, o que é andar segundo o espírito, o que é ser um genuíno e autêntico discípulo de Jesus. Quem deve ensinar tais coisas ao que aceitou a Cristo é a Igreja, pois para isto é que o Senhor edificou a Sua Igreja.
Quando uma pessoa nasce de novo, encontra-se na mesma posição de Lázaro ressuscitado. Jesus, depois de quatro dias, quando o corpo de Lázaro já estava em decomposição, mostrou o Seu poder sobre a morte, fazendo-o ressurgir dos mortos. Milagrosamente, Lázaro saiu da sepultura com vida. Entretanto, é interessante notar que Lázaro foi para fora da sepultura, mas se encontrava ainda todo enfaixado, conforme os costumes judaicos de preparação do cadáver. Jesus não determinou que Lázaro fosse daquele jeito para casa nem tampouco se incumbiu de desligar o ex-defunto; Ele mandou que aquelas pessoas que estavam ali vendo o milagre tratassem de tirar as faixas de Lázaro, de modo que ele próprio (Lázaro) fosse para a sua casa (João 11:44). Assim ocorre com o novo convertido: só Jesus pode trazê-lo à vida, ou seja, salvá-lo; mas cabe a nós que estamos com Jesus neste mundo tomar as providências necessárias para que o novo crente se desligue de tudo aquilo que estava relacionado com a vida sem Cristo, ou seja, com a morte espiritual, para que ele, individualmente, siga em direção à sua casa, onde já o aguarda o Salvador. Aleluia!
2. O crescimento numérico
O crescimento quantitativo sempre deve ser em decorrência do crescimento qualitativo. O processo do discipulado proporciona à Igreja, além do crescimento espiritual, o crescimento quantitativo (At.9:31). Crescimento numérico sem que, antes, tenha havido um crescimento espiritual, não é crescimento, é “inchamento”, cujos efeitos são altamente prejudiciais à obra de Deus, como aconteceu com a Igreja a partir do Edito de Milão, em 315, que deu origem a Igreja católica romana, que abriu as portas ao paganismo e, consequentemente, ao desvio espiritual.
Concordo com o Pr. Hernandes Dias Lopes, quando afirma que atualmente:
- “Estamos vendo o crescimento de uma igreja ufanista e triunfalista, que se encanta com seu próprio crescimento numérico ao mesmo tempo em que se apequena na vida espiritual - uma Igreja que explode numericamente, mas se atrofia espiritualmente; uma igreja que tem cinco mil quilômetros de extensão, mas apenas cinco centímetros de profundidade; uma igreja que se vangloria de produzir dezenas de Bíblias de estudo, mas produz uma geração analfabeta em Bíblia”.
- “Estamos vendo crescer em nossa pátria uma Igreja sincrética, mística que prega um outro evangelho, um evangelho diferente que, de fato, não é evangelho. Uma igreja que prega o que povo quer ouvir e não o que o povo precisa ouvir. Uma igreja que prega prosperidade, mas não salvação; que prega milagres, mas não a cruz. Uma igreja centrada no homem, e não em Deus”.
- “Precisamos desesperadamente voltar ao primeiro amor. Precisamos de um reavivamento que nos traga de volta o frescor da vida abundante em Cristo Jesus. Precisamos desesperadamente do revestimento e do poder do Espírito Santo. Precisamos de uma Igreja fiel que prefira a morte à apostasia. Uma Igreja santa que prefira o martírio ao pecado. Uma Igreja que ame a Palavra mais do que o lucro. Uma Igreja que chore pelos seus pecados e pelas almas que perecem, e não pelas dificuldades da vida presente. Precisamos de uma Igreja que tenha visão missionária e compaixão pelos que sofrem. Uma Igreja que tenha ortodoxia e piedade, doutrina e vida, discurso e prática. Uma Igreja que pregue aos ouvidos e aos olhos”.
3. O exemplo da Igreja da Antioquia da Síria
Os crentes da Igreja de Antioquia da Síria eram gregos (Atos 11:20,21). A Igreja de Jerusalém sabendo que ali existiam crentes novos, enviou até lá Barnabé para discipulá-los (Atos 11:22). A Igreja de Jerusalém enviou a Antioquia não um apóstolo, mas Barnabé, o seu melhor pastor, um homem de alma generosa, um líder experiente, um judeu helenista com o melhor perfil e visão para alavancar a obra missionária entre os gentios. A vida de Barnabé era a base de sustentação do seu ministério. Ele estava sempre investindo na vida das pessoas. Era um homem bom. Estava vazio de si mesmo e cheio do Espírito Santo. Caminhava não segundo seu entendimento, mas pela fé. O resultado foi que muita gente se uniu ao Senhor. O Evangelho, quando adornado pelo exemplo, produz resultados excelentes. A ortodoxia precisa ser revestida de piedade. Para discipular, a Igreja tem a responsabilidade de escolher o melhor para esta tarefa.
Barnabé não criou obstáculos para receber os gentios na comunhão da Igreja nem ergueu muros de preconceito por causa de escrúpulos judaicos. Ao contrário, alegrou-se ao ver a graça de Deus prosperando e agindo na vida dos gentios e exortou todos a permanecerem firmes no Senhor. Barnabé era um líder entusiasmado com a obra de Deus.
Barnabé encontrou Paulo, levou-o consigo para Antioquia, e naquela Igreja ensinaram a uma multidão imensa durante todo um ano. O resultado foi extraordinário (Atos 11:26). Como resultado, os crentes gentios passaram a imitar de tal forma a Jesus que foram apelidados de cristãos - gente parecida com Cristo. Até agora, Lucas se referia a eles como discípulos (Atos 6:1), santos (Atos 9:13), irmãos (Atos 1:16;9:30), fiéis (Atos 10:45), os que estavam sendo salvos (Atos 2:47) e os seguidores do Caminho (Atos 9:2). Agora, Lucas passa a chamá-los de cristãos (Atos 11:26) – “E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos 11:26).
Desta forma, a Igreja de Antioquia deu um grande exemplo de como deve-se cumprir a principal obrigação da Igreja, que é o discipulado, fazer discípulos, cumprindo assim a Grande Comissão.
CONCLUSÃO
A urgência do Discipulado deve ser a preocupação principal e essencial nestes últimos dias da Igreja. Caso contrário, veremos a Igreja inchar, mas não crescer espiritualmente. A Igreja é um organismo vivo, e assim sendo deve ser alimentada com o melhor alimento para que cresça de forma sadia e virtuosamente. A Igreja, portanto, tem uma função importantíssima e indelegável: o de ensinar as pessoas a servir a Cristo, a caminhar com o Senhor. Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é preciso que conheça as Escrituras, pois são elas que testificam de Cristo (Jo.5:39). Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é necessário que não erre, e somente não erraremos se conhecermos a Palavra do Senhor (Mt.22:219; Mc.12:24). Por isso, a tarefa de ensino da Igreja é a do ensino da Palavra de Deus, do ensino das Escrituras. Então, mãos à Obra!